Por Silvia Rosa e José de Castro | De São Paulo
Um ano após o lançamento do programa de intervenção diária no mercado de câmbio, o Banco CENTRAL tem obtido retorno positivo com suas posições em contratos de swaps cambiais. Até o dia 15 de agosto, o BC acumulava ganho contábil de R$ 16,563 bilhões.
A oferta de contratos de swap cambial equivale a uma venda de dólares no mercado futuro, em que o BC paga aos investidores a taxa do cupom cambial (que representa a taxa de juros em dólar) mais a variação do câmbio. Em troca, recebe a rentabilidade do Depósito Interfinanceiro (DI) no período. De 22 de agosto de 2013 até ontem, o dólar caiu 6,76%. Ontem, a moeda americana subiu 0,23% a R$ 2,2678.
O lucro do BC com essas operações é contábil porque, até fevereiro, ele vinha rolando os contratos de swap cambial que estavam vencendo, aumentando o estoque nesses derivativos. No entanto, a partir de março, o BC passou a realizar de fato parte do lucro com essas operações ao não fazer a rolagem integral dos lotes de swaps a vencer, deixando liquidar parte desses contratos.
Até 1º de agosto, o BC já deixou de rolar US$ 13,651 bilhões em contratos que venceram, o que representa, na prática, uma retirada de dólares desse montante. Neste mês, o BC já rolou US$ 6,5 bilhões do lote de US$ 10,07 bilhões de swaps cambiais que vence em 1º de setembro. Se mantiver esse ritmo, o BC deve deixar vencer cerca de US$ 570 milhões.
O BC também vem diminuindo a rolagem de linhas de dólar com compromisso de recompra, reduzindo o estoque desses instrumentos de US$ 16,980 bilhões em dezembro para US$ 200 milhões.
O Banco CENTRAL tem aproveitado o fluxo positivo neste ano e a menor volatilidade no mercado de câmbio para diminuir o estoque em swaps cambiais tradicionais, que hoje soma US$ 92,756 bilhões.
O programa de intervenção no câmbio foi lançado pelo BC em 22 de agosto de 2013 diante da escala do dólar, que começou em maio do ano passado quando o Federal Reserve (Fed, Banco CENTRAL americano) sinalizou pela primeira vez a retirada dos estímulos monetários, o que despertou um temor nos investidores de que ele pudesse antecipar a alta da taxa básica de juros nos Estados Unidos. Desde então, o programa foi renovado duas vezes, com o BC estendendo os leilões diários de swaps até 31 de dezembro.
Não há dúvidas no mercado quanto ao sucesso do programa, mas analistas começam a questionar a necessidade do BC de prorrogar a oferta diária de swaps, dado o estoque relevante nesses derivativos e a necessidade de ajuste para cima do câmbio para melhorar o déficit em conta corrente, que soma 3,58% do PIB no acumulado de 12 meses encerrados em junho.
No entanto, muitos ainda veem que algum grau de intervenção no câmbio ainda pode ser necessário em 2015, dado o cenário de inflação próxima ao teto da meta e da perspectiva da normalização da taxa básica de juros nos EUA, que poderá reduzir o fluxo para mercados emergentes.
Investidores aguardam o discurso da presidente do Fed, Janet Yellen, hoje em Jackson Hole, que pode trazer novos sinais sobre a condução da normalização da política monetária nos EUA.
Fonte: Valor Econômico