Juros voltam à casa de um dígito amanhã

    EXPECTATIVA É DE QUE COMITÊ DE POLÍTICA MONETÁRIA DO BANCO CENTRAL REDUZA A SELIC DOS ATUAIS 10,25% AO ANO PARA 9,25%. SERÁ A PRIMEIRA VEZ DESDE NOVEMBRO DE 2013 QUE A TAXA BÁSICA DESCE A ESSE PATAMAR. QUEDA DA INFLAÇÃO É DETERMINANTE PARA A DECISÃO

    Autor: ANTONIO TEMÓTEO

    Brasil voltará a ter Juros de um dígito a partir de amanhã, quando o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) se reunirá para decidir o tamanho da queda da taxa básica (Selic), hoje em 10,25% ao ano. No mercado, a maioria dos analistas estima que os diretores da autoridade monetária decidirão, de maneira unânime, por corte de um ponto percentual. Com isso, a Selic descerá a 9,25% ao ano, o menor nível desde novembro de 2013.

    Mesmo que os integrantes do colegiado surpreendam os economistas e cortem os Juros em apenas 0,75 ponto percentual, a taxa ficara abaixo de dois dígitos, em 9,5% ao ano. Apesar de ser a aposta de poucos analistas, alguns avaliam que sem o avanço da Reforma da Previdência, diante da escalada da crise política, o governo terá grande dificuldade para fechar as contas. Isso poderá levar a equipe de Ilan Goldfajn a adotar uma postura mais conversadora em relação ao ritmo de cortes.

    Uma das poucas a apostar nesse cenário é a economista-chefe da CM Capital Markets, Camila Abdelmalack. Apesar de avaliar que existem fortes argumentos para sustentar uma queda de um ponto percentual de Juros, ela destaca que o preço dos ativos, sobretudo o do dólar, não reflete os riscos em relação à economia brasileira. Camila afirma que, após a alta do PIS/Cofins, não estão descartadas novas elevações nas alíquotas de tributos, fator que pressionaria a inflação.

    Diante desse risco, a economista revisou a estimativa para a inflação de 2017, de 3,5% para 4%. ‘Essa projeção só leva em conta a alta do PIS/Confins e a possibilidade de mudança da bandeira tarifária da energia para vermelho. Outras elevações de tributos podem trazer pressões adicionais ao Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA)’, alerta.

    A alta de impostos levou o mercado a revisar as estimativas para o IPCA de 2017. Conforme o Boletim Focus do BC divulgado ontem, a mediana das expectativas dos analistas passou de 3,29% para 3,33%. Mesmo com a alta na projeção para a inflação, os economistas não mudaram as apostas para a Selic. A mediana das projeções aponta que a taxa terminará o ano em 8% e permanecerá nesse patamar ao longo de 2018. A estimativa para o crescimento, entretanto, permaneceu inalterada em 0,34%.

    Apostas

    Mais otimista, o economista-chefe do Banco Fibra, Cristiano Oliveira, avalia que o BC cortará os Juros em um ponto percentual. Para ele, a ancoragem das expectativas de inflação no horizonte relevante da política monetária que leva em conta os anos de 2018 e 2019 é um dos fatores que pesará na redução da Selic. Além disso, Oliveira ressalta que o nível de ociosidade maior da economia e o nível de recuperação mais lento do que o esperado favorecerão o processo de controle do IPCA. ‘O corte de Juros considerará o recuo dos índices de confiança da indústria, comércio e setor de serviços, com o início da recente crise política’, destacou.

    Na opinião de Oliveira, o significativo arrefecimento dos núcleos de inflação e a continuidade do processo de deflação dos índices usados para reajustes de contratos terão impacto nas futuras leituras, sobretudo em 2018. ‘Nosso cenário para a evolução da taxa de Câmbio, com a continuidade do quadro internacional favorável, leva em conta que a taxa de Câmbio nominal tenha tendência à apreciação e não descartamos nível próximo a R$ 3 nos próximos meses’, afirmou.

    Quem também aposta na queda de um ponto percentual na Selic é o estrategista-chefe do BullMark Financial Group, Renan Silva. ‘Como a economia está fraca, o Copom deve fazer essa redução para equilibrar as contas, já que o mercado não aceita que o governo não cumpra a meta fiscal. Em termos práticos, haverá um agravamento da atividade econômica com a alta de impostos. Diante do cenário, o governo faz este corte agressivo em resposta ao mercado’, ressaltou. Para as próximas reuniões do colegiado, Silva estimou que o BC reduzirá 0,75% da Selic em setembro, 0,5% em outubro e 0,5% em dezembro. Com isso, a taxa terminará o ano em 7,5% ao ano.

    Sem garantias para meta fiscal

    Apesar dos esforços do governo para reduzir as despesas para reequilibrar as contas públicas, o mercado ainda não está confiante de que a equipe econômica conseguirá cumprir a meta fiscal que prevê um deficit de R$ 139 bilhões. Se por um lado, alguns analistas defendem que o melhor a ser feito é encaminhar ao Congresso Nacional um projeto para revisar o tamanho do buraco, outros consideram que essa medida apressaria o processo de rebaixamento da nota de crédito do país pelas agências de classificação de risco.

    Na opinião do economista Raul Velloso, especialista em finanças públicas, a meta imposta foi um chute da equipe econômica e o fato de os ministros da Fazenda e do Planejamento se apegarem à máxima de cumprir o prometido é uma ingenuidade. ‘Não é possível em um país com tamanha crise política fazer previsão para o Produto Interno Bruto (PIB). A frustração de receita é certa. E aumentar imposto com a economia no fundo do poço não faz sentido. Aumentar a expectativa de deficit em R$ 10 bilhões não alteraria a razão dívida/PIBsignificativamente. Estão procurando chifre em cabeça de cavalo’, alertou.

    A decisão de aumentar impostos e contingenciar R$ 5,9 bilhões de recursos do orçamento pode levar o governo a cumprir a meta fiscal, avalia Fabio Klein, especialista em finanças públicas da Tendências Consultoria. Nas contas dele, o deficit fiscal chegará a R$ 148 bilhões e as medidas tomada pelo Executivo podem cobrir a diferença de R$ 9 bilhões.

    Entretanto, o especialista alertou que vários outros riscos podem levar ao descumprimento da meta, como a frustração de receitas extraordinárias. Para Klein, uma revisão da meta para um número inferior ao resultado de 2016 seria aceitável, já que mostraria um esforço do governo em reduzir a trajetória de rombos nas contas públicas.

    Riscos

    Para a economista-chefe da Rosenberg Associados, Thaís Marzola Zara, a possível frustração da meta fiscal de 2017 teria desastroso impacto econômico e político. Ela destacou que melhor do que aumentar impostos seria, por exemplo, não conceder reajustes ao funcionalismo. ‘Mas, na conjuntura política atual, tal afronta ao corporativismo não seria possível. Apesar de impopular, consideramos a medida positiva, pois mostra comprometimento da equipe econômica e, principalmente, do governo com a meta fiscal estabelecida’, destacou. (AT)

    Imposto não é descartado

    O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, afirmou ontem que um novo aumento de imposto é uma discussão ‘que não se coloca no momento’. Ele ressaltou, no entanto, que ‘tudo é possível, se necessário’. As declarações foram feitas após participação do ministro em evento da XP Investimentos, na capital paulista. Sobre a possibilidade de rever a alta nas alíquotas dos combustíveis, Meirelles disse que isso vai depender dos impactos da medida. ‘Evidentemente que esse é um processo dinâmico, tudo está sujeito a uma reavaliação, que depende da avaliação dos fatos e de determinados impactos econômicos’, afirmou.

    Fonte: Correio Braziliense

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