PIB à espera do investimento

    Crescimento da economia em 2014 deve manter lentidão, segundo projeções de analistas. Com o consumo estaganado, investimento em queda só deve ter retomado após a recuperação da confiança do empresariado

    Novas projeções de economistas reforçam o enfraquecimento do PIB em 2014. Num momento em que o consumo interno – respon­sável pelo crescimento do país nos últimos anos – parou de crescer, seria a hora de o investimento apa­recer como novo motor. No entan­to, o clima de desconfiança atin­giu em cheio o empresariado e especialmente o setor industrial, em uma encruzilhada na qual o país só deve sair a partir de 2015, com os novos empreendimentos em infraestrutura. 

    “O governo vinha estimulan­do a economia via consumo, mais do que a produção. E não vamos ter nesse momento nem investimento, nem crescimento notável do consumo. Estamos em uma fa­se de transição em que o cresci­mento seria mais voltado ao investimento, mas há muitos compo­nentes de incerteza, com perda da confiança”, diz o economista Aloisio Campelo, do Instituto Brasilei­ro de Economia (Ibre), da Funda­ção Getulio Vargas (FGV). 

    Pesquisa divulgada pela Fede­ração Brasileira de Brancos (Febraban) mostra que o desempe­nho cada vez mais negativo da in­dústria reduziu as expectativas para o PIB. Consultados entre 6 e 10 de junho, 28 economistas de bancos reduziram a previsão média do crescimento do PIB para es­te ano de 1,8% para 1,4%. Para 2015, a previsão para o PIB re­cuou de 2,2% na pesquisa anterior, feita em abril, para 1,7%. 

    O crescimento da indústria foi o item que sofreu a maior revisão para baixo nas projeções do levan­tamento da Febraban, ao passar de 1,6% para apenas 0,4% em 2014. Já o Ibre, em seu boletim ma­croeconômico deste mês, intitula­do “Quadro econômico continua ruim, mas não catastrófico”, esti­ma alta de 1,6% para este ano, após projeção de 1,8% em maio. “A clara deterioração da dinâmica industrial desde o início deste ano é que nos levou a revisar a proje­ção do crescimento”, diz o bole­tim. Para o Ibre, a economia conti­nua em trajetória de lenta expansão, mas sem sinais de estresse. 

    O Índice de Atividade Econômi­ca do Banco CENTRAL (IBC-Br), indicador antecedente do PIB divul­gado pelo Banco CENTRAL, corrobo­ra para o baixo dinamismo. Em abril, subiu apenas 0,12% em rela­ção a março, o que significou retra­ção de 2,29% na comparação com abril do ano passado. 

    No primeiro trimestre, a taxa de investimento sobre o PIB ficou em 17,7%, no menor nível desde 2009. A indústria apresentou re­tração de 0,8% sobre os últimos três meses de 2013, puxada pela indústria de transformação, cuja queda foi de 0,8% e pela construção civil, com retração de 2,3%. Em abril, a produção industrial caiu 0,3%sobre março e teve forte retração, de 5,8% quando comparada a abril de 2013. Já o consumo das famílias recuou 0,1% no pri­meiro trimestre e interrompeu um ciclo de nove trimestres de al­ta. A queda de 0,4% no comércio em abril, no segundo mês segui­do, sinaliza para a continuidade da cautela do consumir. 

    Indústria investiu e investirá menos por falta de recursos 

    Sondagem de investimentos da Indústria de Transformação do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getúlio Vargas (FGV), mostra que o cenário para o empresariado do setor no segundo trimestre é o pior desde 2012. “Há uma continuidade da expectativa da perda de confiança. Isso leva à pisada no freio do investimento”, afirma o economista Aloisio Campelo, responsável pelo levantamento. 

    No segundo trimestre, 31% das indústrias afirmaram ter investido mais e 24% ter investido menos nos últimos 12 meses. No primeiro trimestre, o percentual das que investiram mais foi de 37%. Já os que investiram menos eram 16%. 

    O      planejamento de investimento para os próximos 12 meses também é menos favorável. Enquanto 30% estimam investir mais, 21% pretendem investir menos do que nos últimos 12 meses. No primeiro trimestre, 34% responderam que iriam investir mais e 16%, menos. O principal limitador é a falta de recursos, apontada por 45% das que planejam investir menos. A incerteza quando à demanda aparece em seguida, citada por 37%. 

    “Além da retração da Argentina e da desaceleração da China no cenário externo, do ponto de vista interno, o Brasil está com pouca margem para mexer tanto na questão fiscal quanto na política monetária e ainda há a presença da pressão inflacionária. A eleição é um fator de mais incerteza somado ao risco de racionamento”, diz Campelo. 

    O economista afirma que as demais sondagens da FGV, nos serviços e no varejo, também revelam a desaceleração do investimento. A sondagem foi realizada entre 14 de abril e 30 de maio com 630 empresas.

     

    Fonte: Brasil Econômico

    Matéria anteriorNomeações limitadas
    Matéria seguinteDados indicam crescimento fraco, mas não uma recessão