Por Silvia Rosa e Lucinda Pinto | De São Paulo
O dólar voltou a ganhar força diante do real, após o alívio verificado no pregão anterior. A continuidade das dúvidas em relação ao ajuste fiscal e às atuações do Banco CENTRAL no mercado de câmbio segue dando alento à tendência de alta do dólar, o que tem reforçado as apostas de que o Copom não terá espaço para reduzir o ritmo de elevação da taxa básica de juros.
Ontem a moeda americana registrou valorização de 0,84%, para encerrar a R$ 3,1282, maior patamar desde 28 de junho de 2004.
A escalada da moeda dos EUA, que tem alta acumulada de 17,61% no ano, reforça a leitura de que o Banco CENTRAL terá que estender o ciclo de aperto monetário. Hoje o BC divulga a ata da última reunião do Copom e é esperada uma mudança das projeções para este ano e para 2016.
O dólar chegou a cair ontem no início da tarde, sendo negociado a R$ 3,0832 na mínima do dia. Analistas relatam ter verificado uma venda significativa de dólares por parte de três grandes instituições financeiras, o que ajudou a derrubar a moeda americana no começo da tarde, mas o movimento não se sustentou por muito tempo.
Ontem na BM&F a taxa do DI (Depósito Interfinanceiro) para janeiro de 2016 recuou para 13,69%, ante 13,73% do ajuste do pregão anterior. Já a taxa do DI para janeiro de 2021 caiu para 13,07%, ante 13,03% do ajuste do pregão anterior, acompanhando o cenário internacional.
Apesar dos investidores corrigem parte do excesso dos prêmios embutidos nos contratos de Depósito Interfinanceiro de prazos mais curtos, a curva de juros ainda mostra maior probabilidade de uma alta de 0,75 ponto percentual na Selic na próxima reunião do Copom, em abril. Mas, entre analistas, essa ideia ainda não está incorporada às projeções. O que parece mais provável é que o BC repita a dose de 0,5 ponto percentual, dado o cenário de fraca atividade econômica, e evite dar sinais de encerramento do ciclo.
Segundo o sócio-gestor da Leme Investimentos, Paulo Petrassi, há o risco de um rebaixamento do rating soberano brasileiro por uma das duas agências de classificação de risco – Fitch e Moody”s – que ainda mantêm a nota de crédito do Brasil acima do grau de investimento. “Será difícil termos uma boa notícia no curto prazo no cenário local e, com bons indicadores econômicos nos Estados Unidos, devemos ver a alta do dólar”, afirma.
Há ainda dúvidas sobre a atuação do Banco CENTRAL no mercado de câmbio. A sinalização da possibilidade de rolagem parcial do lote de US$ 9,964 bilhões que vence em abril reforçou a leitura de que a autoridade monetária está caminhando para reduzir as atuações no câmbio e poderá encerrar o programa de “ração diária”, que foi estendido para o fim de março.
Por isso, Petrassi vê o risco do Banco CENTRAL ter que acelerar o ritmo de alta da taxa Selic na próxima reunião do Copom. “O “pass through” [repasse do câmbio para a inflação] é de 0,5 ponto percentual e o cenário para o dólar não vai mudar. Por isso, o mercado discute se o aumento na próxima reunião do Copom será de 0,5 ponto ou 0,75 ponto.”
A piora do cenário doméstico, com o aumento do risco político e preocupações com a extensão do impacto da operação Lava-Jato, tem contribuído para intensificar o movimento de alta do dólar – que ocorre de forma global – no mercado local. “Estamos vendo uma mudança estrutural do valor do dólar no mundo, e isso não tem como evitar”, afirma um profissional.
Fonte: Valor Econômico