“É BONITA…”

    “È bonita, é bonita, e é bonita…” Assim o nosso saudoso Gonzaguinha cantou a vida e nossa gente. Concordo com ele, mas há quem insista em discordar talvez só por um meio doentio espírito de negação sistemática, sei lá. Mas vamos ao que interessa. Recentemente quando da realização do pan-americano do Rio de Janeiro eu escrevi sobre os inúmeros feitos de nossos atletas nas mais variadas competições esportivas. Afinal foram inúmeros os recordes quebrados, tanto a nível sul-americano como mundial, e o Brasil teve a melhor participação de todos os tempos. Agora, ao se encerrar o parapan, eu não poderia deixar de dizer uma palavra sobre o referido evento pela primeira vez realizado no mesmo país em que acabara de ocorrer o pan-americano. Acompanhei algumas disputas e fiquei maravilhado com o espírito de superação que motiva pessoas a competir e vencer. Para quem não sabe, informo que o Brasil se sagrou campeão daqueles jogos pela primeira vez. Foi uma surpresa geral, pois os mais otimistas esperavam um honroso terceiro lugar, como ocorreu no pan-americano. Afinal sabia-se que tanto EUA como Canadá estavam vindo com sua força máxima. Mas, nós vencemos. Me emocionou muito assistir a várias competições onde pessoas, com deficiências as mais variadas, pareciam ir além dos seus limites. Eu não conhecia, por exemplo, o volley jogado pelos deficientes físicos. Numa quadra bem menor e rede próximo ao chão, os times se enfrentavam com uma garra e um talento invejáveis. Embora o favoritismo neste esporte pendesse para a seleção dos EUA os nossos para-atletas os venceram na final e ganharam a medalha de ouro. A vibração dos jogadores ao término da partida nada ficou a dever à seleção de Bernardinho. Cenas eletrizantes ocorreram também nas disputas do basquete, entre outras modalidades. A decisão no futebol de cinco tinha que ser entre Brasil x Argentina. No parapam anterior nós perdêramos deles por 1×0, mesmo escore com que desta feita o time do Brasil se sagrou campeão sobre aquele adversário.   No tênis de quadra assisti a uma cena quase impossível de se ver, lamentavelmente, entre atletas sem deficiências de Brasil e de Argentina. O adversário do brasileiro, ao final do jogo, deixou cair a raquete de propósito e movendo sua cadeira de rodas atravessou para o lado do jogador do Brasil envolvendo este num longo e emocionante abraço. Um exemplo que deveria ser imitado pelos atletas, do mesmo país, que deram aquele triste vexame na final do futsal no pan-americano. Quantos recordes sul-americanos e mundiais foram quebrados nas diversas modalidades do atletismo em geral. O atleta brasileiro que lança dardos foi um desses destaques. Outros, porém, aconteceram em profusão na natação, em várias provas de corrida, etc. A parceria dos corredores com seus guias é de se destacar. Uma jovem, deficiente visual, que venceu quebrando recorde, tinha como guia o seu namorado. Neste parapan, surpreendendo a todos, o Brasil terminou em primeiro lugar. Deixaram para trás os favoritos dos EUA, do Canadá além do México, Cuba etc. Tradicionalmente ficávamos em quarto. É ou não um feito para se comemorar, para se destacar? Pois é, mas acreditem que há aqueles que apenas se preocupam em observar, em anotar erros, falhas, desvios na organização, etc. Um bom amigo me disse que na busca de ver ou ouvir opiniões outras que divergiriam do apregoado sucesso, ainda do pan-americano, chegou a um certo orkut. Então ele me escreveu: “Amigo, lendo teu texto sobre o PAN é que lembrei de uma comunidade que achei no orkut, falando que foi um fracasso… Como acho sempre bom a gente ver opiniões divergentes, te mando colado abaixo.” E mandou. É um longo artigo com autoria e com o título de “O jogo dos 2007 erros do Pan Rio 2007.” Na verdade o cidadão que o escreveu chegou a “apenas” pouco mais de 280 do que chamou de “erros”. A preocupação básica do autor foi relacionar falhas de organização, promessas não cumpridas, aspectos políticos dos jogos, etc.  Em nenhum momento ele se referiu aos atletas, às competições ocorridas, às inúmeras medalhas ganhas por total merecimento dos participantes, até porque neste terreno ele não poderia relacionar erros, apenas acertos e muitos, vitórias magníficas de todos aqueles que ali estavam para competir e representar dignamente o seu país. Felizmente o esporte, de uma maneira geral, passa bem ao largo dos erros e desmandos da política. A nós interessava falar do conteúdo do pan-americano, de sua essência, daqueles sem os quais ele não existiria, os atletas e seus feitos, sem qualquer ufanismo barato e despropositado. Falamos de algo real, palpável, de méritos, não de política, pois este terreno sabemos bem que é minado e atualmente muito enlameado. Não tenho a intenção de valorizar o que li, nem de fazer-lhe alguma crítica mais acirrada, não, mas me permitam discordar frontalmente desta afirmação do autor que demonstra uma visão bastante curta do evento: “93-) A imprensa foi comprada para divulgar só o que é bom do evento, como se houvesse algo de bom nisto.” De tantas afirmações que ele faz algumas são corretas e outras me parecem um tanto exageradas. Só não vou colocar em minha cabeça a carapuça por ele lançada sobre todos, sem exceção, que realçaram o sucesso do pan-americano, a de ser um… “ufanista”… Talvez ele tenha confundido o sentido desta palavra e daí a usou de forma genérica, sem ressalvas. Poderia ter sido mais cauteloso e talvez educado.  Mas ainda é melhor, sei lá, do que passar por um negativista sistemático. E resolvi ouvir de novo o nosso bom Gonzaguinha a cantar: “É bonita, é bonita e é bonita…”

    Matéria anteriorA FOTOGRAFIA
    Matéria seguinteSOBRE CELULARES