DEBAIXO DOS CARACÓIS DOS SEUS CABELOS

    Quando da morte do Michael Jackson, fiquei em dúvida por uns dias, se não foi fruto da minha imaginação ter lido que o artista havia morrido careca. O interesse decorreu da árdua luta travada pelo artista para transformar seu cabelo pixaim em uma vistosa cabeleira esvoaçante e, de repente, ficar sem seus ricos fios de cabelos.Nos anos 60, do lado feminino, o sonho era possuir uma cabeleira à moda Dóris Day – atriz cinematográfica norte-mericana. Mas, era incomum a adoção do seu penteado porque o seu estilo impunha um louro quase branco ao cabelo, longe dos padrões nacionais.O surgimento das “escovas” milagrosas parece ter resolvido o problema capilar das mulheres. A musa desse novo momento, para o bem ou para o mal, é a apresentadora de TV, Fátima Bernardes. Toda vez que ela muda o penteado, torna-se o assunto predileto das manhãs femininas, podendo ser louvada ou execrada. Mas, sempre invejada.Do lado masculino o “must” era os topetes do Elvis Presley.  Quem podia, vivia diante do espelho fazendo mil exercícios com o pente “flamengo” (não consigo escrever o nome desse time com letra maiúscula) para puxar da periferia do couro cabeludo um naco de topete que caísse em curva no meio da testa. Os homens travam duas batalhas: a primeira, contra os cabelos brancos que as tinturas deixam preto que nem cabiúna ou “acaju”, ao jeito de artista decadente do SBT. E a segunda, contra a calvície, combatida com implantes e perucas. Os implantes, salvo raras exceções, parecem hortas de quintal em que se plantam mudas de verduras em linha reta e em intervalos simétricos. E as perucas formam um compacto aglomerado, como se fosse o conjunto de cerdas de vassoura de piaçava, onde nenhum fio ousa se rebelar. No “meu tempo”, havia quem receitasse excrementos de galinha para nascer cabelo. Nunca experimentei, mas tenho a certeza que muito “neguin” que depois de desdenhar com aquele famoso “tá a fim de me esculachar?”, não ficava sem o “santo remédio”.    De vez em quando vejo passar alguns “espécimes” que ainda usam os fios capilares longos e encaracolados, do jeito que o Roberto Carlos cantou sobre o que havia debaixo dos caracóis dos cabelos do Caetano Veloso. Um trecho da letra diz que eles possuem “uma história para contar de um mundo distante. Um soluço e a vontade de ficar mais um instante”.  Para mim, não só na contramão estética dos que possuem cabelos longos e encaracolados, existem três tipos de carecas que eu não consigo decifrar o que possuem na cabeça: os que trajados de terno com o paletó jogado no ombro e mochila nas costas, usam rabo de cavalo preso por elástico; os que esticam o que sobrou do cabelo para cobrir onde nunca mais nascerá e os que usam uma bandana para esconder a calvície. Conversando com um amigo, perguntei cuidadoso: “você tem idéia do que é formada a massa encefálica da maioria desses caras? E ele, pragmático: “daquilo que o gato cheira e joga areia por cima”.    

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