ENTERROS SUPER STAR

    Em 25 de maio, a revista dominical de O Globo circulou com umamatéria sobre a sofisticação do setor funerário. Dois repórteres foram escaladospara mostrar as novidades dos velórios, crematórios, cemitérios, funeráriase fábricas de caixão, no Rio e em São Paulo.Em Botucatu (SP), encontraram o velório mais moderno do Brasil,com direito a suíte de luxo para as famílias descansarem. Sob uma trilhasonora, o caixão entra no anfiteatro do cemitério debaixo de uma chuva depétalas de rosas, enquanto um telão exibe momentos da vida do falecido.Em Guarulhos (SP), a urna é elevada por uma plataforma e se esconde no teto,como se estivesse subido ao céu. A cerimônia pode ser transmitida ao vivopela internet. Tanto no Rio como em São Paulo já se encontram profissionaisespecializados em maquiar o defunto, tirando o aspecto cadavérico do mortoe lhe dando uma aparência de vivo.Não sou adepto dessas "modernices". Acho que prejudica os aspectosfantasiosos, religiosos e folclóricos dos velórios, dos enterros, dos cemitérios,enfim, do que envolva a morte.Se a idéia prosperar, vão desaparecer os velórios de famíliagrande onde a "parentada", movida a café requentado, salgadinho frio e muitaescapulida para as barraquinhas que cercam os cemitérios, varam a madrugadajogando cartas, falando mal um do outro e, à boca pequena, também do defunto.O tragicômico fica por conta da hora em que surge fatura da funerária: porencanto, a maioria desaparece e "vaquinha" é garantida pelo dinheirodaqueles de sempre.Vão cair no esquecimento aquelas conversas com motoristas detáxi, do tipo falador, que contam uma tradicional história: numa noite fria,escura e chuvosa, uma solitária mulher vestida de branco fez sinal. Acomodou-seno banco de trás e deixou perceber, pelo retrovisor, que possuía o rostopálido, cadavérico. A mulher mandou tocar para o cemitério. Ainda não erameia-noite, quando a "dona" desembarcou na calçada do portão principal que,naquela hora, estava trancado. Segundo o motorista, nos três segundos seguintesaconteceram três fatos: A "dona" desapareceu da calçada sem pagar a corrida.Uma rápida fumaça transpassou as grades do portão de ferro. A "dona" reapareceuna alameda interior do cemitério.Lá na serra, as lendas friburguenses podem perder o registrode que na "terrinha" havia um vereador que não perdia um enterro. Se nãoconhecesse o falecido, dava um jeito de obter todas as informações sobreo morto para que, antes do caixão descer a terra, pudesse deixar "registrada,em palavras, a sua derradeira homenagem".Após o encerramento de um funeral, na saída do portão do cemitério,o tal vereador vislumbrou um manancial de votos numa roda de conversa derapazes. Partiu célere ao encontro dos adolescentes e, ao que estava maispróximo, perguntou: – "Ô menino, como vai o seu pai?".-"… Papai…vereador… … Infelizmente foi aquele enterradohá pouco…Morreu".E o vereador, sem perder um mínimo da pose: "Morreu para você,filho ingrato! Pois no interior do meu coração ele continua "vivinho dasilva"!".

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