Debêntures incentivadas, CRIs e CRAs atraem pessoa física diante do cenário de queda de Juros
RENNAN SETTI
rennan.setti@oglobo.com.br
Com queda de Juros, investidores como Eduardo Borges (foto) aplicam em debêntures incentivadas de empresas A redução da Taxa Básica de Juros do país pôs fim ao hábito brasileiro de ganhar 1% ao mês com investimentos de baixíssimo risco, fazendo com que muitos investidores passassem a buscar aplicações alternativas para manter o ritmo de crescimento do patrimônio. Nesse contexto, cresce entre pessoas físicas o interesse por papéis de nome complicado que costumavam ser ignorados por esse público, como debêntures de infraestrutura e certificados de recebíveis, os CRAs e CRIs. Segundo gestores e investidores, essas opções oferecem oportunidade de retorno mais interessante e isenção de imposto de renda (IR) – embora tenham voltado os rumores de que o governo estaria planejando começar a taxá-los diante da crise fiscal. Eles são, porém, bem mais arriscados que Títulos públicos e exigem ser analisados caso a caso.
Segundo a Anbima, associação que reúne instituições financeiras, os pequenos investidores absorveram 23% das ofertas de debêntures, CRAs e CRIs no mercado entre janeiro e julho deste ano, quase o dobro dos 13% abocanhados no mesmo período de 2016. Em 2015, a taxa foi de 10%, e no ano anterior, de 6%. Entre as debêntures com isenção de imposto, a participação das pessoas físicas subiu de 19,8% para 47,5% este ano. No caso dos CRIs, a participação saltou de 9,5% para 49,3%.
– O investidor está percebendo que a carteira dele vem crescendo em uma velocidade menor. Crescia até 1% ao mês e agora está girando na faixa de 0,5%. O corte de Juros mais agressivo pelo Banco Central cria essa demanda por diversificação, e os ativos que ainda não pagam imposto geram ainda mais atratividade – disse André Rosenblit, da corretora do banco Santander.
Debêntures são títulos de dívida emitidos por empresas. Em troca, pagam Juros aos investidores, que costumam ser um percentual do CDI ou uma taxa acima da inflação. Em 2011, o governo regulamentou uma versão cujo objetivo é incentivar o investimento privado no setor de infraestrutura, concedendo assim isenção de IR para pessoas físicas e investidores estrangeiros.
Já os CRAs e CRIs – certificados de recebíveis do agronegócio e imobiliários, respectivamente – são semelhantes aos populares e também isentos LCA e LCI. A diferença é o risco associado. Os certificados não são amparados pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC), pois não são emitidos por bancos, mas por securitizadoras. Geralmente, remuneram o investidor pagando inflação mais Juros.
Segundo Arnaldo Curvello, gestor da Ativa, os CRAs e CRIs cresceram em atratividade conforme as LCIs e LCAs ficaram mais escassas. Ao mesmo tempo, com os bancos emprestando menos, as companhias se viram na necessidade de levantar recursos por conta própria. Os títulos também ficaram mais acessíveis. Embora o CRA ainda seja mais voltado para investidores com patrimônio elevado, é possível adquirir CRIs a partir de R$ 1 mil. Mario Markus, do Banco Modal, destaca que, com valores entre R$ 1 mil e R$ 5 mil, pode-se obter diversos desses títulos isentos. Mas o investidor deve estar consciente dos riscos maiores.
– Cada operação tem uma característica particular. Não dá para generalizar. É importante entender o risco com auxílio de um assessor para não ter uma surpresa negativa – disse Curvello.
ANÁLISE DETALHADA É NECESSÁRIA
É essencial, recomendou, olhar o projeto que está por trás de cada papel. No caso das debêntures, o investidor deve se informar sobre a situação de crédito da empresa, pois é ela que vai pagar diretamente a aplicação. As notas dadas por agências de classificação de risco são um bom referencial, mas os especialistas recomendam também avaliar o projeto em que a debênture está envolvida. No caso dos certificados de recebíveis, é importante olhar para as garantias por trás de cada papel.
– Normalmente, eles têm algum tipo de garantia adicional por trás da operação. O CRI costuma ter lastro em uma carteira imobiliária com garantia real; no CRA, o lastro pode ser a produção de um empreendimento agrícola – explicou Curvello.
Também é preciso estar atento à liquidez. No caso das debêntures incentivadas, é relativamente fácil se desfazer dos papéis antes do vencimento; nos certificados, cujo prazo médio é de quatro anos, isso é bem mais difícil.
Dada a diversidade dos papéis, a rentabilidade depende de suas características. Markus cita o exemplo de um CRA da Fibria, uma das principais empresas de celulose do mundo, que vai pagar 98% do CDI. Um título pós-fixado do Tesouro rende pouco mais que isso, só que paga IR. Há papéis mais arriscados que pagam até 140% do CDI.
Eduardo Borges, de 34 anos, tem metade do seu patrimônio em títulos privados. O engenheiro se tornou referência nessas aplicações entre amigos e já convenceu dez deles.
– Até 2015, não via vantagem, porque conseguia uma rentabilidade muito boa no Tesouro. Quando ficou claro que os Juros iam cair, fui migrando para esses papéis – afirmou ele, cuja carteira rende cerca de 135% do CDI.
Mas Borges admite que é aplicado. Além de buscar informações junto à sua gestora, lê todos os prospectos e só investe em títulos que tenham garantias palpáveis em setores com pouco risco de falência, como uma debênture emitida pela concessionária de um aeroporto.
Fonte: O Globo