O presidente interino Michel Temer escolheu ontem o ex-líder da bancada tucana Aloysio Nunes Ferreira (SP) para o cargo de líder do governo no Senado, depois que outros senadores, inclusive do PMDB, recusaram o convite para assumir o cargo. Pesou a avaliação de que a nomeação de Nunes consolidaria a participação do PSDB no governo, o que Temer considera indispensável para viabilizar sua gestão.
Integrante da Executiva Nacional do PSDB, Nunes foi candidato a vice na chapa encabeçada pelo presidente nacional da sigla e senador Aécio Neves (MG) em 2014. Além disso, Nunes tem trânsito fluente não apenas na oposição, como junto ao grupo de senadores que se autodenominam “independentes”. Esse grupo de senadores está na mira da presidente afastada Dilma Rousseff para tentar conquistar votos contrários ao impeachment na Casa.
A indefinição sobre o líder do governo no Senado arrastava-se há mais de uma semana, dificultando a articulação de Temer para confirmar o impeachment de Dilma na Casa. Até que na tarde de segunda-feira, Temer chamou ao Palácio do Planalto o líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE), com quem discutiu a possibilidade do tucano assumir o cargo. Eunício sondou Nunes, enquanto Temer discutiu o tema com Aécio.
Sem opções no PMDB, depois da recusa da senadora Simone Tebet (MS), e em outras siglas – nomes do PSB e do PP também rechaçaram a oferta -, Temer definiu que deveria oferecer o cargo ao PSDB para “amarrar o partido ao governo”. A recente declaração do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso de que “se o governo for para um caminho que achamos errado, então o PSDB sai” acendeu o sinal amarelo no Planalto. Temer tem convicção de que o apoio sólido do PSDB é essencial para viabilizar a sua gestão.
Ontem no final da manhã Nunes foi ao Planalto, onde se reuniu com Temer e aceitou a missão. Nunes atuará em dobradinha no Senado com o líder do PMDB, Eunício Oliveira, e com o ex-ministro do Planejamento, senador Romero Jucá, um dos articuladores mais eficientes do Senado. O Planalto cogitou nomear Jucá para a liderança do governo, mas ao final concluiu-se que essa nomeação poderia significar um “tiro no pé”, porque o ex-ministro do Planejamento, que é investigado na Operação Lava-Jato, responderá a um duro processo de cassação no Conselho de Ética.
Com Nunes na liderança, o PSDB passa a ser um dos partidos mais bem representados no governo Temer: o senador José Serra (SP) é o atual ministro de Relações Exteriores e deputado Bruno Araújo (PE) comanda a cobiçada pasta das Cidades. Ontem Aécio Neves, que também se reuniu com o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, disse que Nunes na liderança aproxima a gestão Temer das propostas do PSDB, como a “renovação dos métodos de se fazer política, reformas estruturantes, inclusive, uma reforma política”. Nunes disse que terá a missão de “aprovar medidas para fazer girar a economia”, aprimorar o diálogo com a oposição e ajudar a confirmar o impeachment de Dilma.
Fonte: Valor Econômico