BELEZA PÕE MESA

    Pagava meus pecados numa esteira de academia quando fui interrompido pela presença no salão de duas outras pessoas. Chegaram conversando sobre o resultado das escolas de samba, trocaram para o BBB, foram até ao futebol e divagaram sobre as famílias. Denotavam intimidade, mas não convergiam em nada.Disputavam opiniões. Passaram a falar sobre suas profissões. Um advoga. O outro é professor de educação física.Até então amistosa, a conversa transformou-se em estocadas. Sempre no ataque o professor espicaçou:- “- É verdade que quando perguntam sobre a sua escolha sobre o Direito para estudar, você responde que foi porque nunca gostou de freqüentar escolas?”.O advogado abandonou a postura defensiva e contra-atacou: – “É o mesmo que dizem dos professores de educação física. A diferença é que nossa carreira é longa. E a de vocês é curta. Vocês são avaliados pela estética. Pela juventude. Passou dos quarenta já era…” Freqüentador de ginásticas não recordei de nenhum profissional de academia com mais de 30 anos. Tampouco que não fossem atléticos e bem apessoados. Portanto, “game” para o advogado. Entretanto, a reverência à estética ultrapassa – e muito – os limites das academias. Escondidos sobre o biombo da “geração saúde” vivemos sob o signo do culto à beleza. Fotos, fatos e histórias sobre artistas, socialites e desportistas são incessantemente levados à cobiça popular. As ações das empresas que vendem o sonho da fama, melhor da “celebridade”, estão nas alturas. Não identifico nenhum tipo de comércio que possua o crescimento frenético dos salões de beleza (cabeleireiros) e das farmácias. Afinal, em seus balcões são comercializadas as possibilidades de embelezamento, os produtos, os energéticos e até mesmo as “bombas”.A culpa -exclusiva – desse estado de letargia cultural é da mídia. Reconhecido internacionalmente, o ex-embaixador Sérgio Vieira da Costa, interventor da ONU em Bagdá, só se tornou “celebridade” no Brasil depois de morto. Aí virou herói por dois dias. Chegou até a colocar em segundo plano as notícias sobre o novo namorado da Vera Fischer ou o desmascaramento da vilã da novela.Tampouco escândalos políticos conseguem sobrepujar o culto à beleza. Não foi a ocorrência do carnaval que amorteceu um pouco os estragos pela divulgação das falcatruas do ex-assessor parlamentar Waldomiro Diniz. O que nublou os desdobramentos foi o desmentido da gravidez da Luma Oliveira pela própria. E não tenho dúvida, foi de caso pensado: afinal, foi ela uma das maiores contribuintes físicas para a campanha do Lula à presidência. 

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