É MESMO TEMPO DE CORVOS

    Pois é, amigos, mudamos os homens, trocamos o partido do poder, acreditamos em discursos de renovação com implantação de políticas sérias no campo da educação, da saúde, da habitação, apoiadas em pilares de justiça social, de uma reforma agrária que tanto prometeram, mas agora agem como seus antecessores o fizeram. As imagens continuam provando que pouco ou nada mudou. Para que votamos, então?? Nós que defendemos sempre, não a obrigação do voto, mas a importância dele como exercício de cidadania, o não se omitir, porém participar sim, votar sempre, procurar acertar, embora em termos de política brasileira isto seja algo complicado e muito difícil, como ficamos? Acreditar em quem, em quê? Afinal, mudar só por mudar, as outras opções que o povo tinha em nada inspiravam maior confiança. E aí, como continuar a defender o voto?! O pior é ver que a maioria, sempre a mais prejudicada, é quem acaba por eleger uma minoria que depois, sentada no trono do poder, a ignora, a subestima, a despreza, mas continua a sorrir, como sorriam os antecessores, a rasgar promessas, a justificar o injustificável, a enfileirar pretextos tantos, os mesmos que antes eles condenavam. Comemoram, sim, comemoram que o dólar anda mal das pernas, que a inflação continua sem fôlego, que vivem a arrecadar mais. Segundo analistas de economia, tudo tem a mesma causa: constante aumento de juros e de impostos.  Arrecadam mais, sim, mas com os mesmos métodos que o governo anterior utilizava: aumentar impostos, massacrar sempre a classe média com a não correção da tabela do imposto de renda e outras artimanhas.  E exibindo a mesma “cara de pau” concederam agora a mísera correção de 10% quando a defasagem, segundo autoridades em economia o afirmam, já alcança o patamar de 60%… Dane-se a classe média. Votamos, pois que colhamos os frutos… Desanimador foi também o triste “espetáculo” promovido pelos senhores deputados na eleição para a presidência da Câmara Federal. Numa atitude de puro revanchismo, e numa forma, como disseram alguns, de “exigir mais respeito do governo”, transformaram um ato sério num circo em que, qualquer que fosse o outro candidato no segundo turno, este teria sido eleito. Foi o Sr. Severino, do PP. Pois que seja.  Magnífica plataforma(!!): aumento do salário dos senhores deputados, (e o dele também, claro), férias de 90 dias para os deputados (e para ele também, lógico) conceder mais dois anos de governo ao Sr. Lula, sem eleição, mas sem direito à reeleição depois… etc e tal!! E a Constituição, vão rasgá-la novamente? Repito: e o nosso voto? Vão continuar desrespeitando? Votamos para que?? E o Exmo. Sr. Severino, hein?! Conforme a imprensa mostrou ele é um dos 10 mais ausentes a todas as sessões da Câmara. Patético foi assistirmos pelos jornais da TV o próprio senhor justificar o injustificável. Pelos argumentos que usou, teria feito melhor se conclamasse o silêncio em sua defesa. Deplorável. Os senhores deputados brincaram de votar, achincalharam uma eleição que deveria ser séria, e depois se puseram a rir como… “vitoriosos”… Derrotado, amigos, não foi  só o Governo não, que até deve ter merecido, fomos todos nós, povo brasileiro, eleitores que votamos em muitos dos senhores protagonistas daquilo que seria cômico se não fosse tão trágico mesmo. Lamentável em todos os sentidos. Não esqueçam, bons amigos, que o presidente da Câmara é um substituto eventual do Presidente da República na ausência deste e do seu vice. Ou seja, o ilustre senhor Severino ainda pode, algum dia, ou dias, presidir o nosso Brasil. É, nós devemos merecer, devemos ter um carma coletivo dos mais pesados, só pode ser isso. E o PMDB, hein?! Num dia estava com 94 deputados, 24 horas depois só tinha 20… Aí o PT voltou a ter a maior bancada da Câmara Federal com seus 91 deputados!! Ah estes subterrâneos dos poderes legalmente constituídos!! Dane-se o eleitor que vota no político, pois este acaba dançando de acordo com o ritmo de interesses outros. Trocam mais de partido do que jogador de futebol muda de camisa. Vergonha? Nenhuma. Querem mesmo provar que o poema por mim escrito em novembro/1999 poderia perfeitamente tê-lo sido hoje. O título é TEMPO DE CORVOS e foi registrado no Escritório de Direitos Autorais da Fundação Biblioteca Nacional do Ministério da Cultura em Outº /2000, com Certificado de Registro datado de 20.10.2000, junto com várias outras poesias: “Não, não é tempo de poetasÉ tempo de corvos, da gralha Que nos palácios se assoalha,Em úberes mananciais de tetasSufragam a sugação do comum,Em verborréia se espalhaAlvejando, desdourando, Exibindo em irônicos sorrisosO ludíbrio escabrosoDa indiferença, do tenebroso. Não, não é tempo de poetasÉ mesmo tempo de corvos.Versífero, vejo meus versos,Dispersos,  perseguirem algum sentidoNo injusto, no destrutivo,No lascivo, num universoPara poucos onde há muitos perdidos,Desorientados,  estuprados,Com o rumo e a vida profanadosE um abismo sem fundo nem reverso. Não, não é tempo de poetas,Pois, como falar de amor com a fome,De paz com a bala perdida,De fé com a mão estendida,De justiça com a força que esfola,De educação sem ter a Escola, De futuro sem ter a terra,De esperança sem ter o teto,De ordem e progresso sem o povo?É, são tristes tempos de corvos.

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