Piora da recessão pesa no cenário do impeachment

    A tramitação do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff vai coincidir com a divulgação de notícias muito ruins pelo lado da economia nos próximos meses. Essa é uma das razões pelas quais o governo torce para que o tema seja derrubado na Câmara em um curto espaço de tempo.

    Quanto mais demorado, mais o processo poderá ser influenciado por manifestações contra o aumento do desemprego, a inflação de dois dígitos e a recessão, cuja sensação de mal-estar se agrava pela falta de perspectiva de retomada do crescimento.

    É nesse ambiente que o Comitê de Política Monetária (Copom) vai se reunir em janeiro para uma possível elevação da taxa de juros básica da economia, a Selic. O Banco Central vai fazer o que for necessário, como deixou claro na ata do Copom, para cumprir dois objetivos: levar a inflação de 10,5% para a meta em 2016 – ou seja, limitada ao teto de 6,5% – e fazer a convergência para a meta de 4,5% em 2017.

    Para o BC, o ambiente político não mudará seu roteiro de trabalho. Em meados deste mês, o Federal Reserve (Fed, banco central americano) deve começar a mexer na taxa de juros de forma bastante cuidadosa, mas será preciso pilotar a reação dos mercados. A tarefa da autoridade monetária, assim, será pautada por “mais do mesmo”, disse uma fonte.

    A expectativa é que a inflação ceda pelo menos dois pontos percentuais logo no início de 2016, caindo dos 10,5% para 8,5% em 12 meses. Isso, porém, vai depender do comportamento dos preços administrados que este ano tiveram participação de 18% no IPCA e o BC espera que se restrinja a 5% ou 6% em 2016. Os administrados encontram-se, hoje, no mesmo nível em que estavam em 2011, quando não se falava de defasagem.

    Do lado externo, a desvalorização cambial de cerca de 30% reverteu o déficit em conta corrente do balanço de pagamentos que caiu US$ 40 bilhões e tende ao equilíbrio.

    O custo unitário do trabalho, que no ano passado superava o do trabalhador americano e era um dos pontos de perda da competitividade da economia brasileira, teve queda de 35% sobre o seu nível máximo em 2014. Hoje, está no patamar de 2009 por causa não só do câmbio, mas da inflação e do hiato do produto.

    O ajuste externo e a correção dos administrados, que foram feitos este ano, não se perdem, a não ser que a inflação se descontrole. O BC conta ainda com um refresco no processo de correção das tarifas de energia, que este ano experimentou alta de 52%. Para 2016, a expectativa é que a bandeira vermelha – que sinaliza custo elevado da energia – seja revertida para a amarela – sobre a qual incide cobrança mais moderada para o consumidor.

    Os reajustes dos administrados, na visão de economistas do governo, impediu uma queda dos preços dos serviços a despeito da redução da demanda. Na área de serviços, o que está ocorrendo é ajuste na oferta. O comércio está optando por fechar as portas e não por reduzir preços.

    É com base nesse cenário, e diante de um possível acirramento das forças contra e pró-impeachment, que o Copom vai se reunir nos dias 19 e 20 de janeiro para fixar a nova taxa Selic. Há uma visão, entre os economistas do governo, de que diante das incertezas da política fiscal, caberá ao BC assegurar a estabilidade econômica frente às turbulências políticas.

     

    Fonte: Valor Econômico

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