FALTOU DIZER QUE…

     De tempos em tempos surge na minha mente alguma idéia para uma nova crônica que, de acordo com os meus devaneios, será “pule de dez” para causar um furor dentro do BC só comparável a um vendaval (o termo “tsunami” está muito batido).  Nesse caso, sigo um ritual: primeiro, permaneço intermináveis dias remoendo e maturando a idéia. A seguir, digito um rascunho que após lido e relido mil vezes, sofre tantas intervenções que, depois de “passado a limpo”, me deixa a dúvida se continua fiel à idéia original.  Aí repasso para o Roberto Vivas que devolve sempre com ótimas sugestões. Como não sei gramática, submeto o texto ao corretor do Word.  Só após esse ponto é que envio o resultado da digitação aos sites. Minto! Antes, ainda dou uma última olhadinha. Invariavelmente, mudo tudo de novo.A partir das dez horas da data prevista para a crônica “ir pro ar”, entro em pânico. Aumento o som do alto-falante do micro e a cada barulho característico da chegada de uma nova mensagem eletrônica deixo tudo de lado e vou verificar como anda a repercussão da matéria. As decepções se sucedem o dia inteiro: só “pintam na minha telinha” mensagens eróticas oferecendo do Viagra aos préstimos de uma linda “ninfetinha”. No dia seguinte, a derradeira tentativa: nos lugares de movimento como os elevadores, o 25º, o BB e a ASBAC, procuro provocar o assunto. Como, invariavelmente, ninguém comenta nada, passo a esperar por outra revolucionária idéia. Esta prolixa introdução é para dizer que a última matéria sobre as “as namoradas que não tive”, confeccionada de forma precária, emergencial e naquela de sem assunto, foi a que – paradoxalmente – me proporcionou o maior número de manifestações até hoje. É! Pois é! Ainda estou todo bobo… O que aconteceu é que havia esquecido de manter alguma coisa pronta para a volta das férias da RIONET na última segunda, 14, o “meu” dia. Tentei apelar para o “acervo”, entretanto, só encontrei escritos “tristes e baldios, como escreveria Vinicius de Morais para a letra da canção “Gente Humilde” (Chico Buarque colaborou apenas com uma frase). Não encontrei nada com conteúdo alegre, como exigem os retornos. A primeira observação aconteceu quando subia no elevador, ao dar de cara com um vascaíno tão renitente como eu que perguntou pela Sylvia Koscina e lamentou profundamente que eu não tivesse “namorado” a Ava Gardner. Senti que fui perdoado dos dois pecados a partir do momento em que afirmei que a Ava foi a mulher mais linda que o cinema já produziu.No hall do restaurante uma ex-chefe perguntou qual delas fora a grande paixão. Sem titubear, afirmei-lhe que foi a Beth Mendes. Não só por sua beleza física ou pela sempre correta postura pessoal, mas, igualmente, pela sua luta e engajamento aos seus ideais políticos e sociais (considerada “subversiva” pelo golpe militar de 64, foi presa e torturada). Contei também que cheguei a rascunhar-lhe uma apaixonadíssima carta revelando com tanta intensidade meus sentimentos que meu pai, preocupadíssimo, depois de descobrir e ler, me chamou para uma conversa de “homem para homem”.  Mesmo assim, desconfiada, a ex-chefe comentou: – “Gozado! Pelo que sei de você, eu tinha a certeza que responderia que foi a Daniela Escobar”. Descendo no elevador, entra outro vascaíno que, sem tomar fôlego, me fulminou dizendo que não se lembrava da Rossana Ghessa. Fiz uma síntese tão superlativa dos predicados da atriz que ele, entre pensativo e frustrado, passou a amaldiçoar a sua memória.  De novo no elevador (único local do banco aonde ainda é possível encontrar as pessoas), uma fiel colega e companheira de antigos setores, simpaticamente observou: – que paixão pela Beth Mendes, heim?!?! E confessada publicamente?!?! Parabéns! É isso aí!Recebi um e-mail de um velho amigo… Tcham! Tcham! Tcham!…  Vascaíno! Pediu para que não ficasse com inveja, mas contou que é vizinho da Rossana Ghessa e informou que ela continua maravilhosa. Trocamos mensagens e descobrimos que além de namorada ela foi – concomitante e por bom tempo – também nossa amante. Como isso aconteceu? Simples! Através de fotografias e na base da covardia: cinco contra um!A última questão só podia ser de um flamenguista: “E qual delas lhe causou alguma frustração?”.  Respondi na “lata”: – Daniela Escobar!- Te decepcionou? – Não! É porque ela tem 36 anos e só há dois a descobri. Olhe o tempo que perdi…

    Matéria anteriorNOVA REVERSÃO DE PROVISÃO
    Matéria seguinteÉ MESMO TEMPO DE CORVOS