BIGODES

    Semanas atrás, sem a mínima perspectiva de assunto, contrariei os meus hábitos e andei pelas ruas do centro da cidade observando tudo ao meu redor, para ver se “descolava” algum tema. A única conclusão que cheguei foi que, enquanto a quantidade de homens que cultivam bigode decresceu, não sei se paradoxalmente ou não, o número de mulheres com bigode aumentou. Contudo, como essas observações não produziram o “caldo” suficiente para um texto, abandonei o tema. Mas, de uns tempos para cá, as “aventuras” de três famosos bigodudos, Belchior, Aloísio Mercadante e José Sarney, me fizeram voltar a pensar no assunto. Não posso deixar de citar que também tive como motivação, a “eletrizante” notícia veiculada recentemente pelo portal G1 que, na Índia, os policiais recebem R$2 de subsídio para cuidarem do bigode. Surgiu a notícia que o Belchior desapareceu e que fora visto pela última vez, em abril, numa apresentação do Tom Zé. Aliás, a informação sobre o aparecimento do Belchior no show me levou a concluir que estava mesmo disposto a permanecer no anonimato. Até porque o site Kibeloco afirmou que ele estava “sumido desde 76”. Após diversas especulações, “o rapaz latino americano, que tinha medo de avião” foi descoberto, com nova companheira, num hotel do litoral uruguaio. Meu pai, se fosse vivo, decretaria: – eu sabia que por trás desse sumiço tinha “rabo de saia”. Se eu fosse apostar num político que teria o “céu como o limite da sua carreira”, seria o Aloísio Mercadante. Já foi vice-presidente nacional do PT. Concorreu à vice-presidência nas eleições de 1994. Em 1990,em sua primeira disputa, foi o mais votado do partido para deputado federal e em 98, o terceiro deputado mais votado do país. Eleito para o Senado em 2002, obteve a maior votação da história brasileira. Nesse “imbroglio” de denúncias contra o José Sarney, posicionou-se contra o partido e a favor da opinião pública. Contudo, após ameaçar renunciar irrrevogavelmente à liderança do partido, voltou atrás duas vezes. É como disse o Zé Simão, na Folha-SP: “Adoro a firmeza do Mercadante! Ele renunciou a renúncia, desistiu de desistir e revogou o irrevogável. Em linguagem popular: "mijou pra trás”. O último da lista a ser examinado é o José Sarney. Vejamos: senador que concorre pelo Amapá, mesmo sendo a sua rica família dona do Maranhão. Político de diversos mandatos em vários cargos, entre eles o de presidente da república. Cidadão, cuja vida exercida debaixo dos panos, ninguém estava interessado em levantar. Homem que poderia ter saído de fininho e com poucos arranhões da vida pública há muito tempo e ficar quieto em sua praia particular, recebendo suas aposentadorias e curtindo o “status” de ex-presidente enquanto escrevia seus livros. Então pergunto: por que um sujeito desses resiste no cargo de presidente do senado para se torna alvo de inúmeras denúncias – negar inclusive àquelas do tipo “batom na cueca” – e se transformar, aos 79, anos, no inimigo público número um?   Li que há décadas, surgiu à expressão “fio do bigode” que precedeu o lacre, a assinatura e a rubrica. Consistia em dar em garantia da palavra empenhada um fio da própria barba, retirado em geral do bigode. Bons tempos! Isso porque, atualmente, se tomarmos como exemplo um desses três personagens citados, nem o bigode inteiro vale como garantia.

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