BRUXAS

    Na chuvosa noite de domingo em que a única opção foi ficar em casa, zapeei pelos canais de cinema e encontrei um filme que me agradou de cara, intitulado “O dom da premonição”. A história passava-se numa cidade interiorana americana onde morava uma viúva que possuía dom das visões.  Além dessa personagem o enredo se fixou no “violento marido” de uma de suas freguesas que vivia ameaçando tanto a cartomante quanto ao seu filho por conta das premonições sobre a vida do casal; um mecânico com problemas psicológicos que a tinha como única amiga; a “linda filha” do homem mais poderoso da cidade e o seu noivo “mauricinho”.         Um dia a “linda filha” desapareceu misteriosamente. Esgotados os recursos a polícia recorreu às visões da vidente. A mulher conseguiu saber que a noiva estava morta e acorrentada no fundo de um lago nas terras do “marido violento” que foi acusado do crime.  No julgamento soube-se que a “linda noiva” tinha um caso com o tal “marido violento” e que fora vista sendo agredira por esse amante no dia do crime. Julgado foi levado à condenação pelo promotor público. Entretanto, a vidente tinha certeza de que o réu era inocente e paradoxalmente à perspectiva de livrar-se das tentativas de agressão do acusado, passou a perseguir a inocência do condenado.Testemunha ocular de que também o promotor público tivera um caso com a “linda noiva’ exigiu-lhe a reabertura do processo. Na mesma noite, pediu ajuda do “noivo mauricinho” para voltar ao local do crime no intuito de provocar alguma “visão” sobre o verdadeiro autor. E teve. O criminoso era o ciumento noivo que, ao se ver descoberto, passou a agredi-la tentando matá-la. Só não o fez, porque na hora” h “apareceu o mecânico amigo que depois de salvá-la e dominar o “mauricinho” ainda lhe ofereceu o lenço para limpar o sangue que escorria das feridas.No outro dia ao narrar a sua aventura na delegacia a vidente soube que o mecânico na tarde anterior havia se suicidado na cela onde estava preso por agressão ao próprio pai. Surpresa passou a enxugar o suor que havia descido na sua testa com a última revelação. Foi quando verificou que o lenço que estava usando era o mesmo que o mecânico lhe havia oferecido na noite passada…  O jornalista Luís Edgard de Andrade pescou na internet existe um texto futurista publicado em 10/11/1928, sobre como seria o Brasil em 2000 do professor Ferdinando Laboriau.Laboriau previa para o ano 2000, entre outras coisas, o fim do dinheiro: ‘O ouro e suas representações são formas obsoletas de medir valores. A energia elétrica passa a ser a nova moeda. Pagam-se as compras em quilowatts. Se paga o trabalho em quilowatts.’ Mas continua a haver desigualdades sociais: ‘Há ricos, possuidores de milhões de quilowatts-hora, remediados que têm alguns milhares de unidades de energia, e pobres que dispõem apenas de algumas unidades’. Por trás de tudo isso, uma revolução industrial: ‘A população do Brasil atingiu 200 milhões de pessoas a precisarem de energia para suas múltiplas atividades: compreende-se como essa necessidade levou ao aproveitamento das forças hidráulicas (…) No ano 2000 já estão longe os tempos em que ainda se importavam carvão e petróleo!’Revolução também nas formas de lazer: ‘As viagens e os próprios passeios diminuíram muito, desde que, sem sair de casa, pode-se ver o que há em qualquer parte da Terra: a televisão, juntada à telefonia, modificou radicalmente os hábitos. Não há necessidade de sair para fazer compras: vê-se, escolhe-se, encomenda-se tudo pelo telefone-televisor automático.”Um mês depois do seu artigo, Ferdinando Laboriau morreu num desastre de avião.  Santos Dumont estava retornando da França a bordo do transatlântico Cap. Arcona. Quatorze amigos do inventor, professores e alunos da Escola Politécnica, alugaram um trimotor Junker para lançar flores, com uma mensagem de boas-vindas, quando o navio entrasse na Baía de Guanabara. Ao fazer a curva inicial, em vôo rasante, uma das asas tocou nas águas e o avião mergulhou no mar com todo o grupo. A tragédia ficou na história como o primeiro desastre aéreo no Brasil. Qual a moral das narrativas! Nenhuma? Aonde se encontram? Não se encontram. São paralelas. Mas é que ambas me fizeram constatar que nem os videntes conseguem prever o seu próprio futuro. E que não posso discordar de quem cunhou o pensamento de que “não se deve acreditar em bruxas. Mas que elas existem, existem”. Estou cada vez mais certo. Acho.

    Matéria anteriorO TEXTO ESQUECIDO NO ARQUIVO
    Matéria seguinteAMOR POR AMOR SE DÁ