Dólar e juros subiram, enquanto bolsa caiu com dúvida sobre ajuste fiscal
A piora da percepção de risco em relação ao Brasil, em meio à crescente preocupação com os fundamentos domésticos, levou o mercado financeiro a ter um dia de elevada tensão.
O dólar superou os R$ 2,83 ontem, no maior nível em mais de uma década. Os juros futuros subiram, projetando alta maior da taxa Selic.
A Bovespa fechou no vermelho.
Declarações duras do diretor de assuntos internacionais do Banco CENTRAL, Luiz Awazu Pereira, em evento do G-20, que praticamente selaram a continuidade do aperto monetário, também mexeram com o mercado.
“O cenário pior para a economia em 2015 está se materializando”, afirma Alberto Ramos, diretor de pesquisas econômicas para a América Latina do Goldman Sachs.
O dólar subiu 2,06% e terminou a R$ 2,8355, maior patamar desde 8 de novembro de 2004. No mês, a valorização da moeda chega a 5,45%. O Ibovespa caiu 1,77%, a 48.510 pontos, nível mínimo do dia, pressionado por Vale PNA (-4,78%) e Petrobras PN (-3,87%).
“O câmbio já está refletindo a preocupação em relação a um possível ‘downgrade’ do rating do Brasil.
As medidas de ajuste fiscal anunciadas pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, foram positivas, mas o que estamos vendo é o risco do Congresso barrar essas medidas, o que torna mais difícil a tarefa de colocar a dívida pública em uma dinâmica mais sustentável”, diz Luciano Rostagno, do Banco Mizuho do Brasil.
Dúvidas sobre a capacidade do governo de entregar a meta de superávit primário de 1,2% do PIB, o impacto da crise na Petrobras na economia e o risco de um racionamento de energia contribuem para aumentar a percepção de risco em relação ao Brasil e trazem de volta a preocupação com um rebaixamento.
O “credit default swap” (CDS) do Brasil de cinco anos – que mede o risco de calote da dívida soberana dos países -, que estava em 200 pontos-base há duas semanas, alcançou os 245 pontos-base.
O risco de um rebaixamento do rating soberano do Brasil aumentou após o resultado fiscal pior que o esperado de 2014, que mostrou déficit primário de 0,6%.
Para Ramos, apesar do risco de rebaixamento da nota de crédito do Brasil neste ano – que levaria à perda do grau de investimento – ser baixo, há uma preocupação com o resultado fiscal. “Acho o risco baixo, a não ser que se tenha uma piora daqui para frente na parte fiscal.” Outro fator que tem preocupado os investidores é a queda da aprovação do governo da presidente Dilma Rousseff e o risco de governabilidade.
Embora os investidores não vejam um risco concreto de um impeachment da presidente, a discussão já está no mercado.
Algumas instituições calculam um risco de 30% de uma saída da presidente Dilma.
“Embora as chances tenham aumentado, elas não estão nem perto de serem altas. No entanto, o mero fantasma do impeachment é suficiente para mudar o debate político e engordar os riscos de cauda no Brasil”, afirma o Banco Brown Brothers Harriman em relatório. (Colaborou Téo Takar)
Fonte: Valor Econômico