A MALDADE HUMANA TAMBÉM É UMA DROGA

    Meus amigos, alguns de vocês devem ter conhecimento de certa mensagem que há alguns anos circula pela internet sendo constantemente repassada por pessoas que devem concordar em tudo com a autora. Como o Cazuza já morreu há tanto tempo, não sei qual o prazer mórbido que alguns sentem em parecer querer, por um sentimento negativo, abrir o caixão e triturar os ossos dele. Alguns que repassam a tal mensagem vão incluindo coisas suas, mexem nas letras, aumentam-nas, botam cores diferentes, fazem grifos imensos, enfim, aquilo já virou um panfleto de muito mau gosto cuja apresentação hoje deve estar completamente diferente do provável original escrito pela autora. Vamos ao conteúdo. Concordo quando ela aconselha os pais a saberem dizer não a seus filhos. Está correta, pois hoje, nos meus 73 anos, lembro de que ouvi alguns “nãos” que me fizeram bem, com certeza. Embora reconheça que hoje em dia muitos pais mais se alheiam na educação dos filhos do que participam dela.  Quanto a Cazuza não ter sido um bom exemplo para a juventude, disto ninguém discorda, evidentemente. Qualquer pessoa de bom senso o sabe, e, como pai, ainda mais. Não entendo é que em vez de alguém, ou alguns, escreverem algo seu, já que desejam reprisar este assunto constantemente, fazendo sempre uma espécie de alerta para nossos jovens, se limitem a repassar e repassar a mesma mensagem, talvez apoiando-se no título da autora (psicóloga), mas não acho isso bom.  Voltando ao texto, sobre afirmativas feitas com muito rigor nas palavras tanto contra o jovem como contra a genitora do mesmo eu me reservo o direito de discordar, não pelo motivo das críticas, mas pela forma como estas foram feitas. Aliás, nem sei se estão ali de acordo com o original da psicóloga, pois já mexeram tanto naquele texto que ele está virando uma espécie de “trio elétrico” carnavalesco pela apresentação tão espalhafatosa. Não creio que uma ilustre psicóloga o tenha redigido assim como ele tem sido constantemente repassado.  Sobre o filme ali referido nada posso dizer, pois não o assisti. Cazuza realmente se matou pelo vício nas drogas, porém deixou uma obra que não pode ser ignorada. Claro que entendo que gosto não se discute e aceito a opinião dos que dizem nunca ter se interessado por suas músicas. Nem eu gosto de todas. Se ele chegou a traficar eu não sei. Atribuem ali uma afirmação à própria mãe do jovem, em livro, e um comentário de um ilustre Juiz, porém não tenho certeza disso. Mesmo assim vamos dar um crédito de confiança a esta parte do texto. Se ele fez isso é realmente merecedor de críticas severas, mas o ônus da prova cabe a quem o afirma, não a mim. Continuo reprovando a linguagem e imagens usadas, além da apresentação espalhafatosa que se deve debitar a quem o repassa. Agora farei a pergunta definitiva, não à autora, pois ela deve ter escrito o texto há alguns anos e não mais mexeu nele, mas aos que têm esta espécie de prazer mórbido de o fazer circular constantemente alterando a forma, as letras, etc. Por que esta fixação no jovem morto há tantos anos? Por quê? Afinal ignoram quantos outros ídolos de nossa MPB, inclusive no passado, morreram por causa de se envolverem com drogas? E deixaram de ser ídolos? E deixamos de amá-los? Uma das maiores intérpretes de todos os tempos da música popular brasileira, a inigualável, a inimitável, a sempre lembrada com toda justiça, a nossa querida Ellis Regina igualmente foi vítima desse descaminho. E daí, quem vai me dizer que ela não deve ser cultuada? O problema é que nem todos sabem diferenciar a pessoa, seus vícios, fraquezas, etc, de sua obra. Nossa saudade será eterna. Felizmente Ellis teve uma filha que está a cantar e a encantar a todos.  Quem não se lembra de Raul Seixas? Ele também se perdeu no mesmo caminho das drogas, mas deixou uma obra magnífica que não pode ser esquecida e por isso é constantemente relembrada. Ele tinha letras feitas junto com o atual escritor Paulo Coelho. Deixou muitos sucessos, alguns já usados até como temas de novelas. Raul Seixas tinha um grande talento, uma coisa é isto, outra é o lado negativo do comportamento humano que só serviu para destruí-lo. E o excelente cantor e autor Antonio Marcos? Quantos sucessos ele gravou? Morreu cedo por se ter deixado vencer talvez pelo pior dos vícios, o álcool, por ser oficialmente consentido. E não foi apenas ele que trilhou este caminho, não, porém meu espaço não permite relacionar todos e nem me move o intento de fazê-lo.   Um dos maiores intérpretes masculinos da nossa MPB, com uma voz incomparável, que marcou com tantos sucessos sua trajetória de cantor, sofreu muitos anos lutando contra o maldito vício das drogas. Ele se levantava e recaía, mas enfim conseguiu, já mais para o fim da carreira, se recuperar e voltar a brilhar. Poderia ter vivido ainda mais e feito mais sucessos, porém… Claro que me refiro ao fantástico Nelson Gonçalves, com toda justiça um dos maiores ídolos da nossa MPB em todos os tempos. Se alguém discordar pode internar que está louco. Retirei da internet este comentário muito lúcido sobre a mensagem da tal psicóloga com o qual concordo plenamente. O autor se assinou Leonardo D. Podem confirmar entrando por este link que retirei do Google, clique aqui. “As pessoas estão apenas vivendo sonhos e poesia. Não se pode restringir as pessoas de poesia. Mais importante do que o homem é a obra. E a obra de Cazuza, querendo ou não, apresenta emoção, sensibilidade e energia. Energia que falta à maioria das pessoas. Enquanto se pode criticá-lo por ser "filhinho de papai", pode-se também exaltá-lo por "fazer o que quiser". No mundo moderno as pessoas são infelizes porque não fazem o que querem e, por isso, acabam fazendo mal. Essa é a verdade. Portanto não estamos cultivando ídolos errados, e sim repetindo atitudes erradas que, ao longo da História, comprovam a sua ineficiência”. O Leonardo disse tudo. Mas insisto na pergunta: o que move essas pessoas a repassarem por anos aquela mensagem? Como se o nosso país não tivesse hoje tantos e tantos problemas mais sérios a serem considerados e abordados! Será um ódio pessoal e gratuito, incontrolável, algo demoníaco que os obriga a pisar no cadáver do jovem falecido há tanto tempo? Será algum tipo de …  deixemos pra lá, afinal quem entende de psicologia é a autora do texto original, não eu. Eu diria talvez que no fundo, no fundo, é porque, A MALDADE HUMANA TAMBÉM É UMA DROGA. Abro um parêntesis para lembrar dois grandes ídolos da música americana que, pelas drogas, partiram tão cedo também: Janis Joplin e Jimmi Hendrix. Deixaram sua marca com grandes sucessos no rock, indubitavelmente, além de que Janis Joplin era considerada uma excelente intérprete do blues, ritmo que eu adoro. De Jimmi Hendrix me permito lembrar que em pleno e grandioso Festival de Woodstock, creio que nos anos 60, ele, ao executar o hino nacional americano, partiu para a criatividade crítica e começou, no meio dos acordes, a fazer diversos ruídos de metralhadora e explosões com sua guitarra. Se você pensa que ele foi vaiado, enganou-se. Hendrix foi aplaudido e muito. Eram tempos de Guerra no Vietnã e muitos jovens americanos lá morreram pela insanidade do governo de então. Pois os dois são lembrados com festas e homenagens até hoje. Enfim, reafirmo aqui que as críticas destinadas à mãe de Cazuza na tal mensagem, são injustas, na minha opinião, pois fazem questão de ignorar a obra que ela tem construído desde a morte do filho procurando evitar que outros jovens desgracem suas vidas seguindo os descaminhos de seu filho. Mas esse tipo de gente não está aí pra fazer justiça, talvez só para enxovalhar, atirar pedras, sempre e sempre. Em certos corações humanos a maldade cresce a tal ponto que nem sempre deixa espaço para a solidariedade, para o amor, para a piedade, para a tolerância, para a indulgência. Pois é, mas certamente se consideram… “cristãos”!!!

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