A ELEIÇÃO QUE SEPARA AMIGOS

    Desculpem, mas eu nunca tinha visto nada igual. Uma eleição que separa amigos, que destrói amizades, que leva pessoas antes serenas, tranqüilas, a atitudes de certa violência na internet, às vezes até pelo silêncio omisso ou agressivo. Alguns ficam a repassar e mais repassar coisas absurdas, a usar termos chulos, a inventar mentiras e mais mentiras sem se preocuparem com uma espécie de exercício criminoso que estão praticando. Quando repassam algo nada conferem, e se são alertados, nos mandam não aborrecer e afirmam que não se interessam pela veracidade ou não do que receberam e passaram pra frente.  Chegam-me coisas que estão a circular nesta internet há mais de cinco anos dando a impressão de que foi escrito agora, como se estivesse a se referir a algum fato recente. Pessoas por quem sempre tive (e tenho ainda) muito respeito, pessoas de quem sou amigo há cerca de quarenta anos, e que de repente arreganham as unhas e os dentes e partem pra cima da gente como se fôssemos inimigos. Não querem ser contestados ou alertados, jamais. Diálogo, nem pensar. Felizmente não é a maioria. Democratas que de repente aplaudem até atos da falecida ditadura civil militar, que tivemos, só para tentar alcançar o intento, praticamente impossível, de ajudar a eleger quem não tem competência nem para estar na disputa. Parece que estão cegos, mas cegos de raiva, de ódio, numa espécie de virose política que os transforma ou mostra agora uma face que em tantas décadas de convivência eu nunca vira. Como pode isto ser possível? Mas está acontecendo. De repente, quando contesto o que um grande amigo me envia, no intuito de orientá-lo, dizendo-lhe que no seu lugar eu jamais repassaria aquilo, tenho como resposta isto: “Quanto ao fato ter existido, ou não, é o que, a meu ver, menos importa.  Para mim valem os comentários das duas partes.” — Meu Deus, onde vamos parar com isso? Fatos condenados, denunciados, em troca de e-mails que pode nem ter existido, mesmo não tendo acontecido, não importa?! E a ética?! A intolerância de quem sempre foi amigo, de quem partilhou tarefas, missões importantes no passado, quando as famílias se davam, freqüentavam eventos juntas, de repente explode num tom de revanchismo mal disfarçado nessas palavras: “Fica claro que não mais te enviarei qualquer mail que possa ferir teus sentimentos de "não petista"… A expressão colocada entre aspas, meus amigos, carrega uma forte indicação de que quem escreveu levanta dúvida, suspeita, ou insinua que eu sou mentiroso quando afirmo não ser petista. É muito triste a gente se perceber com 74 anos descobrindo um véu de um passado distante que foi pleno de amizade recíproca, e alguém, nos seus 73 anos, me joga agora isto na cara?!  Parece que não bastava, então o amigo acrescentou: “… é duro lutar consigo mesmo.” —  Significa, pelo menos na minha compreensão, que se me escapasse do entendimento a anterior expressão entre aspas, essas duras palavras não deixariam dúvidas de suas “suspeitas” sobre mim. Isso é pior que faca nas costas, sinceramente. E tudo por causa de uma eleição na qual estaríamos do mesmo lado se eu visse candidato e/ou partido de uma oposição, verdadeira, guerreira, ética, digna do meu voto e do meu respeito, mas não. Digamos que estamos juntos, do outro lado, do lado oposto ao governo atual, com certeza, apenas temos comportamentos e visão diferentes, o que é muito comum numa democracia. Mas, diferentemente de outros tempos, qualquer discordância, qualquer eventual alerta que eu faça agora a certos amigos, provoca mísseis de inimizade que me são lançados ora com palavras ora com um silêncio de quem vira as costas a cerca de quarenta anos de uma amizade que parecia eterna. E tudo isso por causa da política atual, dessa coisa asquerosa, nojenta, suja, que vai arrastando pessoas que hoje nem idéias discutem. Parece quererem é partir para o que alguns chamam de ignorância. Viraram brutamontes, criticam o mesmo que eles andam exercendo, ou as mentiras e baixarias que repassam. Um amigo de infância, professor universitário, formado em teologia e muito mais, que também é escritor e não tem poupado Lula com críticas severas, corretas, porém sem agressões, teve que advertir a certa pessoa que divulgou um artigo, igualmente contra o atual governo, mas que no título pusera: “Presidente, Vá se f……” (com todas as letras). E a autora repetiu a grosseria no correr do texto.  Ela se dirigia, bem ou mal, ao Presidente da República. É este o nível, ou desnível de uma oposição que de certa forma se nivela ao que criticamos. Como a autora tornou público seu texto, confirmo seu nome, Adriana Vandoni Curvo, professora de economia, consultora, especialista em Administração Pública pela FGV/RJ. Ou seja, tem títulos suficientes para saber que para ser crítico não se precisa, nem se deve, ser mal educado ou debochado. Alguém me escreveu lembrando que já desde há oito anos passados pretendeu, com o voto, evitar o governo de Lula. Infelizmente, agora digo eu, a incompetência do PSDB, que terminava oito anos de governo com FHC, que ainda desfrutava do Plano Real, não conseguiu impedir que o PT chegasse ao poder. Isso, os atuais críticos não querem aceitar nem ouvir falar. Lula não nos foi imposto, mas sim eleito democraticamente, embora depois tenha mandado às favas a auréola de ética e honradez que a estrela vermelha tanto defendia.  Por outro lado, o que também irrita alguns críticos de hoje, é quando os lembro de que em pleno governo de FHC eles mesmos me pediram que escrevesse criticando, por exemplo, a desastrada e injusta decisão de não mais corrigir a tabela do importo de renda, o que até hoje prejudica seriamente e especialmente a classe média. E eu escrevi. Mais para a frente pediram uma atitude minha contra a grosseria do ilustre sociólogo quando, publicamente, chamou-nos a todos nós, aposentados, de VAGABUNDOS, em alto e bom tom. E eu escrevi. Entre outras muitas denúncias feitas naqueles oito anos de governo do PSDB, o professor e sociólogo um dia baixou novamente o nível ao dizer que “só eram professores pessoas que não tinham competência para fazer pesquisas”. Pediram-me, e eu escrevi sobre o assunto. Hoje querem colocar FHC num altar, e como continuam oposição ao PT, como eu, sem maldosas aspas, parece desejarem passar uma borracha no passado recente, o que quem não aceita sou eu. Em resumo, queiram ou não, vão ter que entender que estamos no mato sem cachorro, e felizmente sem armas, pois do contrário, aí sim, a democracia poderia correr sérios riscos. Não acredito que se a Dilma vencer o PT tente aprontar alguma com relação ao nosso jovem regime democrático. Eles devem é tratar de fazer um bom governo, o que me custa a crer, todavia se pisarem na bola podem de repente “despencar”. Para bom entendedor uma palavra só é discurso.  Os oitenta por cento de aprovação do Lula, com os quais eu não concordo, mas tenho que respeitar, não serão jamais transferidos para sua sucessora, e se ele estiver mesmo pretendendo voltar como candidato daqui a quatro anos, como dizem alguns, terá que ficar muito alerta, pois insolentes e arrogantes petistas poderão por seu plano a perder.  O que eu espero de um eventual governo Dilma? Que tenha juízo, que prove que essa história de retorno do Zé Dirceu seja balela, que nos surpreenda com um bom governo, mais voltado para a saúde, para a educação, para a justiça social sem inventar mais programas demagógicos, sem permitir mais escândalos, pois já cansamos deles, enfim, que prove que estamos errados por não acreditarmos nela.

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