E EU CAÍ NO GOLPE FEMININO PORTUGUÊS

    Meus amigos e amigas, o que lhes contarei hoje aconteceu de verdade no ano de 1995. Nós estávamos morando em Lisboa pela terceira vez desde 1989. Sempre tivemos o hábito de caminhar e caminhar muito diariamente. Assim conhecemos bem todas as cidades que visitamos nos mais variados países da União Européia. Naquele dia voltávamos do Rossio num final de tarde subindo pela Av. da Liberdade. Este era um caminho que usávamos quase sempre no retorno à casa. Estava em curso uma greve dos funcionários do Metro (Metrô para nós). O movimento tendia a ser maior tanto de pedestres como nos autocarros (ônibus para nós). Lá o Metro é realmente uma condução de massa, como o é em toda a Europa. O valor da passagem é bem inferior ao dos autocarros. Nós estávamos há cerca de um quarteirão para virarmos à direita na rotunda do Marquês de Pombal, ponto de grande referência em Lisboa, ao lado da agência do Banco do Brasil. Paramos porque o sinal fechara para nós. De repente fui abordado por duas bonitas jovens. Elas pediram desculpas por me incomodar, mas perguntaram se não poderia ajuda-las. Alegaram estar com um problema de dinheiro para voltar às suas casas. Zezé logo me cutucou e advertiu para eu nada dar a elas.  As jovens explicaram que desconheciam, quando haviam vindo trabalhar na cidade pela manhã, que haveria uma greve do Metro. Elas moravam em Benfica e a distância era muito grande. Tomar um auto carro significava que iriam gastar bem mais do que tinham nas carteiras àquela altura. Zezé voltou a me advertir, falando baixo, mas pedi que deixasse por minha conta. Sinceramente não achei que duas meninas, bem vestidas, bem falantes, além de bonitas, pudessem estar planejando me fazer de otário em plena Lisboa. Tirei da carteira uma nota de 500 escudos, na época algo como 2 dólares, e entreguei a elas. Comentei que as passagens dos auto carros até Benfica, além de um eventual lanche necessário àquela hora, com certeza, deveria consumir aquele valor. Elas sorriram, me agradeceram muito e sumiram por trás de nós.  Logo que reiniciamos nossa caminhada na Av. da Liberdade Zezé chamou minha atenção para um fato. Na calçada central, à esquerda daquela em que estávamos, surgiu de repente um jovem, um rapaz de uns 18 anos, que subira rapidamente as escadas da Estação do Metro que estava fechada pela greve e por onde as meninas haviam descido. Com minha nota de 500 escudos na mão direita, agitou-a ao ar e gritou na nossa direção: “Oh brasileiro otário… Obrigado por este dinheiro, és um parvo, oh pá… Vou fazer bom “uso” dele, com certeza”…  Senti naquele momento que o faro de Zezé funcionara melhor do que meu processo de julgamento de seres humanos. Mas, que fazer, sempre fui assim, prefiro primeiro acreditar nas pessoas até prova em contrário. E ali estava a tal prova a ser atirada na minha cara com a gozação do jovem português. Eu, brasileiro, esperto, um autêntico parvo em terras lusitanas. Bem feito. Mereci. Como não sou dado a atitudes de violência apenas me voltei para o safado gozador e falei alto pra que ouvisse bem algo mais ou menos assim: “Oh gajo, olha aqui, eu tive a melhor das intenções, não tenho do que me envergonhar, agora tu, seu bobo, te cuida, te cuida mesmo.” Insisti fazendo ver a ele que brasileiro não era só bom de bola, mas também muito bom de “macumba”. E completei de forma bem clara e convincente: “Amanhã se algo te acontecer, te machucares num braço, numa perna, se quebrares algo, etc, se doer muito, não maldigas a Deus, não, procura te lembrar de mim e do que fizeste. Parvo não sou eu, não, mas quem se julga esperto como tu que de nada sabes.” Olhem, podem até não acreditar, mas o sujeito me ouviu o tempo todo, mudou a fisionomia e deve ter pensado que eu era mesmo um grande macumbeiro. Ora, logo eu, que não sou de guardar rancor no coração, não mesmo, por nada, mas parece que fui convincente.  Em seguida ele voltou correndo para a escadaria do Metro e sumiu. Sabem que em situações assim, se a pessoa se assusta muito, se deixa impressionar, ela mesma pode provocar algum tipo de situação, de acidente, e acabar se dando mal, sem nada ter a ver com alguma “praga”?  Pois é.  O fato, porém, é que eu caí como um patinho no golpe das duas bonitas cachopas e Zezé não me perdoou. Faz parte da vida. Outro dia conto mais histórias diferentes vividas por nós naquelas viagens pela Europa, não só em Portugal.

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