Minha mãe, mulher do lar, semi-analfabeta, pregava que um dos segredos da longa união de um casal é a criatividade amorosa do par. Acho que daí herdei a admiração por audaciosos lances de amor. Principalmente os que vejo no cinema. Considero a sétima arte a única mídia capaz de transmitir a verdadeira dimensão de realidade. Na "telona", o mar enjoa. A neve é gelada. A pele de uma mulher é macia. Há exceções. No vitorioso “Encontros e Desencontros”, a insônia de Bill Murray e Scarlett Johansson é pretexto para as conversas entre ambos, que freqüentemente se cruzam, por acaso, no bar do hotel em que estão hospedados, em Tóquio. O começo sinaliza para uma apaixonante comédia romântica. Na seqüência, se assiste a uma história de amor insossa, sem romance e sem cenas marcantes. Como aquela, de Perfume de Mulher, em que Al Pacino, vivendo um cego, escolhe, pelo seu aroma de colônia e sabonete, uma cliente do restaurante chiquérrimo a acompanhá-lo num tango:- Estou esperando alguém chegar a qualquer momento… diz a mulher. – Num momento pode-se viver a vida… fulmina Pacino. Outro filme recente, “Vida e Morte de Peter Sellers”, contém uma seqüência romântica de mestre: Sellers e Britt Ekland se casam e vão passar a lua de mel num hotel fantástico. Apaixonadíssimo, ele a carrega no colo para a suíte: flores, jantar à luz de velas, champanha …. Britt nota a falta de música e Sellers imita, sem sucesso, o som de um violino. Com ar constrangido, solicita à mulher que abra as cortinas, para entrar claridade. Nesse momento, na sacada do hotel, uma orquestra inteira toca, ao vivo, a música esperada por Britt. O pano de fundo são fogos de artifício espocando na noite de Nova Iorque. Quanto ao “Eles se casaram e foram felizes para sempre”. fico com o de “Uma linda mulher”. Richard Gere desce de seu pedestal de poderoso e frio empresário e vai até o subúrbio onde vive Julia Roberts, ex-prostituta de rua. Num conversível branco fazendo as vezes de carruagem de Cinderela, enfatiotado num terno de muitos dólares, ele vence seu medo de alturas e sobe pelas escadas de incêndio de um mal cuidado prédio, para oferecer-lhe flores e confessar o amor a que não pôde resistir. Para quem gosta desses arroubos, como eu, pode ficar a impressão de que, pessoalmente, vivi grandes aventuras nos meus “anos dourados”. Nada mais falso. Como Cazuza, sempre admirei os “amores inventados". Ao contrário do que sobrou no cantor e compositor, nasci, cresci e permaneço carecendo de atributos para ser um “exagerado”. Embora, muitas vezes, estar “jogado aos seus pés” ter sido meu grande desejo.
Inicial EXAGERADO