Denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) por crimes de lavagem de dinheiro e corrupção passiva, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), disse em nota que é inocente e continuará comandando a Casa “com a mesma lisura e independência que sempre o nortearam”.
Refratário a deixar o cargo, o pemedebista já se preveniu caso o Supremo Tribunal Federal (STF) aceite a denúncia e o torne réu. “Em 2013, por outro motivo, fui denunciado pelo Ministério Público Federal. A denúncia foi aceita pelo STF por maioria e, posteriormente, em 2014, fui absolvido por unanimidade.”
Cunha estava em seu gabinete quando recebeu a confirmação da denúncia. Enquanto um grupo de deputados pedia sua saída em entrevista a poucos metros da sala da presidência, o pemedebista reunia deputados aliados para elaborar a nota divulgada duas horas depois da acusação.
Antes de responder, Cunha leu todas as 85 páginas encaminhadas pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e rebateu pontos da acusação que, segundo relatos, teria julgado “fraca”. “Vimos uma denúncia muito rica em opiniões, mas carente de provas”, afirma o deputado Carlos Marun (PMDB-MS). A acusação, disse, não mostra nenhuma conta no nome do presidente.
Aos aliados, Cunha repetiu o que vem dizendo desde o doleiro Alberto Youssef citá-lo no escândalo da Petrobras em fevereiro: é perseguido por sua posição independente no comando da Câmara. “Fui escolhido para ser investigado e, agora, ao que parece, estou também sendo escolhido para ser denunciado, e ainda figurando como o primeiro da lista”, disse.
Ele procurou ainda marcar posição em relação ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), também investigado, mas, por ora, fora da lista de denunciados e que fechou acordo com o governo. Na nota, Cunha frisou que não participou nem participará de “qualquer acordão” e, com os desdobramentos do caso, “assistiremos a comprovação da atuação do governo” que reconduziu Janot para a PGR “na tentativa de calar e retaliar minha atuação política”.
“É muito estranho não ter ainda nenhuma denúncia contra membro do PT ou do governo detentor de foro privilegiado. À evidência de que essa série de escândalos foi patrocinada pelo PT e seu governo, não seria possível retirar do colo deles e tampouco colocar no colo de que sempre contestou o PT, os inúmeros ilícitos praticados na Petrobras”, escreveu.
Em resposta, a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República divulgou nota oficial em que diz que não comentará as acusações. “O governo da presidenta Dilma acredita na isenção das instituições que apuram as denuncias.”
Nos bastidores, aliados veem nos ataques a Janot um dos motivos para Cunha ser o primeiro da lista de indiciados e, por isso, o pemedebista foi aconselhado por alguns a “aliviar” no tom para não “bater de frente” com o PGR, mas ignorou. “Respeito o Ministério Público Federal, como a todas as instituições, mas não se pode confundir trabalho sério com o trabalho de exceção, no meu caso, feito pelo procurador-geral.”
Declarou ainda estar aliviado agora, após a apresentação da denúncia, pois as “ilações” da PGR passarão a ser analisadas pelos ministros do STF, em quem confia “plenamente na isenção e na imparcialidade […] para conter essa tentativa de injustiça”.
Após a denúncia, Cunha evitou a imprensa, mas pela manhã afirmou que recebeu várias manifestações de apoio de parlamentares. “[A acusação não muda] Nem na minha agenda, nem na minha vida, nem em absolutamente nada”, disse.
Fonte: Valor Econômico