DESCULPE, ROBERTO, VOCÊ DANÇOU

    Amigos e amigas, muitos de vocês devem ter assistido ao “Especial” de Fim de Ano, do nosso Roberto Carlos, na TV Globo, em dezembro/2006, como eu também. É verdade que esses especiais acabam por se repetir em muito no seu conteúdo, mas não faço crítica a isso, não, de forma alguma. Acho até bom que se possa ouvir, neste encontro marcado pela TV, todo ano, um conjunto de lindas canções de um repertório que embalou o namoro de muitos de nós, dos anos 60 para os 70. Hoje, cada vez que o ouço, me arrepio de saudades tantas. Quantas lembranças, vida que se renova sempre nas recordações. Mas, por favor, permitam me dirigir ao Rei Roberto Carlos porque “Sua Majestade” desta vez pisou na bola naquele programa. Vou exprimir democraticamente a minha opinião, e não pretendo provocar nenhuma polêmica com quem eventualmente possa fazer julgamento diferente do meu. Opinar não ofende e discordar é um direito. Caro Roberto, no fundo nosso amigo de fé, talvez quase um irmão camarada, não apenas do Erasmo Carlos, mas de quantos acompanharam toda a sua vitoriosa trajetória. Falo com você que tem canções com letras tão lindas, de autores variados, além das suas e do Erasmo. Com você que tem uma sensibilidade que o credencia a reconhecer o que seja uma poesia, e ela, caro Rei, está presente em tantas das letras das canções que você interpreta.Por isso tenho dificuldade em lhe desculpar pelo que você, de coração ou não, disse naquele momento do seu Especial que destoou do restante. Se queria agradar ao jovem autor do funk que você iria anunciar, tudo bem, mas, me perdoe, entre as palavras que você usou, afirmar que ficou empolgado ao conhecer a letra e que a considerou uma… autêntica poesia!!! Faça-me o favor, Roberto… Olhe, disso eu modestamente entendo um pouco, digamos que tenho nadado um tanto nesta praia, há anos, com algumas boas premiações nacionais e internacionais. Não se trata de imodéstia, mas de uma simples constatação. Me visite por favor, se quiser me dar a honra, em www.franciscosimoes.com.br Aliás, o pouco que entendo creio ser suficiente para lamentar sua afirmação, caro Roberto. E a seguir, nós, acostumados a ouvi-lo cantar canções maravilhosas, que respeitamos seu imenso repertório de algumas obras primas que falam de amor, da vida, de paixão, canções que o alçaram ao título de Rei merecidamente na época da jovem guarda e que permanece até hoje, tivemos que vê-lo cantar (eu disse, cantar?!) e repetir seguidamente aquele refrão interminável: “Se ela dança, eu danço… Se ela dança eu danço…” Meu Deus, tive dificuldade em acreditar ao que assistia, sinceramente. Se foi algo meio imposto a você, ou não, pouco me importa, mas o seu talento, o seu prestígio de cantor romântico e ídolo de mais de uma geração, não merecia ser submetido àquilo. Admito que você até possa gostar daquela letra, (afinal há quem goste, tudo bem) sei lá, mas, de público, afirmar que a considerou uma… “autêntica poesia”… Roberto, desculpe, aí você dançou, nosso Rei. Não se trata de preconceito, em hipótese alguma, mas de qualificar o que seja bom ou mau gosto, de reconhecer ou não aquilo que desperta o sentimento do belo, neste caso, a poesia. Considero-me uma pessoa que tem bom gosto musical, coincida ou não com a preferência de outros, faz parte da vida, e gosto não se discute. Entretanto não iria me omitir em opinar, pois o considero alguém que sempre teve muito cuidado, muito carinho, muita sensibilidade na escolha do seu repertório.Você, sorrindo, chegou a dizer que o funk não era a sua praia, e não é mesmo, por isso talvez quase tenha se “afogado”, caro Roberto. Repito que minha critica, com todo o respeito que sempre tive por você, pelo seu talento, pela sua história de vida, pelo conjunto de tão lindas canções que sempre interpreta, se refere apenas ao que você afirmou: “Eu percebi que ali estava uma autêntica poesia…” E tivemos que ouvir você a repetir… “Se ela dança, eu danço… Se ela dança, eu danço… Se ela dança, eu danço…” Poesia, caro Roberto?! Ainda bem que na mesma noite você prestou uma justa homenagem ao grande mestre Tom Jobim. Ate cantou a canção dele “Insensatez”… curiosa escolha, Roberto, curiosa escolha… Afinal justamente a mim parece que insensatez, prezado amigo de fé, quase irmão camarada, foi o que lhe acometeu no momento em que definiu como “poesia” a letra daquele funk. Não por ser um funk, claro, mas pela sua heresia momentânea. A Poesia, Roberto, passeia na letra da música “Detalhes”, em “Nossa Canção”, em “Emoções”, em “À Distância”, em “Sentado à beira do caminho”, em “Me disse adeus”, em “Nossa Canção”, do autor e poeta Luis Ayrão, em “Como vai você”, em “A palavra adeus”, em “Seu corpo”, em “Falando sério” e tantas e tantas poesias musicadas que compõem o seu vasto repertório. Mas, a fim de encerrarmos pra cima, caro Roberto, se permite a este setentão, fã inveterado há décadas do seu imenso talento, a liberdade de lhe aplicar uma “penitência” eu pediria que ouvisse algumas vezes o “Samba da Bênção”, de Vinicius e Tom. E para completar, digamos assim, a sua “purificação”, ouça a seguir, por favor, de Vinicius e Toquinho… “A Tonga da Mironga do Kabuletê”. Você vai entender. É isso aí, nosso irmão de fé, quase um irmão camarada, que o sucesso, o verdadeiro, o autêntico, que sempre foi sua marca registrada continue com você para sempre. E saravá, como diria o saudoso poetinha Vinicius.

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