BOCA PAULISTA ELETRÔNICO nº 1, de 30.05.07: Questão salarial e moral
BOCA PAULISTA ELETRÔNICO
São Paulo, 30 de maio de 2007 – nº 1 |
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QUESTÃO SALARIAL E MORAL Desde o início do processo que visa à equiparação salarial, muitos dos novos – especialmente os que optaram por não entrar em greve – suscitaram questões que vão além da remuneração. A primeira delas se relaciona com o estágio probatório: diz respeito ao medo de que a participação na greve comprometa a primeira avaliação de desempenho. Nunca é demais lembrar que mesmo quem exerce coerção sobre seus subordinados será beneficiado com as conquistas obtidas com a greve. Questionam-se os métodos, mas não os resultados, em uma clara e depravada demonstração de incoerência. A verdade é que não é interessante para o governo começar um expurgo no quadro de funcionários, especialmente quando estes estão sob a política coesa de um Sindicato de âmbito nacional. Além disso, se o caminho do processo administrativo for escolhido, existem inúmeros instrumentos legais para a defesa do funcionário. Há ainda a questão dos custos, financeiros e também de perda de conhecimento, que envolvem a exoneração e a substituição de pessoal. Exigir equiparação às categorias congêneres, que foram beneficiadas com reajustes maiores que o nosso, não é mera questão de revanchismo: se o governo não reconhecer a importância da atuação do BC no País, as pessoas acabarão por migrar para outras carreiras e, com isso, minar a base de conhecimento necessário para o bom andamento das atividades do Banco de maneira irremediável. Cabe lembrar que praticamente metade dos atuais servidores está para se aposentar nos próximos anos, pessoas essas que alçaram o Banco ao status de que hoje desfruta. Quanto ao salário em si, muitos novos alegam que é bom. Discordamos: ele está bom. Diante da perspectiva oferecida pelo PAC, é de se indagar se as porcentagens oferecidas, atreladas ao IPCA, serão suficientes para manter nosso poder de compra no próximo decênio. A vida muda a cada minuto. Os jovens solteiros continuarão a morar com os pais nos próximos anos? E os que têm família? As despesas de filhos e dependentes se manterão no mesmo nível? E, principalmente, a carga de trabalho e de responsabilidades continuará condizente com o que é recebido? Por fim, podemos fazer um paralelo da atitude dos que não aderiram à greve com a postura do brasileiro em relação à política. Pagamos 0,8% de nossos vencimentos para que o pessoal do SINAL lute por nossos direitos. Contudo, em vez de participarmos ativamente com idéias, sugestões e críticas para direcionar a atuação do Sindicato, esperamos passivamente que os acontecimentos venham ao encontro de nossos interesses. Caso isso não ocorra, expressamos nossa insatisfação de maneira tardia a ‘ouvidos moucos'. Ou, pior, omitimo-nos. Não é preciso muita imaginação para transpor esse raciocínio para o que ocorre a cada eleição. Só que há uma diferença. Enquanto, na esfera política nacional, votamos com o grosso da população – o que invariavelmente nos presenteia com representantes indesejados -, no âmbito da Casa somos a classe A segundo o IBGE, composta por formadores de opinião, dada a nossa escolaridade. Se deixarmos que o cinismo ou o ceticismo sobreponha ao objetivo final de termos um corpo de funcionários motivados que cresçam junto com a Instituição, então só teremos nós mesmos a culpar pela descrença ao nosso redor. E é bom salientar que esperar o final do período do estágio probatório será inútil, pois o PAC e o cerceamento do direito de greve dos funcionários estarão vigentes há pelo menos um ano. Essa greve se torna algo além da equiparação salarial. É um referendo sobre nós mesmos, enquanto funcionários do Banco Central e cidadãos. Nessa hora, é mais do que válido reafirmar que é a atuação das pessoas, não a execução de políticas unilaterais por parte do governo, que trará o progresso a todos. Marcelo Hiramatsu Azevedo Analista |
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