Analistas preveem alta de 0,3% em índice do BC

    Por Arícia Martins | De São Paulo

    Embora a indústria e o comércio tenham perdido fôlego em fevereiro e os primeiros sinais referentes a março sejam ruins, analistas avaliam que os resultados dos dois primeiros meses do ano são consistentes com expansão modesta, de cerca de 0,5%, do Produto Interno Bruto (PIB) na passagem do último trimestre de 2013 para o primeiro de 2014, feitos os ajustes sazonais. Segundo eles, o começo do ano foi marcado por ritmo um pouco melhor que o previsto e contribuiu para afastar cenários ainda mais pessimistas para a expansão da economia no ano, que deve ficar pouco abaixo de 2%.

    Após elevação de 1,26% em janeiro, a estimativa média de 19 instituições financeiras e consultorias ouvidas pelo Valor Data aponta que o Índice de Atividade Econômica do Banco CENTRAL (IBC-Br) avançou 0,3% na medição seguinte sobre o mês anterior, descontadas as influências sazonais. As projeções para o indicador da autoridade monetária, que será divulgado hoje e tenta antecipar a trajetória mensal do Produto Interno Bruto (PIB), vão de alta de 0,1% a 0,5%.

    Natalia Cotarelli, do Banco BI&P, estima expansão de 0,3% para o IBC-Br na passagem mensal. Segundo Natalia, a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), divulgada ontem pelo IBGE, mostrou queda mais forte que o esperado do volume de vendas do varejo ampliado (que inclui automóveis e material de construção) em fevereiro, de 1,6% em relação a janeiro, mas a alta de 0,4% da produção industrial na mesma comparação evitou comportamento muito ruim da economia no período.

    Para Natalia, a atividade foi impulsionada no começo do ano por questões pontuais que já estão perdendo força, como as vendas de estoques com Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) reduzido pelas concessionárias de automóveis em janeiro. A alíquota foi parcialmente recomposta na virada do ano, mas, naquele mês, o volume de vendas de veículos, motos, partes e peças subiu 3,8% ante dezembro. Em fevereiro, essa parte do comércio encolheu 7,6%, de acordo com o IBGE, e os primeiros indicativos para março não são animadores.

    Segundo a Fenabrave, entidade que reúne os revendedores de veículos, 240,8 mil unidades foram licenciadas no mês passado, volume 15,2% abaixo do comercializado no terceiro mês de 2013. Para a economista do BI&P, a produção do setor deve desacelerar em ritmo ainda mais forte do que as vendas nos próximos meses, afetada pelo acúmulo de estoques.

    Mesmo assim, Natalia projeta crescimento de 0,4% do PIB entre janeiro e março, variação influenciada principalmente pelo primeiro bimestre. Caso o IBC-Br fique estável em março, ela calcula que o índice terá avançado 0,3% no primeiro trimestre.

    No teto das estimativas, André Muller, da Quest Investimentos, afirma que sua projeção de alta de 0,5% para o IBC-Br está baseada em ritmo um pouco acima do esperado tanto da indústria como do varejo em fevereiro. Ele menciona que, como o Carnaval neste ano caiu em março, o maior número de dias úteis teve contribuição positiva para a atividade fabril no mês anterior, enquanto, do lado do consumo das famílias, uma recuperação modesta das concessões de crédito e dos reajustes salariais tem dado suporte às vendas, exceto no setor de veículos.

    “O trimestre como um todo deve mostrar desempenho mais forte do que se esperava no fim de 2013, mas nada suficiente para elevar estimativas para o ano”, diz Muller, que também espera aumento em torno de 0,4% para o PIB nos primeiros três meses do ano, e de 1,8% na média de 2014. Ele destaca que os indicadores antecedentes da produção apontam para queda em março, como o fluxo pedagiado de veículos pesados (retração de 4,4%), a produção de automóveis medida pela Anfavea, associação que reúne as montadoras (-1,9%) e a expedição de papelão ondulado (-0,9%). Todos os cálculos contam com ajuste.

    Para Fernanda Consorte, do Santander, não é possível fazer uma leitura positiva dos dados de atividade deste início de ano, que foram afetados pelo “efeito calendário” e, ainda, por um processo de acúmulo de estoques na indústria. Em sua opinião, não é o avanço de 0,2% esperado para o IBC-Br em fevereiro que deve ser questionado, mas sim o salto de 1,26% em janeiro, que foi um ponto fora da curva.

    Como os inventários da indústria estão em alta, especialmente no setor automotivo, diz Fernanda, é possível concluir que qualquer aumento de produção registrado entre janeiro e fevereiro não foi absorvido pela demanda.

    Embora ainda não tenha números referentes à atividade no segundo trimestre, a economista do Santander avalia que o PIB pode perder ritmo no período, após alta de 0,4% na abertura do ano. Fernanda aponta que um mês de março ruim, conforme os indicadores antecedentes vêm confirmando, vai deixar herança estatística baixa para o trimestre seguinte. No restante do ano, diz ela, o ciclo de aumento dos juros, a moderação do crédito e o esfriamento do mercado de trabalho são fatores que devem enfraquecer a economia.

     

    Fonte: Valor Econômico

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