Por Ana Conceição | De São Paulo
Após a primeira deflação desde 2006, em junho, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu em julho, puxado pelo aumento em dois itens administrados: conta de luz e combustíveis. Segundo a média das estimativas de 25 consultorias e instituições financeiras consultadas pelo Valor Data, o indicador registrou alta de 0,18% no mês passado, após queda de 0,23% em junho.
As projeções para a taxa que o IBGE divulga hoje variam de elevação de 0,08% a 0,23%. Se confirmada a média das expectativas, a inflação acumulada em 12 meses deve chegar a 2,65%, desacelerando dos 3% acumulados até junho.
O acionamento da bandeira amarela nas contas de luz foi o principal fator de pressão sobre o IPCA de julho, no cálculo de Luiz Fernando Castelli, da GO Associados. “Reajustes de tarifas em São Paulo e Curitiba também devem pesar no índice”, afirma o economista, que estima alta de 5,55% para o item, devolvendo a queda de 5,52% registrada no mês anterior. Para a GO, o IPCA deve subir 0,20%.
Márcio Milan, da Tendências, prevê aumento um pouco menor, de 3,95%, na tarifa de energia elétrica por causa da bandeira amarela e projeta alta um pouco menor, de 0,16%, para o IPCA de julho.
A alta nas contas de luz é efeito da transição da bandeira tarifária verde, que vigorou em junho, para a amarela, que elevou as tarifas em R$ 2 a cada 100 MWh consumidos. A bandeira mudou de cor por causa do baixo volume de chuvas registrado em junho, situação que continuou em julho e provocou o acionamento do patamar 1 da bandeira vermelha, o que vai encarecer as contas também em agosto. Adotado em 2015, o sistema de bandeiras tarifárias repassa aos consumidores os gastos extras com a operação de termelétricas nos períodos de pouca chuva.
Os combustíveis vêm em seguida na lista de maiores impactos na inflação do mês passado. Muito forte, o aumento do PIS/Cofins sobre esses produtos deve ter tido efeito não desprezível já em julho, apesar de o aumento da tributação sobre gasolina, álcool e diesel ter começado a valer apenas no dia 21. “O aumento do imposto foi muito forte. Por mais que tenha sido no fim do mês, houve impacto nos preços”, afirma Milan.
Por causa da frustração de receitas que ameaça a meta de Déficit primário em 2017, de R$ 139 bilhões, o governo mais que dobrou o PIS/Cofins sobre a gasolina, de R$ 0,3816 para R$ 0,7925 por litro. Sobre o diesel, passou de R$ 0,2480 para R$ 0,4615. No caso do etanol, um aumento de quase R$ 0,20 chegou a vigorar por uma semana, mas foi reduzido para R$ 0,1109 por litro após as usinas de cana alegarem que havia um erro de cálculo na elevação do tributo.
A Tendências prevê aumento de 1% na gasolina e queda de 2% no etanol em julho. Em junho, o derivado de petróleo caiu 2,84% e o cana recuou 4,66%. Essa combinação deve levar o grupo transportes a subir 0,5% no IPCA, após queda de 0,52% no mês anterior.
A expectativa do Bradesco para o IPCA é de alta de 0,15%, também refletindo parte do efeito da elevação dos combustíveis. Os núcleos devem continuar em patamar “bem comportado”, assim como alimentação, que deve seguir no campo deflacionário. “Não vemos pressões altistas da inflação e mantemos cenário de elevação do IPCA de 3,4% neste ano”, dizem analistas do banco em relatório.
O grupo alimentação ainda registrará deflação, embora em menor medida que em junho, ajudando a limitar a alta do IPCA, que deve ter a menor variação desde 2014, quando subiu 0,01%.
“Os alimentos virão com queda um pouco menos acentuada, mas ajudarão a compensar parte da alta dos administrados”, diz Milan, da Tendências. O grupo vestuário também deve desacelerar, por causa do fim da estação e das liquidações para troca de coleção, assim como os artigos de residência.
Fonte: VALOR ECONÔMICO