Ao participar de um evento em São Paulo ontem, o presidente do Banco CENTRAL (BC), ALEXANDRE TOMBINI, não negou resposta a uma pergunta da plateia sobre um hipotético mandato seu à frente do Ministério da Fazenda, embora tenha desviado do assunto depois de brincar que estava procurando como responder a questão.
“Como seria o ALEXANDRE TOMBINI no Ministério da Fazenda?”, perguntou um convidado do evento promovido pela Câmara Brasil Israel de Comércio e Indústria. A escolha de TOMBINI para a Fazenda seria cogitada pela presidente Dilma Rousseff, que busca a reeleição, segundo publicou o Valor no mês passado.
“Estou tentando extrair uma parte da sua pergunta que seja passível de resposta. Mas, atualmente, no meu trabalho há desafios grandes”, respondeu TOMBINI. Ele prosseguiu dizendo que “o poder público deve oferecer estabilidade” e que “quanto mais estabilidade pudermos oferecer à economia, melhor para o empresariado projetar seus investimentos”.
Entre os desafios do BC, TOMBINI citou os choques de oferta que pesaram nos preços, mas reiterou o compromisso da autoridade. “Temos trabalhado para que a inflação permaneça sob controle e inicie um processo de convergência à meta”. Não há, segundo ele, nenhuma “predestinação” para que o Brasil tenha que conviver com uma inflação acima do centro da meta, de 4,5%. “Vamos chegar lá”, disse. “Temos visto algum progresso nesse sentido”. Ele acrescentou que os efeitos dessas medidas se materializam com defasagens.
Antes de responder a perguntas dos convidados, TOMBINI defendeu, em seu discurso, a resiliência do Brasil ao momento de transição da política monetária dos países desenvolvidos. “Temos uma posição inicial forte. O Brasil está preparado para enfrentar os desafios impostos pela economia global”.
O presidente do BC lembrou que os mercados financeiros passaram por momentos de forte volatilidade desde que o Federal Reserve (Fed, o BancoCENTRAL americano) sinalizou, em maio do ano passado, que poderia começar a reduzir seu programa de compra de ativos nos meses seguintes. Mas, segundo ele, essa volatilidade não significa que o Brasil não está preparado para lidar com o processo de normalização da política monetária americana.
“Não devemos confundir volatilidade de mercado com vulnerabilidade”, afirmou TOMBINI. “Vimos, no início deste ano, volatilidade relacionada a fatores específicos. É muito comum nesse período de transição, de ajuste de preços relativos, ver mudanças nas taxas de câmbio.”
De acordo com o presidente do BC, “o Brasil se preparou para este período” e agora tem “liderado o processo de atração de recursos para emergentes”. Ele defendeu o programa de oferta de hedge cambial que, de acordo com ele, “tem funcionado”. “Com a situação mais calma no exterior, vimos os fluxos [de capital] voltando”, disse. “Além disso, o governo anunciou o objetivo fiscal e isso contribuiu para melhorar as condições”, citou.
TOMBINI criticou o enquadramento do Brasil no grupo dos “cinco frágeis”, um termo criado no mercado financeiro que lista Brasil, África do Sul, Índia, Indonésia e Turquia como as economias mais vulneráveis à volatilidade externa. “O que vimos no período de maio do ano passado até hoje é que o Brasil tem mostrado capacidade de resiliência para transitar em um ambiente de maior incerteza”, defendeu.
Fonte: Valor Econômico