Edição 99 - 09/09/2011

HORA DE APOIAR O BANCO CENTRAL DO BRASIL

O BC tem gozado de autonomia operacional informal desde o segundo mandato presidencial de Fernando Henrique Cardoso.
O saldo da atuação do BC no período, apesar das críticas quanto ao excessivo conservadorismo na condução da política monetária e à relação estreita demais com o sistema financeiro, tem sido amplamente positivo.
A implementação do regime de metas de inflação por Armínio Fraga, aliado à adoção do câmbio flutuante e da meta de superávit primário garantiram o controle inflacionário na maior parte do período e uma travessia relativamente tranqüila durante a crise internacional.
Tal sistemática, no entanto, gerou alguns efeitos colaterais perversos na economia do país.
Nossa taxa básica real de juros é, de longe, a maior do mundo. As conseqüências são relevantes: o serviço da nossa dívida é absurdamente elevado, se comparado a de outros países com situação macroeconômica e de crédito similares; a migração de dólares para o país em busca da remuneração garantida pelos títulos brasileiros força o BC a manter mais de US$ 350 bilhões em reservas, com pesado custo, e aprecia o real, impactando a competitividade da nossa economia.
Dezenas de bilhões de dólares que poderiam estar sendo usados em investimento e em programas sociais são, portanto, pagos a rentistas.
Não apresentamos os números acima para concluir, ingenuamente, que a queda da taxa básica de juros é um mero ato de vontade política. Não é. Os dados mostram acima de tudo que, contrariamente ao que querem economistas do mercado, os GASTOS COM JUROS SÃO ANORMAIS E NEM TUDO ESTÁ BEM NA NOSSA ECONOMIA. O país precisa sair desta armadilha.
A atual diretoria do BC parece ter percebido a situação e aparenta estar mudando seu enfoque, levando em conta o impacto das decisões de política monetária no emprego e no produto, em linha, aliás, com o que pensa o Sinal sobre a missão do BC.
Ao invés de apoiar-se unicamente no uso da taxa básica de juros como instrumento de controle da inflação, adotou medidas macroprudenciais para arrefecer a economia. Flexibilizou o prazo de convergência da meta de inflação para além do ano-calendário de modo a não ter que elevar bruscamente a taxa de juros e impactar a economia.
As medidas geraram polêmica entre alguns economistas, mas nada que se compare à reação histérica à recente redução da taxa básica de juros.
Curioso que somente agora o chamado “mercado” questione a suposta perda de autonomia do BC e os fundamentos macroeconômicos da decisão, antes mesmo da divulgação da Ata da reunião do Copom. Estariam posicionados na ponta que perderá com a queda dos juros? Mais interessante ainda é o fato de que algumas das críticas mais agudas vêm de ex-colegas que ocuparam altos cargos no BC e agora defendem os bancos. Devem estar incomodados pelo fato de que aparentemente não apenas      o ponto de vista de seus empregadores atuais está sendo levado em conta.
É fato que o BC passou a atuar em coordenação com a Ministério da Fazenda no atual Governo. O Sinal defende a autonomia do BC, mas isso não significa isolamento e dissociação do Governo e do país, nem ouvir e atender somente as demandas do sistema financeiro. A parceria pode ser bastante produtiva se as decisões do BC forem embasadas do ponto de vista econômico e garantirem o controle da inflação com efeitos colaterais aceitáveis sobre o emprego e o produto.
Não há motivos para acreditar que o BC, com seu corpo altamente preparado de servidores e uma enorme lista de serviços prestados ao país, decida sem base técnica. O Copom, conforme podemos inferir da leitura da Ata da última reunião daquele colegiado, avaliou muito bem o cenário econômico antes de decidir pela queda da taxa Selic.
É ingênuo, na melhor das hipótese, e venal, na pior, achar que o BC tomará decisões baseadas em pressões políticas.
Já que a manutenção do poder de compra da moeda constitui-se em verdadeira conquista do cidadão, tendo o BC o dever de manter a inflação em patamares baixos, deve tentar fazê-lo, pois, da forma mais benéfica ao país.
Se no correr de 2012 a inflação convergir para a meta com uma taxa de juros real decrescente, terá sido uma grande vitória para o BC e o país, e motivo de orgulho para todos nós, servidores da casa.

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