Ata do Copom derruba juros futuros

    Por Lucinda Pinto, Antonio Perez e Silvia Rosa | De São Paulo

    “O BC mostra que está preocupado com a atividade mais fraca”, afirma Jankiel Santos, economista-chefe do BES

    Os juros futuros tombaram ontem na BM&F sob o impacto do tom brando da ata do último encontro do Comitê de política monetária (Copom) doBanco CENTRAL (BC), que aponta para manutenção da Selic em 11% pelo menos até o fim deste ano.

    Do lado da inflação, o Copom informou na ata que a projeção para o IPCA deste ano e de 2015 cedeu em seu cenário de referência (taxa de câmbio a R$ 2,20 e Selic em 11% ao ano), embora continue acima do centro da meta, de 4,5%. A principal mudança, contudo, se deu na avaliação do colegiado do BC sobre o rumo da atividade econômica. Segundo o BC, o crescimento este ano deve ser menor que o de 2013. Nos documentos anteriores o Copom trabalhava com a perspectiva de que o ritmo da atividade doméstica tenderia a se manter estável em comparação com 2013. E, segundo a ata, os atuais níveis de confiança, “relativamente modestos”, tendem a potencializar os efeitos da política monetária sobre a inflação.

    “O que o BC está dizendo é que já fez, já respondeu, e que os efeitos ainda serão percebidos na atividade”, afirma o diretor e chefe de pesquisas econômicas para Américas da Nomura Securities, Tony Volpon. A ata do Copom, na visão do economista, reforça a visão de que a Selic tende a ficar estável ainda por um tempo prolongado. E que um novo aperto monetário só ocorrerá caso haja uma piora muito expressiva da inflação. “A mensagem é que o BC já fez o suficiente para conter as pressões inflacionárias. E com a atividade tão fraca, para ele voltar a agir, vai ter que ter uma piora fora de série da inflação”, diz Volpon.

    Para o economista-chefe do Banco Espírito Santo (BES), Jankiel Santos, o tom da ata do Copom afasta a possibilidade de uma retomada da alta daSelic neste ano. Entre os elementos mais amenos do texto, o economista destaca a menção sobre um ritmo de atividade econômica menos intenso. “O BC mostra que está preocupado com a atividade mais fraca e vê maior equilíbrio entre a oferta e demanda, destacando uma expectativa de acomodação dos preços de commodities”, afirma Santos, que prevê, contudo, um novo ciclo de aperto monetário em janeiro do ano que vem, levando a Selic até 12,5%.

    O economista-chefe da MCM Consultores, Fernando Genta, adverte que os argumentos que sustentam o cenário traçado pelo BC são frágeis e que, a menos que haja uma nova ação de política monetária ou um choque positivo inesperado, a inflação vai superar o teto da meta em 2015. “Se o BC não fizer nada, por mais que ele tenha revisado PIB para baixo, o cenário será de estouro de teto da meta no ano que vem”, afirma. “Apesar do tom da ata não apontar para isso, o BC vai ter que agir, sim, em 2015.”

    Genta pondera ainda que o momento exato em que a Selic será alterada dependerá de quem estiver comandando o BC no ano que vem, o que está atrelado ao resultado da eleição presidencial. “Eu esperava, em função do comunicado e da expressão “neste momento”, uma ata mais enfática sobre o risco de subir juros mais pra frente”, afirma. “Tanto que minha expectativa era de que o mercado elevasse um pouco a taxa de juros futuros”, diz o economista da MCM.

    A queda das taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) ontem mostra que os investidores começam a reduzir as apostas em um novo ciclo de elevação da Selic a partir do início de 2015. A taxa do contrato com vencimento em janeiro de 2016 caiu ontem de 11,44% para 11,32%. Entre os contratos mais longos, a taxa do derivativo para janeiro de 2017 recuou de 11,78% para 11,64%.

    Também contribui para a queda dos DIs ontem a decisão do Banco CENTRAL Europeu (BCE), que cortou os juros e acenou com a adoção de novas medidas de estímulos monetários. Um ambiente externo de maior liquidez tende a beneficiar moedas emergentes, como o real. E uma taxa de câmbio comportada é relevante para o controle da inflação. “A atividade local está muito fraca e o ambiente externo mais tranquilo dá o sinal verde para o BC manter a Selic“, afirma Fernando Aldabalde, sócio e gestor da GS Allocation.

     

    Fonte: Valor Econômico

    Matéria anteriorA reforma que a eleição empurrou para 2015
    Matéria seguinteJustiça define efetivo mínimo de 70% no IBGE