‘Se não agir, Brasil será rebaixado’

    Por De Florianópolis

    Ainda há tempo para o Brasil reverter o cenário fiscal que levou a agência de classificação de risco Standard & Poor’s a revisar a perspectiva da nota do país para negativa em junho, disse Regina Nunes, diretora geral e líder para América Latina da S&P. “Mas, se tudo continuar como está, a tendência é que o Brasil seja [rebaixado para] um triplo BBB-“, afirmou ontem durante congresso da Abrapp, associação das entidades de previdência complementar e fundos de pensão.

    Segundo Regina, o objetivo ao mudar a perspectiva da nota “BBB+” do país em junho foi chamar a atenção para as vulnerabilidades a que o país é exposto com a política fiscal expansionista. Ela lembra que o endividamento bruto do país em relação ao Produto Interno Bruto (PIB), hoje em torno de 60%, vem crescendo. A dívida líquida está num patamar “razoável”, disse, mas o movimento de alta de juros pode criar uma dinâmica mais complexa. “Não se vê um movimento na política econômica grande o suficiente para manter [estável] a relação dívida/PIB”, disse. Para a diretora, esse cenário é agravado pela inflação perto do teto da meta e pelo baixo crescimento econômico, que deixa pouco “espaço de manobras”.

    A inflação próxima ao teto foi citada como motivo de preocupação pelo economista e professor do Insper Eduardo Giannetti da Fonseca, que também participa do congresso da Abrapp. Se não fossem “elementos artificiais” para controlar o aumento dos preços no curto prazo – como o atraso na equiparação do preço dos combustíveis ao mercado internacional -, a inflação já estaria bem acima da meta, afirmou. Segundo Giannetti, se for descontado esse atraso no aumento de preços controlados, o índice oficial da inflação no Brasil já estaria em 8% em 12 meses.

    O controle “artificial” da inflação é um dos fatores que explicam a reversão de expectativas dos investidores com o Brasil em relação a outros mercados, disse. Outros motivos são o crescimento econômico modesto e o déficit nas contas externas, afirmou. Para o economista, o crescimento tem um forte obstáculo na alta carga tributária que limita o investimento privado – movimento que ele chama de “drenagem do setor privado para financiamento de gastos correntes do governo”. Giannetti lembra que o Estado arrecada o equivalente a 36% do PIB, o que, somado aos mais de 3% de déficit nas contas externas, resulta em 39% da renda nacional “drenada” pelo governo. “Essas coisas não costumam caminhar juntas. Se um país tem baixo crescimento, a situação da inflação costuma ser mais tranquila. Temos uma combinação ruim de políticas econômicas”, afirmou.

    Quanto às contas externas, Giannetti lembrou que o déficit em conta corrente é crescente. Segundo o Banco Central, o resultado negativo nas transações correntes chegou a 3,95% em 2013 até julho. Para o economista, a política econômica piora em um momento de mudança de fluxos de recursos no mundo, com a perspectiva de reversão de políticas monetárias expansionistas, caso dos Estados Unidos. (TF)

    A repórter viajou a convite da Abrapp.

     

    Fonte: Valor Econômico

    Matéria anteriorReajustes passam na Câmara
    Matéria seguinteEconomistas defendem autonomia do Banco Central