BOCA PAULISTA ELETRÔNICO nº 41, de 31.8.11: Juros altos, inflação e poder de compra (parte1)
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NOTA Apresentamos abaixo a primeira parte de artigo dos conselheiros José Paulo Vieira e Ricardo Luis Piccoli, respectivamente Diretor Financeiro e Diretor de Comunicação da Regional São Paulo. O assunto é oportuno e importante, pelo que recomendamos a leitura. Conselho Regional do Sinal-SP |
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JUROS ALTOS, INFLAÇÃO E PODER DE COMPRA (parte 1) Ricardo Luis Piccoli/GTSPA José Paulo Vieira/DESUP O Brasil convive, desde há muito, com altos índices de miséria. Não obstante conhecida, mensurada e analisada, pouco se fez para acabar com essa chaga social. Um artigo instigante1 demonstra a redução do “índice de miséria” no Brasil, de 30% em 2003 para 12% em 2011. Notável, embora não inédita, é a conclusão que o autor chega. Essa massa de miseráveis, que agora consegue minimamente se integrar à economia, é a maior responsável pelo aumento do consumo no país. Esse consumo é, ao final, o causador das atuais pressões inflacionárias. Diagnostica-se, então, assimetricamente, que, para ajustar a inflação a níveis “aceitáveis”, há que se refrear o consumo dos pobres, ou seja, deve-se parar com essa história de redução da miséria! Nos últimos anos, o país floresceu, se desenvolveu, ganhou projeção mundial, se estabilizou. Com isso, nada mais justo que integrar mais pessoas a esse mercado de trabalho. Todavia, com a intensa geração de postos de trabalho, cresce o poder de barganha dos assalariados por melhores salários.
Surge aí um hiato, amplificado pelas análises convencionais: consumo e salários estão pressionando a inflação, e isso tem de ser revertido. O alvo já foi escolhido: os novos cidadãos, aqueles “um pouco menos miseráveis” são agora considerados os responsáveis pela atual “exacerbação” do consumo. Aciona-se o tão conhecido “remédio” do aumento dos juros para “conter a demanda” – leia-se, o consumo da classe média e dos pobres – e, assim, reduzir o emprego e pressionar os salários. Devolvendo-se os “novos consumistas” à sua miséria de origem, “seu lugar adequado”, pode-se obter uma discutível redução da inflação. Mas na prática o risco é o de estancar o recente ciclo virtuoso de crescimento que o País recém iniciou. A “inteligência” desta argumentação é que, assim, o problema da inflação “ficaria resolvido” com o sacrifício das classes médias (vide EUA e Europa) e da devolução dos miseráveis ao lugar que lhes estava “destinado”. E ainda se esmeram em afirmar que isso é melhor para os pobres… Mas será isso mesmo? Os cidadãos brasileiros não têm outra saída senão escolher entre uma inflação decente e uma redução da pobreza? Esta escolha é inaceitável: não se trata de mitos ou crenças religiosas e sim da construção de uma sociedade. As evidências teóricas e empíricas demonstram que a inclusão social e a distribuição de renda são extremamente benéficas para uma construção sustentável da democracia e do desenvolvimento social e econômico. A redução da pobreza dinamiza a economia do país e incentiva a produção interna (gargalo real que provoca nossa inflação). Investir na ampliação da capacidade produtiva do País: esse é o modo mais “produtivo” de resolver a propalada pressão da demanda (consumo). A política de juros altos faz exatamente o contrário: ao invés de atender justamente à tão propalada pressão da demanda (conjuntural), aumentando a capacidade produtiva do país (estrutural), o aumento dos juros se esmera em cortar as pernas do crescimento. Na próxima edição vamos apontar outras falhas e contradições da política de juros altos.
1. “Índice de miséria segue baixo no país, ainda estimulando o consumo”, Sérgio Lamucci, Valor Econômico, 06.6.2011. |
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