Dólar reage à cena política e à ação do BC com nova mínima no ano

    Os mercados locais de câmbio e juros mais uma vez destoaram do movimento no exterior, influenciados por notícias no cenário político doméstico.

    O avanço das investigações da Operação Lava-Jato tem intensificado as apostas no impeachment da presidente Dilma Rousseff e sustentado o rali do real e a queda dos juros futuros de longo prazo.

    Ontem, o dólar renovou a mínima no ano, encerrando em queda de 1,46% a R$ 3,7364, menor patamar desde 24 de novembro de 2015, com o real apresentando a segunda melhor performance, atrás do iene.

    As apostas no impeachment da presidente Dilma têm levado a uma forte queda das taxas de juros mais longas. Mas alguns analistas já começam a ver certo exagero nesse movimento.

    Ontem, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2021 recuou de 14,89% para 14,64%. “Esse movimento me parece exagerado demais. Temos ainda muitas incertezas tanto no cenário interno quanto no externo”, diz Paulo Nepomuceno, estrategista de renda fixa da Coinvalores.

    Segundo analistas, esse movimento de queda das taxas de juros longas tem sido liderado por investidores locais, que têm ajustado suas posições em função das mudanças no cenário político.

    Isso também se refletiu nos títulos públicos, com aumento da demanda de tesouraria de bancos locais por Notas do Tesouro Nacional – série B (NTN-B) com prazos mais longos, cujas taxas recuaram para abaixo de 7%.

    A aproximação das investigações da Operação Lava-Jato de pessoas próximas do governo, especialmente após a condução coercitiva do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para depor, tem sustentado um rali dos ativos locais, diante da possibilidade de mudança da política econômica.

    A notícia sobre a condenação de Marcelo Odebrecht a mais de 19 anos de prisão ontem aumentou as especulações sobre a possibilidade de o empresário fechar um acordo de delação premiada e contribuiu para a queda do dólar no mercado local.

    O movimento também foi sustentado pelas atuações do Banco Central e pela redução das posições compradas em dólar, tanto de locais quanto de estrangeiros.

    A posição dos investidores estrangeiros comprada na moeda americana, em contratos futuros de dólar e cupom cambial, recuou para US$ 17,566 bilhões no dia 7 de março, ante US$ 20,642 bilhões registrado em 29 de fevereiro.

    A manutenção da rolagem dos contratos de swap cambial que estão vencendo e o anúncio de um leilão de linha de dólar com compromisso de recompra para hoje ajudaram a trazer um alívio para os investidores, que estavam receosos sobre a continuidade das intervenções no mercado de câmbio, depois de a autoridade monetária ter realizado a rolagem parcial dos contratos de swap no leilão da última sexta-feira.

    Ontem, o BC renovou todos os 9.600 contratos de swap ofertados no leilão, que venceriam em abril. A autoridade monetária ainda anunciou que ofertará hoje US$ 2 bilhões por meio de leilão de linha de dólar. O BC não fazia uma nova venda de dólares por meio de leilão de linha desde 22 de dezembro de 2015, quando ofertou US$ 500 milhões.

    Apesar da queda do dólar, o fluxo cambial mostra saída de recursos e estava negativo em US$ 6,045 bilhões no ano até 26 de fevereiro.

     

    Fonte: Valor Econômico

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