A leitura e interpretação da ata do Comitê de política monetária (Copom) é uma necessidade para todos que precisam ter uma ideia da trajetória futura da taxa básica de juros. Muitas vezes os sinais do Banco CENTRAL sobre o que pretende fazer com a política monetária estão em uma frase que foi introduzida ou suprimida da ata. Os especialistas estão atentos até mesmo a mudanças de palavras ou do tempo verbal utilizado nas frases, pois elas podem indicar maior ou menor ênfase do BC sobre o efeito de um determinado dado da atividade econômica.
Em seu comunicado do início deste mês, quando elevou a taxa Selic para 11% ao ano, o Banco CENTRAL deu indicações de que estaria próximo o fim do ciclo de ajuste da taxa de juros iniciado em abril de 2013. Primeiro, ao anunciar o aumento da taxa, retirou do texto do comunicado a frase de que estava dando prosseguimento ao processo de ajuste da taxa básica de juros, iniciado na reunião de abril de 2013 . Substituiu essa frase pela expressão neste momento , ao se referir à decisão de elevar a Selic em 0,25 ponto percentual. E, ao mesmo tempo, disse que o Comitê irá monitorar a evolução do cenário macroeconômico até sua próxima reunião para então definir os próximos passos na sua estratégia de política monetária .
O monitoramento da evolução do cenário apareceu pela última vez no comunicado da reunião de março de 2013, encontro do Copom que antecedeu o início do atual ciclo de alta. Tudo indicava, portanto, que o BC considerava terminar o processo de ajuste da taxa de juros.
A ata divulgada na quinta-feira passada repetiu as mesmas frases utilizadas no comunicado, quando fala sobre a decisão de elevar a taxa para 11%, o que poderia levar os menos atentos a considerar que a intenção é mesmo de interromper o ciclo. Mas ela trouxe duas novidades em relação ao texto da reunião anterior. Houve mudança na estimativa de reajuste dos preços administrados neste ano, especialmente para a energia elétrica, e o reconhecimento de que há pressão de preços no segmento de alimentos in natura.
O Copom elevou a sua projeção de reajuste em 2014 para o conjunto dos preços administrados por contrato e monitorados para 5%, ante 4,5% considerados em sua reunião de fevereiro. Para isso, considerou as variações ocorridas, até fevereiro, nos preços da gasolina (0,6%) e do gás de bujão (0,3%). Adotou também, como hipótese, o aumento de 9,5% nos preços da energia elétrica, percentual maior do que os 7,5% projetados no texto anterior.
Na ata, o BC alerta para pressões localizadas que ora se manifestam, especialmente, no segmento de alimentos in natura, embora, em princípio, trate-se de um choque temporário que tende a reverter nos próximos meses . O IBGE mostrou que esse choque de alimentos, provocado pela seca no Brasil e por elevações de preços no exterior, já se refletiu intensamente no IPCA de março e poderá ter repercussão ainda em abril, embora em menor intensidade.
Provavelmente por causa desses fatores (reajuste maior dos preços administrados e choque de alimentos), o BC mudou o seu discurso em relação à elevada variação dos índices de preços ao consumidor nos últimos 12 meses. Em fevereiro, o Copom considerava que essa elevação apresentava moderação observada na margem . Na ata da semana passada essa frase foi suprimida.
O IPCA acumulado em 12 meses até março subiu para 6,15%, contra 5,68% em 12 meses até fevereiro. A variação, portanto, não foi moderada na margem .
Mesmo informando sobre novas pressões inflacionárias, a ata do Copom deixa em aberto a possibilidade de parar o aperto monetário.
Diante da forte alta do IPCA de março, de 0,92%, divulgada uma semana após a reunião do Copom, e do risco de uma trajetória mais perversa de inflação para os próximos meses, não será surpresa, porém, se o Copom prosseguir mais um pouco no aumento da taxa Selic.
O presidente do BC, ALEXANDRE TOMBINI, disse em entrevista ao Wall Street Journal , publicada pelo Valor na sexta feira, que os bancos centrais estão todos data dependent , à espera da evolução dos indicadores.
A ata do Copom pode ter envelhecido antes mesmo de ser divulgada se se levar em conta que cabe à política monetária evitar que choques de oferta, mesmo pontuais e transitórios, impactem os demais preços da economia.
Fonte: Valor Econômico