INSATISFEITOS COM CRÍTICAS DO MERCADO E DO GOVERNO, TÉCNICOS QUESTIONARAM SECRETÁRIO EM REUNIÃO INTERNA
Arno Augustin saíra de cena para se preservar, mas, nas últimas semanas, vinha sendo reabilitado por Dilma
SHEILA D’AMORIM
DE BRASÍLIA
NATUZA NERY
Insatisfeitos com os ataques à dificuldade do governo de equilibrar gastos e receitas, técnicos do Tesouro passaram a cobrar do secretário Arno Augustin uma definição mais clara sobre até onde o governo pretende ir na área fiscal. Ou seja: qual é o teto de endividamento para bancar a política atual.
Segundo a Folha apurou, há dez dias ele reuniu sua equipe para “lavar roupa suja”. Pouco afeito a debates com seus assessores, Arno foi obrigado, dessa vez, a ouvir reclamações e cobranças.
Técnicos quiseram saber, por exemplo, se há limites para as operações do BNDES, principal financiador da agenda econômica.
O encontro ocorreu antes da mais nova manobra atribuída ao petista: um empréstimo da Caixa para a Eletrobras pagar dívidas com o setor elétrico. A operação teve de ser abortada diante da repercussão negativa, embora tenha sido decidida em reunião com o ministro Guido Mantega (Fazenda) e a própria presidente Dilma.
REHAB
Desde o ano passado, Arno é apontado como o principal responsável pela perda da credibilidade de Dilma na área fiscal. Em 2012, lançou mão do que foi chamado de “contabilidade criativa” para engordar o caixa do governo sem, de fato, economizar.
A prática consiste em tirar da conta dos gastos despesas como as feitas com o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e em inflar as receitas antecipando, por exemplo, a entrada de dividendos de estatais.
Arno também foi atacado por falta de transparência nas estatísticas oficiais.
Para se preservar, precisou sair de cena por meses. Reduziu sua participação em reuniões e passou a falar menos nos encontros técnicos.
Mas, nas últimas semanas, voltou à ativa, opinando em debates sobre infraestrutura e sendo mais acionado pela chefe.
Há dez dias, quando ouviu queixas de seus subordinados, Arno reagiu mal, segundo relatos. Enfatizou que a direção da política econômica quem dá é a presidente e cabe a eles cumpri-la.
Disse, ainda, que o governo está no caminho certo e que o fundamental é retomar investimentos. Recusou-se, contudo, a fixar metas. E culpou o mercado e a imprensa pelas críticas que ele e o governo vêm recebendo.
Apesar do discurso defensivo e do esforço do Planalto, o secretário segue alvo de “fogo amigo”.
Nesta semana, com o caso Eletrobras, auxiliares passaram a dizer, em tom bem-humorado, que o secretário precisa frequentar um centro de reabilitação. E voltar, em 2014, completamente abstinente: “Meu nome é Arno Augustin, tenho 53 anos e há X dias não manobro”.
Fonte: Folha de S.Paulo