Por Flavia Lima | De São Paulo
Lopes diz que não faz muito sentido ficar olhando para a inflação em 12 meses
O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) estourou o teto da meta nos 12 meses até junho, período em que registrou alta de 6,52%, ficando um pouco acima da elevação de 6,42% prevista pelo ex-presidente do Banco CENTRAL Francisco Lopes para o período. O indicador alcançará o seu pico em agosto, quando deve transitar entre 6,7% e 6,8% em doze meses, mas, diferentemente do projetado pelo mercado, vai encerrar 2014 um pouco menos pressionado, com alta entre 5,7% e 5,8%, permitindo que o Banco CENTRAL cumpra com relativa folga o estabelecido em mandato, afirma Lopes, hoje sócio da consultoria Macrométrica.
“Até o fim do ano [o IPCA] volta a cair rapidamente para abaixo de 6%”, disse o economista ao Valor por e-mail, ao reconhecer que a trajetória apontada por ele parece, ao menos a princípio, um tanto “paradoxal”. Paradoxal e defendida por poucos no mercado. De acordo com o boletim Focus, do Banco CENTRAL, a mediana dos economistas consultados prevê, há três semanas, inflação de 6,46% em 2014. Antes disso, a expectativa era levemente mais alta, em 6,47%. O próprio Banco CENTRAL, em seu relatório de inflação do segundo trimestre, projeta uma inflação mais próxima do teto de meta – a alta esperada é de 6,4% para o IPCA no ano.
A razão para acreditar em uma trajetória de preços mais benigna, diz Lopes, é menos complexa do que parece. Segundo Lopes, a variação mensal do principal indicador de preços em dezembro de 2013 chegou a 0,92%. Dessa forma, se a taxa mensal de dezembro de 2014 for de 0,5%, prevê o economista, a taxa em 12 meses “derrete” 0,42 ponto percentual entre novembro e dezembro – isso tendo em conta que a projeção de Lopes para novembro já está na faixa de 6,2% a 6,3%. “Ou seja, o Banco CENTRAL vai sim ficar abaixo do teto da meta ao final do ano, que é o que o regime de metas exige dele”, afirmou. “Simples assim”.
Lopes ressalta ainda que seria “bom lembrar” que em setembro de 2011 a inflação em 12 meses medida pelo IPCA foi de 7,31%, recuando para 6,5% no fim do período. Assim como em junho de 2013 chegou a 6,7%, mas fechou em dezembro em 5,9%. Para ele, esses avanços e recuos servem para ilustrar que não faz muito sentido ficar olhando para a inflação em 12 meses, bastante sujeita ao que chama de “corcovas”.
No lugar de olhar o passado, afirma o economista, a autoridade monetária deve, na verdade, é prestar atenção nas expectativas de inflação 12 meses a frente, que em setembro de 2011 estava em 5,67%. E em junho de 2013 estava em 5,66%. No momento atual, ressalta ele, apesar da taxa em 12 meses estar em 6,5%, a expectativa nos 12 meses a frente é menor, em 5,89%. “Isto mostra que o mercado espera uma desaceleração da inflação nos próximos 12 meses”, afirma Lopes.
Para o próximo ano, a mediana dos analistas ouvidos pelo Focus elevou as suas expectativas de inflação. Há duas semanas, as previsões apontam para um IPCA de 6,10% em 2015, mas o número já foi mais baixo. Há quatro semanas, por exemplo, era de 6,03%. Para 2015, o relatório trimestral de inflação do Banco CENTRAL prevê IPCA em 5,7%, ante 5,5% esperados na versão anterior. Já Lopes é um tanto mais lacônico a respeito. Ele espera um ano que vem ainda pior, mas prefere não fazer projeções. “Só com uma longa conversa depois da eleição”.
Fonte: Valor Econômico