DESARMAMENTO: VOLTANDO AO ASSUNTO

    Estamos na reta final para votar no plebiscito que nos consulta sobre se somos a favor ou contra a fabricação e venda de armas de fogo em nosso país. Minha opinião eu já revelei, com clareza, na crônica DESARMAMENTO: SOU A FAVOR, divulgada há algumas semanas. Não pretendia retornar ao assunto, mas li e ouvi tanta propaganda, especialmente contra o desarmamento, que resolvi colocar minha colher novamente. Neste ínterim recebi diversas mensagens, geralmente repassadas e mais repassadas, inclusive de pessoas do meu círculo de amizade, algumas ainda com dúvidas sobre que posição adotar e outras passando a impressão de que estão convictas de que o melhor é mesmo votar “não”, ou seja, contra o desarmamento.Muitas mensagens também me chegaram de pessoas que não conheço, talvez por terem lido o meu texto e resolverem apresentar-me seu posicionamento oposto ao meu. Tudo bem, o que ocorre é que a esmagadora maioria do que chegou a mim era sempre repassado, ou seja, o(a) remetente não argumentava com suas próprias palavras, o fazia com argumentos e exemplos de outros. Bem, na base da argumentação dos que defendem o “não” (contra o desarmamento) tem sido muito repetido isto: “se você não quer possuir uma arma, tudo bem, mas não impeça, com seu voto, que muitos cidadãos de bem possam continuar tendo  o direito de as comprar e/ou usar.” Algo assim ou bem parecido com o que escrevi aqui.Cabe perguntar: quantos cidadãos, realmente de bem, num país com uma população à roda dos 200 milhões de habitantes tem, tiveram, ou pretendem ter e/ou usar armas de fogo? Exceção feita às polícias, em vários níveis, e às forças armadas, ocorre-me que devem ter interesse em ter armas e as usar os colecionadores e também aqueles, como profissionais do tiro, digamos assim, que participam de competições. Para além desses, no meu horizonte de entendimento, não vejo tantos cidadãos de bem que tenham ou usem armas, mesmo na justificativa de ser… para se defender. Mas,  cabe aqui uma indagação: se defender de quem, de bandidos? Desculpem, eu não consigo entender. Já fiquei, como disse em outra crônica, cerca de 20 minutos com uma arma encostada em minha cabeça, dentro do carro e, com certeza, somente saí vivo daquela situação por não possuir arma nenhuma.Não estou sugerindo que não as tenham, afinal cada um decide o que é melhor para si, mas são nossas próprias autoridades que tantas vezes têm recomendado que não reajamos em situações semelhantes, ou não? Ademais os bandidos, amigos e amigas, têm a maior das armas, com certeza. Vejamos: algum bandido, assaltante, por acaso manda carta, ofício, telefona, marca local data e hora com sua vítima combinando o assalto? Se assim fosse os assaltados poderiam alegar que, possuindo arma, teriam a chance de se preparar em defesa, como construir trincheiras em casa ou no escritório, por exemplo, andar com a arma na mão, na rua ou no carro, etc. Seria isso? Meu Deus, para onde caminhamos???!!!Ora, sabemos todos que a grande arma do bandido é justamente o fator surpresa, sim, a surpresa. Você nunca poderá prever quando será assaltado, quando sua residência poderá ser invadida por bandidos, mesmo morando em condomínios super vigiados com câmeras e seguranças. Quantas vezes esses fatos se têm repetido? Muitas, infelizmente. Ora, se você acredita mesmo que tendo arma terá chance de se defender de assaltos os mais variados então deverá assumir que a portará 24 horas por dia.Neste caso se desenha um cenário de “bang-bang” certamente bem pior do  que aquele que vivemos agora, e sem graça nenhuma, pelo contrário, pois “bang-bang” com humor só na novela das 19 horas e criado com o talento de Mário Prata. Você acredita mesmo que se todos os cidadãos de bem, ou quase todos, se armarem, ainda que nunca tenham pego numa arma, ainda que sequer tenham intimidade com ela, os bandidos vão se intimidar e evitar de nos agredir, como diz a propaganda em favor do “não”? Julgo o contrário, pois essa gente, sem honra, sem Deus, sem escrúpulos, que vive no limite, geralmente nada tem a perder, enquanto que os cidadãos de bem têm, e muito, certo?Usar a violência, com certeza eles continuarão a usar, e, valendo-se sempre da tal surpresa, fundamental para eles, deixarão, como agora o fazem, o ônus de usar ou não uma arma, de reagir ou não, para o assaltado. Este, na maioria dos casos, nem deverá ter oportunidade de pegar na arma que julgou lhe daria “segurança”, e se a pegar, poderá ser o último ato de sua vida. Tem sido assim e isto não mudará, creiam. A verdade é que estamos desprotegidos, mas cobremos isso de nossas autoridades.Pensem bem: já cansamos de saber que bandidos invadem delegacias, assaltam viaturas policiais, matam os mesmos e lhe roubam as armas. Quantas vezes isto já aconteceu? É um atrevimento antes quase inimaginável. Ora, agindo assim você acredita mesmo que esses seres, repito, que nada têm a perder, vão se intimidar com cidadãos de bem que possam estar portando uma arma sem nunca terem dado um tiro? Só se você, amigo ou amiga, ainda acredita em Papai Noel, me perdoe.Por outro lado, a propaganda a favor do “não” tem se desdobrado em argumentos nada convincentes sem poderem mostrar o apoio de pessoas de nossa sociedade merecedoras de credibilidade. Sem nenhuma criatividade jogaram na TV uma propaganda horrível que mais depõe contra o que pretendem do que consegue adeptos. Deram de apelar para a ironia e um gosto bem duvidoso… Assim não vão longe, a coisa é séria, amigos. Eles vivem a "exigir direitos", mas têm uma dificuldade imensa em aceitar e conviver com quem pensa diferente deles. Daí as ironias, críticas de mau gosto, agressões, etc. E se dizem… democratas!!Ainda ontem, entre alguns absurdos da turma que defende o “não”, mandaram-me uma série de resultados de “pesquisas” nas quais, vejam só, estão incluídas revistas importantes, jornais da maior credibilidade do país, institutos de pesquisa conhecidos, etc. No resultado das tais “pesquisas”, que eu não li em nenhum daqueles órgãos, o resultado a favor do “não” vai de 45% até… 99%!!! Enquanto isso, a propaganda a favor do “sim” tem ganho de goleada com a adesão de tantas e tantas figuras do maior respeito, da maior seriedade, como uma das maiores damas de nosso teatro, Fernanda Montenegro, além de José Mayer, Arlete Sales, Maytê Proença, Ângela Vieira, Lázaro Ramos, Chico Buarque, e uma infinidade de outras personalidades que se impuseram no cenário nacional pelo seu caráter, pelo  seu profissionalismo, por suas posturas políticas.Mas, afinal você é quem vai decidir. Eu não tenho dúvida sobre o meu voto. Use esses 7 dias que antecedem o pleito para formar melhor o seu juízo sobre o assunto e vote de acordo com sua consciência, com suas convicções. SIM ou NÃO, você é quem sabe.

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