Para analistas, mudanças devem ir além da política econômica

    Arícia Martins De São Paulo

    Economistas do mercado financeiro avaliam que uma mudança de postura do próximo governo na política econômica é fundamental, mas, sozinha, não seria suficiente para fazer deslanchar o crescimento. 

    Durante debate promovido ontem pelo Experience Club sobre como o mercado enxerga a conjuntura atual, foram mencionadas outras medidas necessárias que, no médio prazo, teriam impacto mais relevante sobre a atividade, como uma agenda voltada a ganhos de produtividade e investimentos públicos. Na política macroeconômico, a receita para “arrumar a casa” é considerada simples: um retorno à base do tripé, com enfoque no controle fiscal.

    Para a economista-chefe da XP Investimentos, Zeina Latif, duas medidas urgentes que precisam ser implementadas pela próxima administração: dar autonomia ao Banco CENTRAL e “fechar o cofre” do Tesouro Nacional.

    Caso um racionamento de energia seja necessário, Zeina defendeu que o corte seja feito rapidamente, “e de uma vez só”.

    “No curto prazo temos trabalho a ser feito. Não sou a favor de gradualismo”, disse, o que também pode ser aplicado a outras questões, como a retirada de incentivos fiscais e o descongelamento de tarifas públicas.

    Segundo Zeina, a volta da inflação e falta de credibilidade da política fiscal é um retrocesso para o país e reordenar a macroeconomia é uma “chateação”, mas esta não é a tarefa mais difícil para o próximo quadriênio. O grande desafio, diz, está em como retomar a agenda da produtividade, diante da estagnação da indústria e da perda de fôlego dos investimentos.

    Destravar o investimento público é primordial para impulsionar o investimento privado e também para alavancar o crescimento em um horizonte mais longo, na avaliação de José Francisco Gonçalves, economista chefe do Banco Fator. 

    Embora não esteja otimista com a trajetória da economia no curto prazo, Gonçalves afirmou que seria positivo já em 2015 que a nova gestão retornasse a ações adotadas em 2011, como a busca por uma política fiscal e monetária “convincentes” e o controle de expansão do crédito.

    “Acho que estes são sinais que devem ser aproveitados pelo próximo governo. Minha decepção foi completa com o que foi feito de 2012 em diante”, afirmou Gonçalves, para quem ainda existe uma dificuldade de avaliação de diagnósticos no governo atual. Em sua opinião, resgatando os objetivos de 2011, é possível “dar uma arrumada na casa”, mas o mais importante seria focar num amplo programa de investimentos públicos.

    Apesar de ter havido um relaxamento da política fiscal no período recente, o diretor da Bradesco Asset Management (Bram) e ex-secretário do Tesouro Nacional, Joaquim Levy, argumentou que o país tem boa estrutura de contas públicas e não é preciso de grandes reformas para resgatar a credibilidade nessa seara.

    “Se dermos uma reorganizada com o que a gente já tem, já é muito positivo”, afirmou.

    Para o economista da Bram, uma maior seriedade fiscal precisa ser sinalizada com “urgência” no ano que vem, mas o compromisso não deve ser apenas com uma meta de superávit primário maior. É necessário priorizar gastos específicos e definir estratégias de como alavancar investimentos com menos participação de dinheiro público, disse. “Tudo isso vai exigir escolhas, mas tem que ser feito.” O diretor da área de gestão de fortunas do UBS, Paulo Korchaki, acredita que o próximo governo deve ter visão mais alinhada com a do mercado, independentemente de qual partido vença a disputa eleitoral.

     

    Fonte: Valor Econômico

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