ECOS DE UMA PRIVATIZAÇÃO MAL-AJAMBRADA

     Não, hoje por acaso não falarei da Telemar, a campeã das campeãs em reclamações de usuários, no Procon. Nem vou lembrar que a cada ida a Cabo Frio, atualmente, isto de mês em mês, encontro sempre um dos telefones, pelo menos, completamente mudo. Isso tem sido uma rotina que não pretendo comentar agora.  O alvo hoje é a CERJ. Em dezembro passado, quando fomos para uma estada de 12 dias na nossa querida e cada vez mais linda Cabo Frio, de repente, por volta do meio-dia do domingo, dia 29,  ficamos sem energia elétrica. Mais tarde soubemos que o fato atingira quase todo o nosso bairro do Braga, onde está localizada a Prefeitura, que é nossa vizinha.  Várias pessoas começaram a telefonar para a CERJ em busca de uma informação. Quando comentavam sobre o atendimento da companhia, o curioso é que os esclarecimentos obtidas não coincidiam. Imagina-se que as pessoas estão nervosas e às vezes acabam por alterar o sentido das palavras ouvidas. Talvez fosse isso. Minha esposa telefonou para a CERJ, porém apenas às 17 horas, já que até então continuávamos sem energia elétrica. Da atendente ouviu que: “a equipe de técnicos já está se deslocando para o local, a fim de fazer o reparo necessário”. Ora, para alguns que telefonaram logo após o corte de energia, ou seja, entre 12 e 13 horas, haviam dito, entre outras explicações, que o “problema já está sendo solucionado”.  Percebe-se assim que: ou a equipe de atendentes brinca irresponsavelmente com os usuários numa situação de emergência, ou estavam completamente perdidas sem terem uma posição correta para dar. Diziam então qualquer coisa impunemente. Em outras palavras, elegeram a mentira uma vez que a verdade passava longe do seu conhecimento.  Em resumo: desorganização e irresponsabilidade no trato com usuários. Note-se que a cidade já estava com a população acrescida de muitas pessoas que para lá se deslocaram logo após o Natal. Nosso condomínio habitualmente serve de termômetro para se avaliar o crescimento da população flutuante. Em tempos de privatização é estranho tanto desencontro, tanto desconcerto, o que não seria antes, quando se criticava o serviço público sem dó nem piedade, jogando, em última instância, a culpa no governo. Infelizmente algumas empresas, agora privatizadas, se expandiram muito os seus serviços, o mesmo não se pode dizer da manutenção dos mesmos e do atendimento aos usuários. Não esqueçamos que em matéria de energia elétrica estamos hoje pagando tarifas muito, mas muito superiores àquelas que vigoravam há um e 2 anos passados. Não esqueçamos também de que acabamos sendo esbulhados duplamente no episódio do racionamento imposto, para evitar um mal maior: um apagão generalizado. Era o que nos informavam oficialmente, lembram? Fizeram-nos economizar ao máximo a energia e depois passamos a pagar muito mais caro, consumindo menos que antes, para que o governo pudesse atender aos reclamos de “déficits” das empresas do ramo. Se elas ainda fossem estatais diríamos que aquilo acontecia por incompetência gerencial etc e tal. Mas, agora, cadê a eficiência administrativa e técnica dessas empresas, privatizadas?! Voltando ao episódio da falta de energia naquele domingo, tenho mais a lhes contar. Preparem-se. Por volta das 18 horas, como ainda vivêssemos aquele inesperado e mal explicado apagão, eu decidi também telefonar para a CERJ. A jovem atendente me deixou pasmo ao exigir, para me dar a informação que ela me devia, que eu pegasse uma de minhas contas e lesse nela o meu “número de cliente”!! Atendi, mas não perdi a oportunidade de lhe dar uma “fustigada”. Fiz ver a ela que  muitos dos prejudicados que estariam a telefonar para a CERJ eram inquilinos temporários, que haviam alugado uma casa ou um apartamento, por dias, semanas, ou um mês. Eles jamais poderiam atender àquela absurda exigência, que, no meu entender, nada tinha a ver, era mesmo inoportuna e descabida. Se alguém nos devia alguma coisa, era a própria CERJ, ou seja, uma informação correta e orientadora. Preparem-se que tem mais: a jovem me disse que, no caso de serem inquilinos, ela então lhes pediria que informassem “o número do relógio, medidor da eletricidade do imóvel”….. Vocês terão dificuldade de acreditar, como eu também tive e cheguei a rir, transformando em cômico, o que na verdade era muito, e muito trágico.  Este aparelho fica normalmente fechado com cadeado, dentro de uma caixa apropriada para protegê-lo, e localizado do lado de fora da casa. A visão, além de difícil, estaria sendo prejudicada por um fim de tarde muito nublado que fazia escurecer mais cedo. Ademais, convenhamos, aquilo era uma loucura, não fazia nenhum sentido. Mais uma “exigência”, como outras diferentes, que as atendentes faziam conforme a pessoa que lhes telefonava. Não havia uma norma a seguir. Bom, depois de ser tratado mais como “suspeito” do que como vítima de um serviço da CERJ, tive finalmente a resposta definitiva da atendente: “Os técnicos estão cuidando do assunto. Não há previsão de horário para o retorno da energia.”  Pois é, esperei tanto, atendi a exigências, espantei-me com observações absurdas, para ouvir o que, em menos de 20 segundos, ela poderia ter-me informado. Haja paciência!! Pensam que acabou? Não, de forma alguma. Vamos agora à causa daquele apagão. À nossa amiga Marlene fora dito que num dos postes os fios haviam se tocado e produzido o curto-circuito que gerou a falta de energia, já por demais demorada. Mas, o que fizera eles se enroscarem? Acreditem, por favor, acreditem: disseram-lhe que fora uma “canga” caída da janela de algum apartamento…  Menos mal, pior teria sido uma simples calcinha… Meu Deus, então uma canga pode deixar um bairro inteiro, ou até uma cidade, sem energia elétrica?? Estamos assim tão desprotegidos? A julgar pelo festival de fios que passam em frente às nossas casas, e não apenas na nossa querida Cabo Frio, fico imaginando como não acontecem curtos-circuitos mais freqüentes, sinceramente.  Embaralham-se vários fios da CERJ, das casas, dos edifícios e da iluminação das ruas, com os da TELEMAR (e há muitas casas com 2 telefones fixos), com os de emissoras de TV via satélite, várias, com os de empresas de Internet a cabo, mas via antenas parabólicas, enfim, uma “babel silenciosa”, se posso fazer tal adaptação para aquela situação babilônica onde as vozes e outros sons percorrem trilhas e trilhas quilométricas de cabos intermináveis.  Por que até hoje ninguém se preocupou em usar um sistema subterrâneo, moderno, seguro, eficiente, que não expõe transeuntes a riscos nem submete usuários dessas companhias aos caprichos de uma… canga… que se desprendeu de algum varal domiciliar e privou, por quase sete horas consecutivas, um bairro inteiro, como o do Braga, em Cabo Frio, de usufruir do sistema elétrico, regiamente pago por nós?  Em cidades da Europa é muito comum o sistema de cabos subterrâneos. Nós somos inteligentes, criativos, mas a visão, geralmente política, é que parece atrapalhar certos avanços, especialmente quando não podem gerar festas megalômanas de inauguração. Como não se pode proibir que as pessoas pendurem cangas em seus varais, continuaremos sujeitos a ficar sem energia elétrica, especialmente a cada verão. Mas, eu não poderia deixar de contar-lhes a notícia que recebi da amiga Marlene, de Cabo Frio, por telefone, dois dias depois daquele apagão. Nós já estávamos de volta ao Rio. Pois ela falou-me, por volta das 21 horas, do dia 31/dezembro, que lá estavam há muitas horas com a energia elétrica na base do: “on-off-on-off-on-off…” Perceberam? A energia fugia e voltava com pequenos intervalos. Coitadas das geladeiras e freezers! Nem perguntei a causa daquilo, mas provavelmente deveria estar acontecendo uma “chuva de cangas” no nosso bairro do Braga, face a alguma ventania mais constante, tão comum em Cabo Frio! Zombam da nossa inteligência, não? Para encerrar, digo-lhes que a situação veio a se repetir em São Pedro da Aldeia, que dista 10 quilômetros de Cabo Frio, nos dias 2, 3 e 4 de janeiro. Houve falta de energia elétrica, repetidas vezes, durante aqueles três dias. Parece que também lá andaram pendurando mal as “cangas” em seus varais!!! Oh vida, oh CERJ…  A gente quer ser a favor, a gente quer aplaudir, mas além de estarmos sendo esbulhados com um crescimento brutal da taxa de energia elétrica, faz tempo, ainda temos que suportar esses “ecos de uma privatização mal-ajambrada”. E o usuário continua a ser tratado como nos tempos em que essas empresas eram públicas! Haja paciência para suportar tanta incompetência, agora privatizada.   

    Matéria anteriorInformática
    Matéria seguinteECOS DE UMA PRIVATIZAÇÃO MAL-AJAMBRADA