Eleição da comissão especial no plenário teve bate-boca, quebradeira e por muito pouco deputados não trocaram agressões físicas
Eram 17h15 quando o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, investigado por denúncias de corrupção e lavagem de dinheiro, abriu a sessão de votação da chapa que constituiria a comissão especial destinada a analisar o processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff. Foi dada ali a largada para uma das sessões mais conturbadas do Congresso, com bate-boca e muita confusão. Revoltados com a votação secreta, governistas se posicionaram em frente às urnas de votação para impedir o acesso dos colegas e desconectaram os aparelhos, alguns inclusive foram quebrados. Pelo menos 10 das 14 urnas eletrônicas disponíveis chegaram a ser danificadas.
O dia da instalação da comissão que terá papel decisivo no destino da presidente Dilma Rousseff foi marcado por muitas discussões no plenário. Parlamentares protagonizaram diversos momentos de quase agressão física ao redor das urnas. Os gritos de “voto aberto”, “não vai ter golpe” e “deixa eu votar” reverberaram entre os deputados. Em um das cenas que se repetiram diversas vezes ao longo da sessão, o deputado José Carlos Aleluia (DEM-BA), do lado de fora de uma das cabines de voto, brigava com o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), que estava dentro dela. A confusão só cessou quando todos os seguranças se posicionaram em frente às cabines formando uma barreira. Eles foram acionados para garantir a “liberdade de votação”, segundo Cunha.
Enquanto parlamentares governistas e da oposição brigavam entre si na lateral do plenário, em um local mais central, a deputada Maria do Rosário (PT-RS) gritava e reclamava do deputado Paulinho da Força (SD-SP). Ele chegou a dizer que o líder do PMDB, Leonardo Picciani (RJ), ameaçado de destituição pela própria bancada, havia lhe agredido com um soco. O peemedebista negou. Outros parlamentares disseram que Maria do Rosário havia sido empurrada, mas ela também negou e disse que houve um mal-entendido porque Paulinho queria interferir em um vídeo que ela estava fazendo para gritar “Fora Dilma”. Mesmo assim, ela não mediu críticas ao deputado. “Esse Paulinho da Força é um dos maiores ladrões do Brasil. É isto que está colocado aqui”, disse. Enquanto governistas bradavam “não vai ter golpe”, oposicionistas estavam com o pixuleco do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Para Paulinho, a atuação de deputados governistas ao quebrar as urnas de voto secreto impulsionou o resultado. “A turma do governo foi pra frente das urnas e impedir que os deputados votassem. Isso acabou criando um tumulto”, afirmou. Ele acusou o líder do PMDB, deputado Leonardo Picciani (PMDB-RJ), a agredi-lo com um soco no momento da confusão. O peemedebista nega a acusação.
MicrofonesA ideia dos governistas era ganhar tempo para esperar o Supremo Tribunal Federal se pronunciasse sobre as ações ajuizadas contra a votação secreta para, então, suspender a sessão ou reverter o resultado. “Não é possível, a cada momento, se criar uma regra. Chegamos ao absurdo de ter um anúncio de que será uma votação por voto secreto, quando o próprio Congresso, em emenda à Constituição, acabou com o voto secreto e expressamente determinou na Constituição quais são os casos em que o voto é secreto”, disse o líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani.
Apesar da derrota, por 272 a 199, o deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS) afirmou não reconhecer o resultado da votação. “Há, inclusive, duas ilegalidades, e a primeira delas é o voto. E a segunda delas é a maneira como foi feita a condução, aceitando a inscrição. Um procedimento totalmente absurdo. Nós tentamos uma questão de ordem. Mas isso foi conduzido da maneira mais autoritária. Então vamos esperar o resultado da ação”, disse Pimenta. Cunha chegou a cortar o microfone da Casa o que impediu discursos de parlamentares. Apesar das contestações, o presidente da Casa afirmou estar “absolutamente seguro” da legalidade do processo.
14 Quantidade de urnas eletrônicas utilizadas na votação secreta. Pelo menos 10 acabaram danificadas
Fonte: Correio Braziliense