Temer acerta nomeação de Henrique Alves

    Em pouco mais de 24 horas na função de articulador político do governo, o vice-presidente Michel Temer arrematou o pacto da base aliada pelo ajuste fiscal, liquidou o embate interno do PMDB pelo Ministério do Turismo e promoveu a reaproximação da presidente Dilma Rousseff de caciques pemedebistas. Com a mediação do vice, Dilma aconselhou-se com o senador Jader Barbalho (PMDB-PA) e restabeleceu o diálogo com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).

     

    O ex-ministro da Secretaria de Relações Institucionais Pepe Vargas confirmou o convite para assumir a Secretaria Nacional de Direitos Humanos, no lugar de Ideli Salvatti, e disse que deixa a pasta “sem nenhuma mágoa”, após descobrir pela imprensa que seria substituído pelo PMDB. “Desejo todo o sucesso a Temer, o sucesso dele será o sucesso da presidente Dilma”, afirmou.

     

    Por sua vez, Ideli Salvatti foi sondada sobre a possibilidade de assumir um cargo de comando nos Correios – a vice-presidência ou uma diretoria -, e não a presidência da estatal, como chegou a ser informado. Ideli é um quadro orgânico do PT e da confiança de Dilma, que gostaria de mantê-la no governo. O presidente dos Correios, Wagner Pinheiro – ligado ao PT e um nome da confiança do ministro das Comunicações, Ricardo Berzoini – segue no comando da empresa.

     

    À frente da nova função, Temer deu cabo de uma crise que consumia o PMDB há semanas: a nomeação do ex-presidente da Câmara Henrique Alves para o Ministério do Turismo. A nomeação de Alves – uma promessa que remonta ao ano passado, desde a reeleição de Dilma – estava parada depois que Renan Calheiros – padrinho político do titular da pasta, Vinícius Lages – passou a hostilizar o Planalto por causa da substituição.

     

    A partir de então, o Senado transformou-se em terreno difícil para o governo. Renan devolveu a medida provisória que tratava da revisão da desoneração da folha de pagamento. Em seguida, pautou a autonomia do Banco CENTRAL, tema indigesto ao Planalto, como tema prioritário da Casa.

     

    Mas na primeira entrevista como coordenador político, ontem, Temer afirmou que Alves “seguramente” terá participação no governo, sem adiantar o cargo. Mas o Valor apurou com auxiliares da presidente que Alves assumirá o Turismo, conforme prometido.

     

    O passo seguinte é contemplar Renan Calheiros, que no passado também era padrinho do então presidente da Transpetro, o ex-senador Sérgio Machado. Ontem à tarde, Dilma recebeu Renan para uma conversa reservada no Planalto. Foi um encontro melhor que o primeiro, ocorrido há três semanas no Palácio da Alvorada.

     

    Temer também está aproximando Dilma com outras lideranças do partido. Ontem, depois de um jantar no Palácio do Jaburu em que reuniu a cúpula do PMDB, Temer levou o senador Jader Barbalho – pai do ministro da Secretaria de Pesca e Aquicultura, Helder Barbalho – para uma conversa reservada com a presidente no Alvorada. Ex-presidente do Senado e hábil articulador político, Barbalho fez uma análise meticulosa da conjuntura desfavorável ao governo.

     

    O principal feito de Temer, ontem, contudo, foi reunir a assinatura dos presidentes dos partidos e líderes da base aliada na Câmara e no Senado em compromisso de apoio ao ajuste fiscal encaminhado pelo governo e de evitar matérias legislativas que impliquem aumento de gastos ou redução de receitas. O documento ressalva que os parlamentares podem promover “eventuais melhorias” nas medidas de ajuste.

     

    “Renovamos o compromisso [com o equilíbrio econômico] num momento político ainda mais difícil”, disse ao Valor o líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE), ao lembrar o pacto pelo equilíbrio fiscal firmado em 2013. Defensor do acordo, Oliveira disse que o PMDB não pode abrir mão do compromisso com a responsabilidade fiscal e a recuperação do crescimento econômico. Ao final da reunião com aliados, Temer saiu escoltado por Eunício e pelo líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani (RJ), num gesto que simboliza o esforço de unificar, não apenas a base aliada, mas principalmente o PMDB.

     

    Fonte: Valor Econômico

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