Juros interrompem queda apesar de Selic em baixa

    Os Juros bancários interromperam tendência de queda em julho, apesar de o Banco Central (BC) ter mantido o ritmo do ciclo afrouxamento monetária e sinalizado ao mercado que a taxa Selic poderá chegar perto dos seus menores patamares da história.

    A taxa média de Juros cobrada pelos bancos dos seus clientes subiu de 28,8% para 29% ao ano entre junho e julho, primeira alta desde janeiro, segundo estatísticas divulgadas pelo próprio BC nesta quinta-feira.

    O encarecimento do crédito atingiu indistintamente pessoas físicas e jurídicas. No caso do crédito livre, que teoricamente reflete de forma mais célere o ciclo de corte de Juros, a taxa para empresas deu um salto de 24,8% ao ano para 25,3% ao ano. No caso das operações com pessoas físicas, a alta foi de 63,4% ao ano para 63,8% ao ano.

    E o aumento no custo do dinheiro não encontrou correspondência na inadimplência, que seguiu estável em 3,8% da carteira total. No financiamento com recursos livres, a taxa de calotes permaneceu em 5,6%, reflexo de uma queda no segmento de pessoas físicas de 5,8% para 5,7% e de uma elevação na taxa das empresas, de 5,3% para 5,5%.

    O crédito mais caro em julho ocorreu a despeito de os custos de captação dos bancos terem sofrido uma sensível queda, recuando de 9,6% para 9,3% ao ano, no caso dos recursos livres, refletindo a distensão monetária patrocinada pelo Banco Central.

    Em julho, o Copom manteve o ritmo de corte de Juros, com uma baixa de 1 ponto percentual na Selic, de 10,25% para 9,25% ao ano. A autoridade monetária também sinalizou que, se as condições seguirem favoráveis, poderá fazer uma nova queda de 1 ponto em setembro. Depois da sinalização mais “dovish” do BC, o mercado passou a apostar que os Juros poderão cair para entre 7% e 7,5% ao ano.

    Os bancos, porém, não repassaram aos clientes, em julho, a queda dos custos de captação. As instituições financeiras aumentaram os spreads nas operações de crédito livre, de 36,6% em junho para 37,6% ao ano.

    O BC recebeu com cautela a alta dos Juros bancários em julho. O chefe-adjunto do Departamento Econômico da instituição, Fernando Rocha, disse que o movimento altista reflete, em parte, um efeito estatístico.

    Segundo Rocha, em julho bancos que oferecem taxas menores no crédito pessoal não consignado se retraíram, contratando menos operações. Caso fosse subtraído esse efeito, argumenta Rocha, os Juroscobrados de pessoas físicas teriam permanecido constantes. Rocha disse que fenômeno semelhante teria ocorrido também nas linhas de empréstimo a pessoas jurídicas, mas reconheceu que houve aumento dos Juros cobrados.

    Ele disse que a alta dos Juros em julho não deve interromper a tendência de barateamento do crédito bancário provocada pelo ciclo de distensão monetária. “Em julho, teve uma interrupção temporária da queda dos Juros bancários, mas a tendência de queda vai permanecer nos próximos meses”, afirmou.

    O BC começou a baixar os Juros em outubro de 2016, mas a distensão monetária só se tornou realmente significativa a partir de janeiro deste ano. Os bancos começaram a fazer cortes expressivos de Juros apenas em março e, sobretudo, abril.

    O spread médio bancário cobrado pelos bancos foi de 39,75 pontos percentuais nos primeiros sete meses de 2017, acima dos 38,75 pontos observados em igual período de 2016. Em 2015, o spread médio ficou em 31,08 pontos percentuais e, em 2014, 25,2 pontos.

    O ciclo de distensão monetária, que mal chegou à taxa de Juros e aos spreads, tem tido também um efeito moderado sobre as concessões e sobre o volume de crédito na economia, pelo menos até o momento.

    Em julho, o estoque total de crédito encolheu 0,6%, para R$ 3,062 trilhões. Rocha ponderou que os volumes foram afetados por fatores sazonais – entre eles, o fim da safra de empréstimos agrícolas, ocorrida em junho, e o período de férias, em que as famílias têm menos tempo de contratar operações novas.

    Rocha diz que, entre as pessoas físicas, persiste uma tendência de recuperação moderada nas operações de crédito. No mês, o estoque de empréstimos a pessoas físicas avançou 0,2%, para R$ 1,598 trilhão.

    No caso das empresas, porém, houve uma queda de 1,4% nos estoques, para R$ 1,463 trilhão. Rocha disse que, em parte, esse recuo se deve à retração dos empréstimos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que encolheram 0,6% no mês e caem 10,8% em 12 meses.

    Analistas econômicos privados vêm afirmando que, com a alta capacidade ociosa da economia e incertezas no cenário econômico, as empresas têm reduzido a demanda de empréstimos do banco de desenvolvimento estatal para investimentos.

    Rocha também lembrou que as empresas seguem um processo de desalavancagem, pagando dívidas que foram contraídas no ciclo anterior de expansão.

    Os dados do BC também mostram a primeira elevação no endividamento das famílias desde janeiro de 2016. A relação entre o estoque de crédito contratado e a renda líquida anualizada fechou junho (último dado disponível) em 41,62%, ante 41,53% registrado em maio. O patamar, no entanto, segue sendo o menor desde meados de 2011. Em junho de 2016, o endividamento era de 43,49%.

    O movimento de desalavancagem das famílias parece ter se estabilizado depois de um período de forte retração econômica e aumento do desemprego, mas ainda é cedo para se detectar uma tendência, até porque os dados compilados pelo BC sofrem revisões mensais.

    Tirando o crédito habitacional da conta, a fatia de endividamento foi de 23,15% no sexto mês do ano, avançando de 23,12% em maio, primeira alta desde janeiro de 2015. Um ano atrás era de 24,8%.

     

    Concessões para pessoa jurídica voltam a cair
    Silvia Rosa | De São Paulo

    Enquanto a perspectiva para o crédito a pessoa física é de recuperação ao longo do ano, os empréstimos para pessoa jurídica voltaram a cair em julho, num sinal de que a retomada deve ser mais lenta que o esperado.

    As concessões de crédito total recuaram 12,6% em julho ante o mês anterior, puxadas pela queda de 23,3% dos empréstimos para pessoa jurídica. Apesar de haver um efeito sazonal, principalmente em função do fim do plano safra em junho, a queda registrada no mês passado foi maior que a verificada no ano passado. Em julho de 2016, houve recuo de 11,6% dos empréstimos totais em relação ao mês anterior.

    O crédito para pessoa jurídica continua fraco, por conta do processo de desalavancagem financeira das empresas, menor demanda para investimentos e bancos cautelosos em ampliar os empréstimos para esse segmento, que ainda apresenta taxa de inadimplência elevada, diz João Moraes, economista da Tendências. “Os empréstimos para empresas estão ensaiando uma estabilização, mas ainda apresentam volatilidade.”

    Em julho, a desaceleração foi maior nos empréstimos para empresas com recursos direcionados, que caíram 35,5%, puxados pela queda nas concessões de Crédito Rural. No crédito livre, a queda nas concessões foi de 21,9% no mês passado, com destaque para as linhas que tinham apresentado avanço em junho, como desconto de duplicatas e recebíveis e capital de giro.

    O saldo da carteira de crédito pessoa jurídica apresentou queda de 1,4% em julho ante o mês anterior, puxada pela retração de 2,1% da carteira com recursos livres.

    A MCM Consultoria prevê queda de 3,8% no saldo do crédito livre para pessoa jurídica no ano, enquanto a carteira de pessoa física deve crescer 3,7%. “Nossa projeção de crescimento do crédito total no ano é de 1,6%”, afirma Bernardo Dutra, economista da MCM.

    Para o economista da Tendências, a perspectiva é de estabilização da queda das concessões para pessoa jurídica no segundo semestre e avanço de 3% em termos reais dos empréstimos para pessoas físicas. Apesar do recuo de 3,7% em julho ante junho, as concessões para pessoa física crescem 7,6% no ano.

    A retomada das operações para pessoa física reflete uma melhora do mercado de trabalho, com crescimento da criação de emprego, que já tem efeito sobre o consumo. “Vemos uma recuperação das vendas no varejo e também do financiamento de veículos, que cresceu 1,8% em julho”, diz Moraes.

    Ele lembra que as concessões para pessoa jurídica são mais sensíveis ao cenário macroeconômico. Em julho, o aumento da incerteza no cenário político diante da votação da abertura do processo contra o presidente Michel Temer pode ter contribuído para o recuo dos empréstimos nesse segmento.

    O Goldman Sachs destaca, em relatório, que o aumento da incerteza política poder atenuar a demanda de crédito, tanto das famílias quanto das empresas, podendo afetar as decisões de investimentos. Além disso, do lado da oferta, os bancos poderiam ficar mais seletivos e apertar o crédito.

    Da mesma forma, o ambiente de incerteza e a expectativa de queda maior da taxa Selic podem ter levado as pessoas físicas a adiarem a contratação do crédito imobiliário, que recuou 3,5% em julho ante junho, avalia Moraes, da Tendências

    Apesar de a taxa de inadimplência ter ficado estável em julho ante o mês anterior, houve aumento no spread bancário – diferença entre a taxa que os bancos pagam para captar e a que eles cobram do investidor. A alta foi puxada, segundo Moraes, pelo aumento da taxa média de Juros do Crédito rotativo do cartão, que subiu tanto na pessoa física quanto na jurídica.

    A taxa do Crédito rotativo para pessoa física subiu de 380,8% em junho para 399,1% em julho. Essa alta foi impulsionada pelo aumento das taxas no Crédito rotativo não regular, que engloba os clientes que não efetuaram o pagamento da fatura ou pagaram menos que o mínimo estabelecido pelo bancos.

    Desde abril, os clientes não podem ficar mais de 30 dias no Crédito rotativo, tendo que quitar, após esse período, a dívida à vista ou migrar para o crédito parcelado. Houve uma alta da taxa de Juros também no crédito parcelado, que passou de 157,9% em junho para 159,5% em julho.

    Fonte: VALOR ECONÔMICO

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