Por Juliana Elias | De São Paulo
O mercado reduziu pela oitava semana consecutiva a previsão para o Produto Interno Bruto (PIB) de 2014, que caiu pela primeira vez abaixo de 1%, segundo o boletim Focus, relatório semanal do Banco CENTRAL que reúne as projeções de agentes do mercado para os principais indicadores da economia, divulgado ontem. A mediana das expectativas para o crescimento da economia em 2014 foi para 0,97% ante 1,05% na semana passada e 1,16% há um mês. Uma economia doméstica enfraquecida, ao lado de um cenário externo que já não ajudava e de um cenário eleitoral ainda por se definir estão entre as razões apontadas por analistas para uma trajetória descendente das expectativas.
“Toda semana tem alguma coisa que traz as expectativas para baixo, o que acaba contaminando as projeções”, disse Leonardo França Costa, economista da Rosenberg & Associados. Na semana passada, o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) apontou para uma geração de vagas 57% menor em junho deste ano que em junho do ano passado, enquanto o IBC-Br, índice de atividade do BC, apontou queda de 0,18% na passagem de abril para maio.
Para Fábio Silveira, economista da GO Associados, pesa o fato de que o mercado doméstico, que até pouco tempo vinha servindo de apoio para segurar a economia começa aos poucos a perder forças. “A saída para o Brasil é melhorar seu desempenho externo, porque se tivermos apenas o mercado interno como base, vamos dar com os burros n”água”, disse. “Os juros estão altos, o varejo perde fôlego, a indústria a cada mês afunda mais e há a perspectiva de que o desemprego aumente em breve. E isso só no plano doméstico”, completou, lembrando que o comércio internacional continua abatido e, nos últimos meses, vêm caindo os preços de commodities importantes para o Brasil, caso da soja, café e milho.
Nem uma economia cada vez mais fraca, no entanto, parece ajudar a descomprimir a inflação: as projeções do Focus para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que vinham subindo, foram revisadas para baixo nesta semana, a uma mediana de 6,44% ante 6,48% no relatório anterior. Ainda assim, as projeções para o indicador seguem sólidas nos patamares bem próximos do teto da meta, de 6,5%, apesar não só do PIB mais fraco, mas também do dólar revisto para baixo e de outros índices de inflação, como o IGP-M e o IGP-DI, estarem em desaceleração. Os IGPs, que incluem custos de produção, estão sendo revisados para baixo no relatório do BC há 11 semanas, enquanto a expectativa para a cotação do dólar no fim de 2014 saiu de R$ 2,39 para R$ 2,35 na última semana. Atualmente, está em torno de R$ 2,20.
As expectativas para o IPCA no ano vão depender do desempenho do índice nos próximos meses. “Se no resultado de julho ele vier mais fraco do que o mercado espera, então é provável que o IPCA do ano possa, sim, ser um pouco menor”, diz Costa, da Rosenberg. “Quanto ao dólar, o que deve segurar uma alta maior é mesmo a política de swap cambial do BC”, disse, referindo-se às vendas de dólares que o Banco vem promovendo diariamente no mercado.
Alessandra Ribeiro, economista da Tendências Consultoria, acrescenta que a condução da economia pode ser tão diferente a depender de qual presidente seja eleito, que a indefinição deste cenário acaba deixando as principais projeções “oscilantes” e em compasso de espera. “A confiança, principalmente da indústria, continua desabando, e isso pega na atividade, sim. É aí que entra a importância das eleições em outubro, que estão ficando mais incertas”, disse.
Para o câmbio, por exemplo, a previsão da Tendências para 2014 é de R$ 2,45, caso Dilma Rousseff seja reeleita. Caso contrário, a previsão muda para R$ 2,10. A mesma lógica se repete no caso das projeções referentes à inflação dos preços administrados, que aparecem estáveis em 5% nas estimativas do Focus. Para 2015, essa projeção vem oscilando ao longo das semanas entre os 7% e os 6,5%, mas muito pouco colabora para a expectativa de um IPCA mais fraco.
“Se, no próximo ano, a presidente for a Dilma, podemos esperar um reajuste mais baixo, com mais aportes do Tesouro para segurar. Com Aécio [Neves] ou [Eduardo] Campos, já vemos um discurso de volta ao tripé econômico, o que pode levar a mudanças relevantes na política macroeconômica.”
Fonte: Valor Econômico