ara Ilan Goldfain, o risco mais direto à economia brasileira é a alta dos Juros nos países desenvolvidos
O presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, considera que o Brasil tem amortecedores para aguentar eventuais solavancos da economia mundial. “O risco que acho mais direto é a subida de Juros nos países avançados”, disse ontem Goldfain a jornalistas entre uma reunião e outra no encontro ministerial do G20 (grupo das 20 maiores economias do mundo), em Buenos Aires. O temor é que essa normalização da política monetária não aconteça tão suave como se imagina e afete os fluxos internacionais de capital para os emergentes.
Goldfajn citou as elevadas reservas internacionais do Brasil, que somam 20% do Produto Interno Bruto (PIB), e o volume de investimento externo direto, que chega a 3,5%. Além disso, a economia brasileira teve ajuste nas contas externas e o Déficit no balanço de transações correntes é de apenas 0,5% do PIB, disse ele.
“Normalização suave da política monetária nos países desenvolvidos é sempre bem-vinda”, afirmou o presidente do BC, ressaltando que é preciso ter cuidado para que esse processo não provoque sobressaltos que afetem os fluxos de capital. Para isso, os emergentes precisam construir seus amortecedores de proteção, coisa que o Brasil já fez.
A situação da economia global é benigna e o crescimento está em todos os cantos do mundo, disse Goldfain ressaltando que o Brasil também voltou a crescer, mas há riscos para o cenário internacional. “Não houve ainda
sobressaltos para mudar esse cenário benigno no mundo.”
Por conta da proximidade da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que começa hoje e termina amanhã, Goldfajn preferiu não comentar temas ligados à economia brasileira e à política monetária.
Protecionismo Sobre a reunião do G20,o presidente do BC disse que a postura do Brasil será colaborativa e o encontro, como é de praxe, deve ter discussões sobre os riscos futuros da economia.
O aumento do protecionismo na economia mundial e o temor de uma guerra comercial devem ser um desses tópicos, disse Goldfajn. “Comércio não é algo que está na pauta explicitamente, talvez seja discutido como um risco global.”
Outro tema é se o crescimento da economia mundial vai continuar no ritmo atual e também a normalização da política monetária nos países desenvolvidos. “Os países do G20 não podem ser complacentes e precisam monitorar este processo,” disse o presidente do BC. No caso do comércio, o papel do G20 é garantir que o papel do comércio mundial continue saudável e siga contribuindo para o crescimento global.
Goldfajn destacou que as “criptomoedas” serão outro tema do encontro do G20, que prefere em sua agenda usar o termo “criptoativos”. O presidente do BC destacou que o Brasil não vai regular por enquanto esses ativos, mas vai monitorar o mercado e o que outros países estão fazendo.
Os países do G20 não podem ser complacentes com a lavagem de dinheiro e evasão fiscal, ressaltou Goldfajn, destacando que as moedas virtuais poder ser usadas com esse fim, por isso, precisam ser monitoradas.
Educação e Infraestrutura
A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) voltou a recomendar ontem ao Brasil maior empenho em educação e infraestrutura e menor distorção fiscal e protecionismo. No relatório Going for Growth (A Caminho do Crescimento), que foi apresentado aos presidentes de Bancos Centrais e ministros das Finanças do G20, a instituição praticamente repete as sugestões apresentadas há quase um mês, quando divulgou um documento específico para o Brasil, em Brasília.
“Força de trabalho mais educada, melhor infraestrutura e menos distorções fiscais são chaves para suportar melhorias de produtividade”, enumerou a entidade, que tem sede em Paris. “Reduzir as barreiras comerciais também continua a ser uma prioridade para o Brasil, a fim de aumentar a exposição à concorrência internacional e fortalecer incentivos para melhorias de produtividade”, continuou no documento que foi antecipado para a imprensa.
Para a OCDE, para conciliar a necessidade de novas reduções na desigualdade de renda com a diminuição do espaço fiscal, a despesa social deve concentrar–se mais nos instrumentos de políticas eficientes, em particular nas transferências monetárias condicionadas. Isso, conforme a Organização, aceleraria o declínio da desigualdade de renda sem gastar mais.
A instituição detectou que a recuperação do Produto Interno Bruto (PIB) per capita em relação aos países mais avançados da OCDE está paralisada nos últimos anos, principalmente devido ao fraco desempenho da produtividade do trabalho. “A desigualdade e a pobreza ainda são elevadas, mas diminuem, embora em ritmo decrescente mais recentemente”, salientou.
Entre os pontos citados pela entidade como sugestão, está o aumento da eficácia dos benefícios sociais, redirecionando os gastos para transferências condicionadas aos pobres, considerado o instrumento mais eficiente para reduzir a desigualdade de renda. A OCDE também acredita que é preciso acabar com a indexação de pensões mínimas e benefícios sociais ao salário mínimo para evitar grandes aumentos de gastos reais e reavaliar a eficácia de outros benefícios indexados ao salário mínimo, incluindo o abono salarial.
O segundo ponto é melhorar os resultados e a equidade na educação por meio de melhor remuneração dos professores, treinamento em serviço e incentivos de desempenho. Assegurar a escolaridade integral em todo o País e construir mais escolas onde for necessário fazem parte deste tópico, assim como ampliar os programas de treinamento profissional para enfrentar a escassez de habilidades e reduzir as taxas de abandono escolar.
O terceiro diz respeito à redução de barreiras ao comércio, diminuindo as tarifas e requisitos de conteúdo local. “Isto irá melhorar o acesso a insumos intermediários importados e fortalecer as pressões competitivas sobre os produtores nacionais”, avaliou a OCDE. Como ponto positivo, a instituição ressaltou que algumas exigências de conteúdo local para projetos de investimento na área de combustível fóssil foram reduzidos.
Como quarto ponto, a Organização cita a necessidade da queda de distorções no sistema fiscal por meio da consolidação de impostos indiretos nos níveis estadual e federal e trabalhar com um Imposto sobre o Valor Acrescentado com base ampla (IVA), que deve ser totalmente reembolsado no caso das exportações.
Por fim, a instituição defendeu o aumento do investimento público e privado no setor de infraestrutura, melhorando a capacidade técnica e planejamento para concessões da área e elaboração de projetos de licitação mais detalhados antes do lançamento dos leilões. (Estadão Conteúdo)
Fonte: Jornal do Brasil