BIRA

    De vez em quando encontro com um contemporâneo que me lembra de alguma história que contei e diz que valeria pena repetir. Esta aí de baixo  é a mais pedida. Antes é preciso esclarecer que havia colegas no BC que juravam que a história era verdadeira e outros que contestavam sua veracidade, afirmando ter sido adaptada para o nosso  herói, inclusive informando que já conheciam a narrativa de algum outro lugar. Assim, eu não posso jurar que descrito aconteceu. Mas, tenho certeza que dadas as peculiaridades do caso, somente um personagem, é capaz de tê-la vivido: um aposentado conhecido como Bira que, depois de “umas e outras”, se transformava (continua se transformando) numa figura impagável. Certa madrugada, ainda na ativa do Banco, Bira, “muito para lá de Marrakesh”, descobriu-se sozinho e duro na madrugada de Ipanema, na zona sul do Rio. Morador do distante subúrbio de Realengo, para onde não conseguiria condução, optou ir dormir na casa de companheiro de copo e de banco, morador do Leme, bairro também localizado na zona sul carioca. Certo de que de Ipanema qualquer ônibus passaria no Leme, subiu no primeiro e único que passou: Jacaré-Jardim de Alah, conhecido como 474.Achando que não dormiria até chegar ao destino, escolheu um banco macio para recostar. Quando acordou, estava no ponto final do 474, no Largo do Jacaré, também no subúrbio, porém distante da sua casa em Realengo. A solução foi saltar e fazer “uma hora” para pegar o primeiro ônibus de volta. Foi então que viu na calçada bem em frente uma birosca toda iluminada. Aproximou-se devagar, cumprimentou os presentes e ficou observando uma velhinha preparando uma suculenta sopa de legumes a qual não resistiu em experimentar.Logo após, voltou ao ponto final e pegou o Jacaré-Jardim de Alah em direção à Ipanema, não sem antes jurar pela “mãe mortinha” que dessa feita iria permanecer acordado até chegar ao Leme. Quando deu por si, estava sendo avisado pelo trocador que se encontrava novamente no ponto final da condução, em Ipanema. Sem alternativa, ficou esperando a saída do próximo 474.  Dessa vez, por precaução, pediu ao trocador que o acordasse quando o ônibus saísse de Copacabana, último bairro antes do Leme.Quando abriu os olhos estavam ele e o trocador, depois de uma roncaria infernal – de acordo com os enérgicos protestos do motorista, impedido de curtir o seu rádio –  novamente estacionados no ponto final do danado do 474, na praça do bairro do Jacaré.Olhou para fora, e a primeira coisa viu foi à barraca da velhinha. O estômago, automaticamente, disparou o alarme.  Foi até lá e tomou outro prato da sopa.Nosso personagem ia abandonando o local para pegar novamente o próximo ônibus, quando ouviu um dos fregueses perguntar a dona da barraca: – E esse aí? Quem é?  E a velhinha respondeu: – Não sei não! Mas, adora, a minha sopa! É capaz de sair lá da zona sul e vir até aqui  apenas para tomar um prato.  Só essa madrugada já veio duas vezes!

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