CHAMEM O JÂNIO!

                 O jornal O Globo, mantém a uma sessão diária  com notícias ocorridas há 50 anos. Outro dia, sob a manchete "Jânio manda servir frango ao goleiro Gilmar", havia o seguinte texto: "JOÃO; UM FRANGO bem nutrido, bem gordinho, o Gilmar não comeu nenhum na Europa. Vamos oferecer-lhe um, agora, para satisfazê-lo antes que comece o campeonato paulista". Era uma recomendação que o então governador Jânio Quadros enviou, através de um "bilhetinho", ao cozinheiro do palácio doss Campos Elíseos, a propósito do almoço que ofereceria aos campeões mundiais. O governador, como corintiano, fez questão de proporcionar a Gilmar um prato especial, pelo fato não ter o goleiro engolido "frango" algum na Copa da Suécia em 1958.          Jânio teve a carreira política mais meteórica do país: de 1947 a 1960, foi de suplente de vereador a presidente. No cargo, que ocupou por 7 meses, entre um uisquinho e outro, manteve-se na "ribalta", "exarando" factóides proibindo biquíni em concursos de misses, rinhas de galo, lança-perfume em bailes de carnaval e na tentativa de regulamentar o carteado.         Eu vivi, direta e indiretamente, dois momentos da era "Jânio Quadros".         O primeiro, ainda criança, quando minha mãe nos levou para vê-lo num comício de campanha para a presidência. Ficou tarde e como ele não aparecia, ela resolveu retornar para casa. Ao iniciarmos a volta, um carro estacionou ao nosso lado. Da janela, surgiu Jânio de terno escuro, camisa desabotoada no colarinho, gravata torta e todo descabelado. Em silêncio, nos olhou com ar de súplica, apertou com forças as nossas mãos e foi embora. Minha mãe ficou tão encantada que, se não fosse asseada ao extremo, teria ficado uma semana sem lavar as mãos.         O segundo foi quando trabalhava em São Paulo, em 1985, ano da disputa entre ele e FHC para a prefeitura paulistana. Diariamente, pegava o mesmo ônibus e sentava junto ao trocador que era ótimo de papo e adorava política. Como eu acompanhava as pesquisas estava certo de que FHC ganharia. O trocador retrucava: "- Seu universo é o da Avenida Paulista. Jânio é imbatível na periferia. Vai vencer". Não deu outra: foi eleito por uma diferença de 1% que se manteve nervosa e intermitente durante toda a contagem dos votos que, ainda realizada à "mão", era bastante lenta.          Novamente prefeito, sua 1a medida foi desinfetar a célebre cadeira em que, amparado pelos números que indicavam sua vitória, FHC deixou-se fotografar sentado na véspera da eleição.          E manteve o estilo de sempre: proibiu o uso de sunga nas atividades esportivas do Parque do Ibirapuera, dissolveu a escola de balé municipal por conta da suposta homossexualidade dos docentes, aplicou pessoalmente multas de trânsito e tentou fechar os cinemas que exibiam "A última tentação de Cristo", por considerá-lo desrespeitoso. Ao final do mandato mandou – literalmente – "pendurar uma chuteira" no gabinete, para simbolizar seu abandono da vida política.          Não tenho a mínima pretensão de discutir as virtudes e os defeitos de Jânio Quadros. Mas tenho saudades de um político que, ao contrário dos de hoje, que vivem nos fazendo chorar de raiva, proporcionava ao país sonoras e gostosas gargalhadas.

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