Autoridade elevou taxa a 12,25% para tentar barrar ajustes generalizados na economia
A decisão, tomada ontem de forma unânime em reunião do Comitê de política monetária (Copom) do BC, já era amplamente esperada pelo mercado. No comunicado o colegiado presidido por ALEXANDRE TOMBINI não deu acenos sobre os passos futuros. Ao não condicionar temporalmente a decisão com o termo “neste momento” e abandonar o uso da palavra “parcimônia”, o Copom ganhou graus de liberdade para conduzir as expectativas até a reunião de 3 e 4 de março.
O comunicado seco e objetivo, dizendo apenas que a decisão levou em conta o “cenário macroeconômico e as perspectivas para a inflação”, aumenta a expectativa com relação à ata que sai na semana que vem.
Por ora, as apostas estão divididas entre uma provável redução do ritmo de alta da Selic no encontro em março, para 0,25 ponto percentual, ou outra dose de 0,50 ponto, com concentração de estimativas em um eventual encerramento no encontro de abril do atual ciclo de aperto monetário, que acumula cinco pontos percentuais desde abril de 2013.
Para o ex-presidente do BC e atual diretor do Centro de Economia Mundial da Fundação Getulio Vargas (FGV), Carlos Langoni, o governo está tentando ganhar a “batalha das expectativas”, perdida nos últimos dois anos. “E vencer essa batalha é muito importante, tanto do ponto de vista de inflação quanto de consistência macroeconômica, porque afasta definitivamente o risco de rebaixamento do rating do Brasil”, diz.
Com seu comunicado curto, o Copom mantém viva a mensagem de que fará o “que for necessário” para pôr a inflação rumo à meta (4,5%) em 2016, presente no Relatório Trimestral de Inflação (RTI) de dezembro, segundo o economista- chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves. Para ele, com a percepção de que a política fiscal vai para o campo contracionista após as medidas adotadas pelo governo, o BC pode encerrar o processo de aperto em março com uma alta da Selic em 0,25 ponto percentual, para 12,50% ao ano.
Além disso, com os juros baixos no exterior, dado o ambiente desinflacionário nos países desenvolvidos, é possível que haja mais apetite por ativos domésticos, o que dá suporte ao real.
“O risco de alta do dólar sempre vai existir, mas ele parece menor, o que sugere uma alta menor da Selic em março.” O economista acrescenta que a possibilidade de inflação mais elevada em janeiro e fevereiro “já está na conta” do Copom.
Os riscos inflacionários identificados pelo Banco CENTRAL pioraram nas últimas semanas, com as perspectivas de intensificação dos reajustes de tarifas públicas, como energia elétrica, transportes e combustíveis. Mas a essência de seu cenário pouco mudou, com uma alta mais forte dos índices de preços em janeiro e fevereiro e uma tendência de longo declínio que começaria ainda neste ano e que levaria o IPCA para a meta em 2016.
Pelas mais recentes projeções do BC, divulgadas em dezembro, a inflação deve ficar entre 6% e 6,1% em 2016, mas recuaria para cerca de 5% em 2016. Nas suas estimativas, a autoridade monetária trabalhava com um reajuste de 17% nas tarifas de energia elétrica, que hoje parece muito pequeno para fazer frente aos desarranjos do setor.
O reajuste mais forte nas contas de luz aumenta o risco de um eventual estouro do teto da meta de inflação deste ano, definido em 6,5%. Mas o BC tem lembrado que também há fatores positivos no horizonte. Um deles é a queda da cotação internacional do petróleo, que tende a se transmitir à inflação doméstica não apenas por meio dos preços dos combustíveis, mas também pelos preços de outros derivados.
O economista-chefe do Banco Santander, Maurício Molan, consdiera que o BC “não se mostrou sensível” ao risco de a atividade econômica se enfraquecer muito neste ano. O anúncio da decisão do BC veio no mesmo dia em que o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, disse a investidores em Davos, na Suíça, que o PIB do Brasil ficará “estável” em 2015.
O economista do Santander considerou o tom do comunicado “mais duro” que o esperado, uma vez que, segundo ele, havia dúvidas entre uma alta de 0,25 ponto e de 0,50 na próxima reunião.
“Pelo comunicado, não há sinalização de que ele [BC] vai reduzir o ritmo de alta dos juros em março…
O BC está deixando implícito que vai haver outro aumento de 0,50 ponto”, afirma Molan.
Ainda assim, Molan vê uma probabilidade considerável de o BC reavaliar o ritmo de aumento dos juros já em março, quando poderá haver um acréscimo de 0,25 ponto na Selic. “Até lá vamos enxergar dados de atividade econômica ruins.
Além disso, o BC provavelmente vai reconhecer o impacto benigno da política fiscal sobre a inflação.” O BC tem alertado que os estímulos fiscais introduzidos pelo governo ao longo de 2014 atuam com defasagem sobre os índices de preços, e devem afetar a inflação mais imediata. Também há pressão de custos salariais, num mercado de trabalho ainda com baixa ociosidade, e expectativas de inflação ainda elevadas para este ano. O Focus mostra IPCA em 6,67% no fim de 2015.
A aposta do BC é que, mais adiante, esses fatores se revertam.
Levy anunciou medidas de ajuste fiscais, como cortes de despesas e aumento de impostos, que deixaram o mercado financeiro mais esperançoso sobre o cumprimento da meta de superávit primário de 1,2% do PIB neste ano. Se isso de fato ocorrer, a política fiscal se deslocará, no mínimo, para o campo neutro e, possivelmente, para o campo contracionista. Isso começaria a ajudar nos esforços do BC para baixar a inflação já entre fins de 2015 e início de 2016.
O BC também tem lembrado que uma boa parte da alta de juros – especialmente a mais recente – ainda não teve tempo para se transmitir para a atividade econômica e para a inflação.
Os efeitos mais imediatos da política monetária são, sobretudo, sobre as expectativas.
Apesar de toda a pressão inflacionária entre janeiro e fevereiro, período para o qual o mercado antecipa uma variação mensal de preços em torno de 1%, as expectativas do mercado para a variação do IPCA em 2016 seguem mais ou menosestáveisem5,7%.
Aantecipação dos reajustes de tarifas públicas, tem lembrado o BC, contribui para reduzir incertezas no cenário inflacionário de 2016 e torna mais fácil a coordenação da expectativas.
As condições monetárias internacionais mais relaxadas do que as inicialmente previstas também contribuem para uma menor depreciação da taxa de câmbio no Brasil.
Com comunicado curto, BC mantém mensagem de que fará o necessário para pôr inflação rumo à meta em 2016
Fonte: Valor Econômico