O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15) surpreendeu para baixo em julho ao registrar deflação de 0,18% – a menor prévia da inflação oficial do país apurada nos últimos 19 anos, desde setembro de 1998 (-0,44%). Alimentos e combustíveis foram os principais responsáveis pela queda, mas a boa notícia é que os serviços seguem em desaceleração.
Conforme dados de julho divulgados pelo IBGE, a prévia da inflação acumulada em 12 meses desacelerou para 2,78%, de 3,52% no mês anterior. O resultado deixou o IPCA-15 abaixo do piso do intervalo de tolerância do sistema de metas de inflação, de 3% este ano. O alvo perseguido pelo BC é 4,5%, com margem de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Trata-se ainda do menor índice de 12 meses desde março de 1999 (2,64%).
A leitura do indicador ficou assim distante da média das estimativas de 23 consultorias e instituições financeiras ouvidas pelo Valor Data. Eles previam deflação de 0,08% no mês. O intervalo dessas estimativas ia desde alta de 0,06% a até queda 0,15%. Para o acumulado em 12 meses, os analistas haviam previsto, em média, inflação de 2,87%.
Segundo Márcio Milan, economista da consultoria Tendências, a intensidade da baixa dos preços dos alimentos foi uma das surpresas do IPCA-15. O grupo teve deflação de 0,55% no mês e retirou 0,14 ponto do índice. Por dentro, os principais destaques foram itens in natura como batata-inglesa (-19,07%), tomate (-8,48%) e frutas (-4,00%).
“O comportamento favorável dos alimentos não veio só de alguns itens, foi generalizado e está perdurando por mais tempo do que imaginávamos”, disse o economista, que também identificou comportamentos atípicos em itens de higiene pessoal. “São pontos que provavelmente surpreenderam o mercado.”
O grupo de transportes, por sua vez, registrou deflação de 0,64%, segundo maior alívio para o IPCA-15 (-0,11 ponto). Isso resultou do comportamento de preços dos combustíveis (-3,16%). O etanol teve baixa de 4,81%; o litro da gasolina passou a custar 2,98% a menos. Essas baixas permitiram acomodar o aumento das passagens aéreas, efeito da maior procura por viagens no período.
O IPCA-15 de julho mostrou que o processo de desinflação no país está mais disseminado. Na passagem mensal, sete dos nove grupos pesquisados pelo IBGE registraram taxas menores. Dez das 11 regiões pesquisadas registraram deflação na prévia deste mês. O Valor Data calculou que o índice de difusão (número de itens com aumento de preços) recuou para 49,8% no mês, de 58,8%.
A inflação dos serviços subjacentes – exclui itens como educação e emprego doméstico – registrou aceleração na variação mensal, mas manteve a tendência de queda no acumulado de 12 meses, de 4,82% em junho para 4,61% em julho. Os preços desses serviços, que resistiam à crise política e à política monetária, caíram pela metade desde o pico em 12 meses de novembro de 2015 (9,74%).
“Diante da recente dinâmica deprimida da economia real, a inflação de serviços ainda está relativamente alta, embora possamos reconhecer que o indicador apresenta tendência de queda e agora está visivelmente abaixo de um ano antes”, avaliou Alberto Ramos, economista do Goldman Sachs, em relatório.
O alívio maior que o previsto levou parte do mercado a rever as estimativas do IPCA “cheio”, para algo próximo de zero. O resultado teve, porém, efeito apenas marginal nas apostas para a reunião do Copom deste mês. Para Carlos Eduardo Eichhorn, diretor de gestão de recursos da Mapfre, cresce a possibilidade de um corte de um ponto percentual na Taxa Básica de Juros (Selic).
“Vamos manter a nossa projeção de um corte de 0,75 ponto percentual na Selic, mas reconhecemos que cresceram as chances de a autoridade monetária manter o ritmo de um ponto percentual”, disse ele.
Para Marco Caruso, economista do Banco Pine, o IPCA-15 pode oferecer apenas “maior conforto” para o corte de um ponto da Selic. Para ele, o resultado deve aumentar apostas por um novo corte de um ponto em setembro.