Inflação alimenta reivindicações de categorias historicamente aliadas ao PT, como metalúrgicos e petroleiros
A pedido do Correio, o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) levantou as datas bases de negociação de 710 categorias profissionais. A maior parte das negociações está programada para o período de maio a dezembro, quando 451 sindicatos planejam abrir negociação com os patrões. Em setembro, a um mês das eleições, 74 categorias estarão reivindicando melhores salários.
A entidade que representa mais de 512 mil bancários de todo o país já marcou data para a negociação: 1º de setembro. Em 2013, a categoria cruzou os braços por 23 dias e conseguiu reajuste de 1,82% acima da inflação. Um ano antes, em 2012, foram necessários apenas 9 dias parados para obter conquista maior: ganho real de 2%. Metalúrgicos e ferroviários também têm data-base na mesma época. “Sempre reivindicamos a reposição integral da inflação e faremos o mesmo neste ano”, avisou o coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), João Antônio de Moraes.
Crescimento baixo
Nos últimos quatro anos, o IPCA ficou sempre acima do centro da meta, de 4,5% ao ano, tendo ultrapassado os 6% durante a maior parte desse período. O mercado acredita que o saldo do custo de vida em março – motivado por um choque de preços dos alimentos – deverá persistir até setembro, elevando ainda mais a pressão dos sindicatos por reajustes salariais.
Nos próximos meses, a carestia tende a ser pressionada ainda pelo aumento da demanda provocado pelo afluxo de turistas que virão ao país para assistir aos jogos da Copa do Mundo, em junho e julho. “A inflação já estava bem elevada mesmo antes do choque dos alimentos. A diferença é que o governo já não tinha mais margem para absorver essa pressão, o que fez os preços fugirem do controle do Banco CENTRAL“, disse o economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Rosa.
As apostas dos analistas de bancos e corretoras consultados pelo BC na pesquisa semanal Focus são de que o IPCA encerre o ano em 6,47% – a maior variação desde os 6,5% de 2011, primeiro ano do governo Dilma Rousseff. Pior do que o número em si é a trajetória de alta. Há seis semanas consecutivas, as projeções só pioram, apesar do aumento dos juros básicos desde abril de 2013.
“É o momento de politizar as campanhas e de cobrar as pautas que estão paradas nas mãos do governo”, disse o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, Antônio Ferreira de Barros. “Representamos os setores que mais sofrem com a alta de preços básicos, como os alimentos, que têm corroído os salários”, completou. “A tendência é de que tenhamos muitas greves durante o período de negociação salarial”, avisou.
Os trabalhadores, porém, enfrentarão um forte obstáculo para ver suas reivindicações atendidas. A média de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) no governo Dilma é de 2% ao ano, o pior desempenho desde a gestão de Fernando Collor. Para 2014, as apostas do mercado são de um número ainda pior: alta de 1,65%. “Em tempos de baixo crescimento, em vez de buscar vencimentos maiores, o trabalhador tenta resguardar direitos básicos, como o pagamento de hora extras e do 13º salário”, disse o coordenador de Relações Sindicais do Dieese, José Silvestre Prado de Oliveira.
Fonte: Correio Braziliense