DEUS CONVOCOU MAIS UM ANJO

    É amigos, a coisa está mesmo muito feia. Até lá para os lados do céu a turma anda tendo um trabalho imenso. Ora para tentar evitar os descalabros humanos, ora para atender a tantas preces, orações, promessas, ora para não deixar que o exército comandado por Satanás continue avançando cada vez mais.  Alguém me disse outro dia que, embora o nosso bom padre Marcelo afirme em uma de suas letras, que o “céu está descendo”, ele, analisando tudo que anda a acontecer perto e longe de nós, pelo mundo afora, acredita mais é que “o inferno está subindo”. Não ouso discutir tal opinião porque as evidências, por mais que queiramos ignorá-las, estão, aí, lamentavelmente, querendo dar razão ao meu amigo. Mas, permitam que lhes fale de uma santa pessoa que minha esposa, quando era  criança, ainda bem pequena, conheceu no bairro da Saúde, aqui no Rio de Janeiro. A freira, de nome Maria Luiza, fazia um trabalho caridoso levando a fé, a palavra de Deus, mas também alimentos para as famílias que enfrentavam dificuldades.  Muita gente naquele bairro não passou fome diariamente, à época, graças à irmã Maria Luiza, um anjo na Terra. Já houve mais desses anjos, atualmente parece que eles são em bem menor número, ou não são em número suficiente para atender a tanto sofrimento, à tanta fome, à tanta miséria, à tanta crueldade humana. Depois de estar casado com Zezé, a partir de 1964, foi que eu conheci aquela criatura pequenina, magrinha, com seu olhar angelical, sempre disposta a ajudar qualquer pessoa que a procurasse e tendo sempre uma palavra amiga e confortadora. À época ela vivia na Gamboa, no Hospital que está localizado no alto de uma pequena colina.  Lá nós a visitamos diversas vezes através dos anos junto com Jomar, irmã de Zezé e minha cunhada. Hoje o Hospital está fechado. Eternamente agradecida por tudo que irmã Maria Luiza fez por sua família e por seus amigos, no passado, minha esposa procurava retribuir, junto comigo, a tanta generosidade, tanta compaixão, colaborando de alguma forma com suas ações de beneficência, de caridade. Tudo que por ela pudéssemos fazer sabíamos que seria sempre muito pouco em relação ao imenso trabalho humanitário que ela desenvolvia. Irmã Maria Luiza dedicou sua longa vida a fazer o bem, a ajudar ao próximo, diariamente. Quando fecharam o Hospital da Gamboa, ela, que sempre gostou de estar ali, que amava aquela comunidade à qual serviu por longos anos, ficou muito triste, abatida, mas teve que se resignar com os desígnios de Deus. Foi então transferida para um prédio anexo ao Hospital S. Vicente de Paula, na Tijuca. E sabem por que fecharam o Hospital da Gamboa? Por desleixo do poder público o que fez com que os médicos fossem se afastando daquele projeto importantíssimo para a população mais carente da região. Quando lá fomos pela última vez, na Gamboa, tudo estava vazio. Até a lanchonete do estacionamento havia fechado. Não se via ninguém pelos jardins.  Apenas um silêncio profundo e triste e uma brisa fresca passeavam por ali. No estacionamento só estava o nosso carro. Ao chegarmos ao portão principal tomamos um susto. Ele não só estava fechado, o que não era comum, assim como tinha um grande cadeado. Era mais um indicativo de que algo de muito grave acontecia ali. Soubemos depois que nem as freirinhas foram poupadas pela bandidagem. Pasmem, elas haviam sido assaltadas, mesmo sem nada terem a entregar, que não a vida e a sua indestrutível fé.  No seu novo lar, no São Vicente de Paula, ela convivia com muitas outras freiras, a maioria de idade bem avançada. Irmã Maria Luiza, que exibia uma saúde invejável, já tinha ultrapassado a barreira dos 90 anos. Quando a visitávamos lá, ela procurava sempre relembrar os tempos da Gamboa. Comentava episódios da infância de minha esposa com uma lucidez impressionante. Nossas visitas costumavam durar cerca de uma hora, às vezes um pouco mais. Uma vez ficamos muitos minutos relembrando com ela a linda missa festiva a que estivemos presentes, ainda na Gamboa, quando Irmã Maria Luiza estava comemorando suas “bodas de diamante”, ou seja, seus sessenta anos de integral dedicação à vida religiosa, carreira que escolhera desde muito jovem.  Naquele dia a igreja estava repleta, ela se reencontrava, ao mesmo tempo, com grande parte de seu passado. Quantos corações eternamente agradecidos à ela, ao seu amor cristão, à sua doação total ao próximo, ali estavam para homenageá-la, beijar-lhe as mãos, reverenciá-la e desejar-lhe muita saúde e muitos anos de vida, pois o  mundo já estava necessitado, cada vez mais, de anjos bons, como  Irmã Maria Luiza. Sem receio de errar, eu diria que ela teve uma vida comparável a de Madre Teresa de Calcutá, e a da brasileira Irmã Dulce. Há poucos dias atrás ela foi chamada por Deus. Um reforço muito valoroso para a equipe do céu. Nenhuma doença a abateu, não, apenas era chegada a hora de ir levar o seu trabalho piedoso e cristão a outro plano.  Conosco ficaram as lembranças inesquecíveis em nossa memória. Agora ela também está sempre presente, junto a nós, nas muitas fotos que com ela tiramos, nas visitas. Seu olhar sereno, angelical, seu sorriso que irradia amor e paz, nos animam a prosseguir nesta vida onde cada vez mais, infelizmente, tantos seres humanos se afastam de Deus, mergulham na escuridão de instintos selvagens e cruéis, se auto destruindo no sentido da imagem criada à semelhança d’Ele.  Hoje, em nossos corações, Irmã Maria Luiza vive como santa, independente de títulos ou honrarias que lhe possam conferir, ou não, os homens da Igreja a que ela serviu com tamanha dignidade, doçura, indulgência, zelo e muito, muito amor. Deus precisava e convocou mais um anjo. Francisco  Simões.

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