Medidas do BC injetam R$ 25 bi na economia

    Banco reduziu necessidade de depósitos compulsórios das instituições financeiras e reverteu medidas tomadas em 2010 para restringir o crédito

     

    Célia Froufe Victor Martins / BRASÍLIA

     

    Em mais uma tentativa de reanimar a economia, o Banco CENTRAL anunciou ontem que vai injetar mais RS 25 bilhões no sistema financeiro. As medidas são técnicas e voltadas para os bancos, mas o BC acredita que esse dinheiro pode se transformar em crédito para consumo e investimento.

     

    O BC aposta que novos mecanismos para estimular o financiamento de automóveis e motos serão o principal e mais veloz motor de repasse dos efeitos dos incentivos aos bancos para a economia, sob risco de registrar o segundo trimestre consecutivo de encolhimento.

     

    Com a alteração nas regras do depósito compulsório, dinheiro que os bancos são obrigados a manter no BC, geralmente sem remuneração, serão liberados RS 10 bilhões. Os bancos, principalmente os menores, conseguiram convencer o governo de que poderiam usar as chamadas Letras Financeiras ara compor esse colchão que fica parado no Banco CENTRAL.

     

    Uma outra parte das medidas deve ser responsável por uma injeção de R$ 15 bilhões no sistema financeiro. O seguro contra calotes, o chamado fator de ponderação de risco (FPR),foi fixado pelo BC em 75% do valor de cada operação de crédito no varejo. Isso significa menos exigência de capital dos bancos para garantir os riscos em financiamentos. Antes, esse índice variava de 75% a 300% do valor.

     

    Na prática, os bancos que precisarem de aportes por parte de acionistas para cumprir seus indicadores de solidez (as regras de Basileia), terão um alívio. A medida ainda tem potencial, em função da alavancagem (concessão de empréstimos além do dinheiro próprio), para ampliar em R$ 140 bilhões a oferta de crédito, segundo o BC.

     

    Todo esse volume de recursos, porém, pode não se tomar crédito. Isso porque a expansão dependerá da estratégia de cada Banco: se vai ampliar financiamentos e empréstimos ou usar os recursos para melhorar seus indicadores financeiros.

     

    As operações de crédito não estão mais limitadas a 60 meses, o que deve melhorar a demanda pelo dinheiro extra colocado no sistema financeiro. E o crédito consignado para servidores públicos passa a exigir um colchão de proteção menor contra calotes. Antes, os bancos tinham de manter R$ 75 de cada R$ 100 em caixa como “seguro”. Agora, serão RS 50.

     

    O diretor institucional e de Relações com Investidores do Banco Daycoval, Ricardo Gel-baum, disse não esperar um efeito imediato das medidas. “Não é com medidas isoladas que a demanda e a oferta vão reagir, mas no médio e longo prazo elas têm reflexos, porque uma maior liquidez e oferta (de crédito) geram confiança”, disse.

     

    No mercado, as regras até foram bem recebidas, mas não chegaram a causar euforia. A avaliação foi logo repassada ao BC, já que o diretor de Política Econômica, Carlos Hamilton, teve reuniões com economistas em São Paulo. Para os profissionais, os empréstimos não terão muita força para subir, já que a demanda segue enfraquecida.

     

    “Não vemos essas medidas afetando a atividade econômica ou a inflação. Apenas após as eleições, investidores e bancos talvez se sintam mais confiantes em usar a já ampla quantidade de recursos que têm em mãos”, disse o diretor de pesquisas para América Latina da Nomura, Tony Volpon. / colaboraram

     

    FRANCISCO CARLOS DE ASSIS, MARIA REGINA SILVA, CYNTHIA DECLOEDTE

     

     AS MEDIDASDO Banco CENTRAL

     

     • Menos compulsório

     

    Foi anunciada pelo Banco CENTRAL a liberação de parcela do depósito compulsório que os bancos são obrigados a recolher sem remuneração no BC. O objetivo é em R$ 10 bilhões a oferta de empréstimos.

     

    • Remuneração

     

    Foi ampliada, de 50% a 60%, a fatia dos depósitos compulsórios sem remuneração, como uma forma de estimular os bancos a emprestar. Os recursos podem ser usados para compra de operações de crédito de bancos menores ou em financiamentos a veículos e motos.

     

    • Bônus

     

    Banco CENTRAL dará um bônus para a instituição que ampliar seus financiamentos em mais de 20% para veículos, descontando esse valor do compulsório. Se o Banco não aumentara oferta nesse nfrel, em comparação com a média do l8 semestre do ano, não poderá usar o benefício.

     

    • Seguro

     

    0 seguro contra calotes, o chamado fator de ponderação de risco (FPR), foi fixado em 75% do valor de cada operação de crédi- to no varejo. Significa menos exigência de capital dos bancos para garantir os riscos em financiamentos. Antes, variava de 75% a 300% do valor. Essa medida pode injetar outros R$ 15 bilhões na economia.

     

    • Prazo

     

    Operações de crédito não estão mais limitadas a 60 meses, o que deve melhorar a demanda pelo dinhero extra colocado no sistema financeiro.

     

    • Consignado

     

    Crédito consignado para servidores púbicos passa a exigir um colchão de proteção menor corv tra calotes. Antes, os bancos tinham de manter R$ 75 de cada R$ 100 em caixa como “seguro”. Agora, serão R$ 50.

     

    • Captações

     

    Empresas que captavam ou estavam expostas a países considerados seguros (com selo AA- ou melhor dado pelas agências de rating) tinham obrigação de fazer um colchão de proteção de 20% de toda operação. A cada US$ 100 emprestados por uma empresa no exterior, tinham de guardar US$ 20. Agora, essa exigência caia ALINE BRONZATI

     

    Fonte: O Estado de S. Paulo

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