
O REGIME DE METAS DE INFLAÇÃO E O “RHUM CREOSOTADO” (PARTE II)
Se o debate sobre inflação fosse civilizado, ele seria assim: vale a pena perseguir uma inflação tão baixa, raramente vista na história do país, justamente em um momento em que todos os bancos centrais do mundo estão com dificuldades de controlar a alta de preços e se repensa a meta de inflação ideal?
Por outro lado, qual é o custo de ter uma inflação consistentemente acima da registrada pelos países desenvolvidos?
É o que vamos discutir aqui.
A mudança da meta.
A meta de inflação é uma decisão política tomada pelo governo eleito.
Quem decide o alvo a ser perseguido é o Conselho Monetário Nacional (CMN), um órgão formado neste momento por três pessoas: os ministros da Fazenda (hoje Fernando Haddad) e do Planejamento (Simone Tebet), mais o presidente do Banco Central (Gabriel Galípolo).
O CMN aprova a meta de inflação, o BC tem autonomia para decidir como vai cumpri-la.
Em outras palavras: quando a inflação desvia da meta, a autarquia resolve o quão rápido mexerá na taxa de juros para conduzir os preços de volta ao alvo esperado.
A decisão de baixar a meta de inflação brasileira para 3% ao ano foi tomada em um período em que o ministro Paulo Guedes tinha dois dos três votos do CMN.
O ministério do Planejamento havia sido extinto, e a vaga no Conselho foi para um subordinado de Guedes.
Uma reportagem do jornal Valor Econômico, publicada em 2019, mostrou que as decisões de redução na meta não foram apoiadas em nenhum estudo técnico.
A intenção de Guedes era aproximar o Brasil dos emergentes latino-americanos que integravam a OCDE.
No entanto, essa meta não tem sido atingida.
O estouro do teto pela inflação em 2024 completou um feito: foi o oitavo ano em que a variação dos preços ficou fora dos limites de tolerância definidos desde que foi instituído no país o regime de metas para a inflação, em junho de 1999.
Existem algumas explicações econômicas para isso.
Nos países em desenvolvimento, como o Brasil, a população gasta uma parte maior da renda com comida – e alimentos sofrem mais oscilações de preços, um reflexo de quebras de safras causadas por secas e enchentes.
Isso, por si só, já faz com que a inflação seja mais alta do que em países ricos.
Os países em desenvolvimento também sofrem mais com as oscilações do câmbio – um problema que virtualmente não existe para os Estados Unidos, e que conta pouco nos países com moeda forte.
Justamente por causa da volatilidade maior é que o Brasil deveria ter não só uma meta de inflação mais alta, como também uma faixa de oscilação maior, avalia o economista André Roncaglia.
Uma tolerância a oscilações maiores daria mais flexibilidade ao Banco Central para esperar antes de subir juros de maneira agressiva, como vem ocorrendo.
“Eu gosto de comparar a meta de inflação com uma maratona. Os corredores têm um limite máximo de frequência cardíaca, e eles precisam parar quando superam os batimentos. Uma meta de inflação muito baixa de batimentos para a economia. E isso impõe a necessidade de freá-la de maneira recorrente”, afirma o economista (Revista VOCÊ S/A, edição de 10.03.2023).
Ou seja, segundo Roncaglia, estamos querendo colocar os parâmetros cardíacos de um superatleta para uma economia que não tem a menor condição de alcançá-los, a não ser correndo o sério risco de provocar um “ataque cardíaco catastrófico” na nossa economia.
A redução forçada da meta de inflação trouxe efeitos deletérios para a economia.
Um estudo do próprio Banco Central, realizado em 2019 – e publicado na Revista VOCÊ S/A, edição de 10.03.2023 – mostrou que o alvo mais baixo de inflação levou a um aumento do juro real de longo prazo do país, tornando mais difícil fazer investimentos na economia real – isto é, em coisas produtivas, em vez de títulos da dívida do governo.
Vale dizer, a economia já estava dando sinais de que não comportaria uma meta de inflação mais baixa, e mesmo assim continua-se forçando a queda.
O tratamento do nosso “Rhum Creosotado” é assim: o importante é a meta de inflação, e, quanto mais baixa, melhor para o mercado financeiro e pior para a economia nacional.
PEC-65: RUIM PARA O SERVIDOR DO BC, PIOR PARA O BRASIL!
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